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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

17
Out24

7ª Temporada - "Vendesse" (1)


Comandante Guélas

As Viagens do Galeão “Vendesse”

1

"Vendesse"

Uma parte do acordo entre o Comandante Guélas e o Conselho da Revolução, que permitiu a independência de Paço de Arcos, mas com a condição de não dizer nada, proibia ofuscar os “Descobrimentos Portugueses”, uma brincadeira, com os “Descobrimentos Paçoarcoenses”, uma epopeia, durante 50 anos. E o tempo já passou!

Tudo começou quando o jovem Caveirinha, candidato a marujo, entrou na Secretaria do Porto de Cascais para registar uma embarcação, cuja terça parte lhe pertencia, sendo os restantes de proprietários indeterminados.

- Nome com que pretende registar o navio? – Perguntou a senhora insinuando-se com a prateleira.

-  “Vende-se”!

- “Vende-se”?? Não autorizado!

- Então, “Aluga-se”!

- “Aluga-se”?? Jovem, está a gozar com a autoridade marítima?

- Gozar com a autoridade dos mares, eu? Nunca, sou de boas famílias e vizinho do Milhas!

O futuro corsário Caveirinha coçou a cabecinha e retorquiu:

- “Vendesse”!

- Ah agora sim, um nome romântico, uma namorada francesa! – Disse a funcionária com um sorriso maroto e de novo com as poitas a jeito.

O Galeão “Vendesse” depressa se tornou uma lenda após o dono do um terço, o Caveirinha, tirar o “Curso de Pirata” no “Côco Verde” dos Castanhos, em Tavira. Foi lançado à água três dias depois do desembarque da “Invencível Armada” do Querido líder na Praia Velha, na presença das altas individualidades da vila-Estado de Paço de Arcos, nomeadamente, Sete Solas, Chora na Penca, Lucinda Careca, a nova Procuradora, Pinga Azeite e Coquicha. O padre Cândido abençoou a chata e o Comendador Daniel José Martins de Almeida cantou o Hino Nacional, o “É motorista”, acompanhado pela Fanfarra dos Bombeiros Voluntários, onde se destacou, a esgalhar a gaita, o Álhi, um homem da paz. E o primeiro milagre aconteceu! Quando o Galeão foi lançado à água, uma rajada de vento vinda diretamente das cuecas do Graise varreu o areal, lançando o Cinzento ao Tejo, tendo ainda reflexos para agarrar-se a um pano duma barraca, levantar voo, e trazer a reboque o “Vendesse”, inventando uma nova modalidade, o “Fodasse” (atual “Kitesurf”), que permitiu fazer logo naquele dia a primeira descoberta, o Areal do Bugio.

- Está cheio de ninfas, - gritou o agora corsário oficial de Paço de Arcos, o Caveirinha, para a tripulação, os marinheiros da 3ª classe do professor Coelho, Ratinho Blanco e Espalha.

À espera dos heróis não havia índios, porque estavam todos na Terrugem de Cima, mas sim gaivotas com a cara da Tita dos Pés Sujos, a grasnarem por sexo

Neste dia os Castanhos aperceberam-se da oportunidade de negócio, foram buscar o “Côco Verde” a Tavira, instalaram um potente motor de 4 cavalos, e inauguraram a carreira Doca – Bugio – Doca, até um dia ouvirem um peido, não do Velhinho, mas da máquina, tendo sido necessário chamar o reboque do SANAS. Foram recebidos como heróis na Praia Velha, tal como o Gago e o Sacadura no Rio de Janeiro.

28
Jun24

6ª Temporada - Bill em Melaka (14)


Comandante Guélas

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14

O Dr. Daniel José Martins de Almeida, o Afonso de Albuquerque paçoarcoense, surpreendia sempre a multidão de cada vez que falava em Kristang, o crioulo português de Melaka, província ultramarina de Paço de Arcos, Terra do Comandante Guélas.

- “Pink Inglish? Então give Toclantes”; “Ando à procura dum cheiro”; “Os meus óculos tem 7 diopias”; “É do knofe ou então do baçor”!

E foi para promover a região que o Querido Líder despachou o comuna mais comuna da vila, promovido a burguês após a derrota do Sul vermelho, o camarada-fascista Bill, como enviado especial. Para fazer prova da viagem, e dar descanso aos atletas do Futebol PA, o viajante enviou uma foto com uma inscrição:

“Padre Sa Chang, Gadra Nosa Tradisang”.

E a confusão instalou-se!

- Ele não foi para Melaka, está na casa do Milhas! – Denunciou o Titó ao Ministério Público, entregando o papel ao inspetor Joaquim Caça-Ratas. - A inscrição está escrita na parede da sala do beduíno, por cima da lareira.

O ex-vendedor de “Avantes” na estação de Paço de Arcos, mesmo convertido ao capitalismo depois da sua Blandina ter ganho a lotaria em parceria com o Milhas, mantinha os tiques do partido, a denuncia à PIDE (Polícia de Investigação e Defesa da Esquerda) seguia o exemplo do Barreirinhas quando teve camaradas a atrapalharem a sua ascensão ao PC.

- E a foto do cartaz “Festa de San Pedro”? – Questionou a autoridade dando, como era seu apanágio, o grito de guerra. – Mas que cheiro a Kona!

- Não é Melaka!

- Em Paço de Arcos a festa é ao “Senhor Jesus dos Navegantes”, e não a um pescador, porque caso o fosse era, ou ao Pé de Cabra, ou ao Pilequinhas, ou ao Bandeiras, ou ao Pau Preto dono do “CarauCarau”!

Nos círculos mais altos da política paçoarcoense, ou paçoarquiana caso pertencessem à nobreza, como o Pierre Pomme de Terre, marquês graças à farinha “Pensal”, o Bill estava a ser rotulado como um infando. Foram por isso chamados os Serviços Diplomáticos da Vila, afinal onde estava o Bill?

- Com esta foto de “Portalegre 1981” vou deslindar o mistério, - prometeu o Carlos Ponta – Eu, o Woodstock, o Tareco e o Branco, numa missão em Cuba.

Carregou no teclado e esperou!

- Tou!

- Rato ou a Ucraniana?

- A eslava está a cagar. O que é que queres?

- Informações sigilosas, o Bill deve estar a enganar o Comandante Guélas. – Sabes por onde anda o Woodstock?

- Woodstock?

- Aquele que tinha um Fiat azul e branco com a matrícula HV-32-18?

- Já podias ter dito a matrícula, o Zé Carlos, que nasceu no dia 2 de junho de 1959?

- Esse mesmo!

- A última vez que o vi era cônsul de Portugal em Benguela.

- Podes perguntar-lhe se sabe onde está o Bill?

Meia-hora depois:

- Está em Melaka nas “Festas de San Pedro” a vender “Heinekens”.

- “Heinekens”??? Mas isso consubstancia traição à pátria das “Super bocks”!

26
Set22

6ª Temporada - O Milionário (13)


Comandante Guélas

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13

 Um grande homem não procura liderar. É chamado e responde. Quando a Blandina chamou o Velhinho e mostrou-lhe as cautelas, o jovem recusou a terceira, alegando ser estatisticamente impossível ganhar algo com aquele número:

- Vou ser banqueiro, por isso tenho faro para o dinheiro.

E eis que chega o Beduíno, o paçoarcoense mais azarado da Costa do Estoril, e já só restava o papelinho rejeitado pelo superdotado, mais tarde acólito, perdão, alcoólico! Afinal, era o número da sorte, e o Cuzinho (vulgo Beduíno), reagiu mal ao prémio:

- Porque é que eu vim para este mundo?

Mal sabia ele que, além dos milhões, ganhara uma nova alcunha, e iria ser perseguido pelos amigos, que reclamavam agora um jantar:

- Porque é que eu vim para Paço de Arcos?

Mas teve a ajuda do “sogro”, que lhe levou parte substancial do tesouro para Espanha, dentro de lagostas e afins, deixando só uns trocos, que ele gastou numa refeição social no restaurante “O Tino”:

- Para que é que eu tenho amigos?

Seguindo a Teoria do Caos, a cautela do Azias (vulgo Cuzinho) acordou uns genes masculinos lá para os lados duma Brandoa indiana, Andra Praxede, que se apaixonaram pela Rama Prabha, rainha do porno canino, que teve consequências no Futebol PA. Mas antes disso o superdotado jogador de futebol que nasceu em Berlim, com cara asiática, ainda ganhou 3 prémios Nandi, óscares desportivos da cultura teluga, todos eles na categoria de “carcaça”. Por isso Paço de Arcos acordou um dia espantado quando deu de caras com um nome longe dos hábitos culturais do “Eletrogumitário”: Esferovite! Mas havia mais consequências na escolha azarada do Milhas quando o telefone vermelho do Inspetor Geral da República, Joaquim Caça Ratas, Sarapito para os amigos, tocou, e a autoridade policial máxima da vila-Estado de Paço de Arcos assustou-se lambendo a ponta do nariz:

- É o Pingamisú, - gritou do quarto ao lado um agente à beira de um ataque de nervos.

- Foi-se?

Do Pingamisú a vila iria recordar um fabuloso Selecionador Nacional de Futebol, responsável por talentos lendários, como Biblot, Fufa, Dic, e recentemente o Esferovite.

- Quem se foi, foi o Je!

- O guarda-redes que usava água de colónia da Tita dos Pés Sujos, que cheirava a Kona?

- Sim chefe, mas o caso do Pingamisú é mais grave.

- Pior do que a morte do Je?

- Muito pior, perdeu as chaves do carro do filho e está na Brandoa à procura do bólide, que estacionou em Freixo de Espada à Cinta, e o afilhado alemão está a ajudá-lo!

11
Jun22

6ª Temporada - Uma Vila Isotérica (12)


Comandante Guélas

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12

"Paço de Arcos Vila Isotérica / Terra do Guélanismo / Em cada esquina um profeta / Dentro de ti o Onanismo."

A canção revolucionária ecoava nos lábios da multidão, à medida que Mac Macléu Ferreira subia as escadas do palanque para receber o título de “SIR”, após a brilhante entrevista ao jornal Diário de Notícias, onde proclamara toda a sua fidelidade ao Comandante Guélas e aversão ao social-fascismo do Bill.

- O que eu perdi, - queixou-se baixinho a Lena Lentes, deixando cair uma lágrima.

- I have a dream, - gritou o agora SIR, apontando para uma parede distante, cuja frase, “Cantinho das Putas Velhas” não conseguia ler devido às dioptrias, que tinham sido fundamentais para a sua carreira de motociclista, onde sempre guiou por instinto.

Não lia a frase, mas distinguia perfeitamente o diagrama mágico ao lado, concebido pelo místico Focas das Docas.

- O “Monas Hieroglyphica” representa a alma de todos nós, duas bolas e um pescoço longo que termina numa cabecinha de grandes dimensões, com ranho a sair. O Monas junta 24 ideias para avisar o comuna Bill, e amigos vermelhos, da unidade da nossa vila-Estado em redor do Querido Líder, o Comandante Guélas.

Tudo estava descrito no “Livro das Maravilhas Paçoarcoenses”, por isso o Ratinho Branco era considerado um perito em elisão lexical. Quando o Comandante Guélas subiu ao palco, até os bêbados, a maioria, se levantaram:

- Todos os paçoarcoenses nascem para serem felizes. Trazemos isso sempre connosco. Se hoje for o vosso dia de abafar um comuna, que o seja. O meu só será amanhã, porque hoje vou partir a bilha à Quitéria, e amanhã partirão vocês à Espirro de Punheta, à Lucinda Careca, e a muitas outras heroínas que vos mudaram o óleo durante o combate às forças do mal comandadas pelo Bill. Não importa. O importante é saberem, lá no fundo das vossas cuecas, que hoje o nosso país está imune aos vermelhos peçonhentos. Vocês são a República Independente do Alto de Paço de Arcos, cada um de vós. Paço de Arcos sois vós. E é no espaço entre vós que cabem todas as fêmeas de cada esquina. Preenchei as suas cuecas, tornai-as palpáveis e apetecíveis, tornai Paço de Arcos impenetrável ao comunismo, - e o olhar do Querido Líder ficou vazio, sinal de que entrara no estado de transição, necessário para ir ao Manuel da Leitaria.

Nessa noite o Milhas adormeceu no carro do Pilas, embalado pelo barulho e movimento, numa ilusão serena de leveza que lhe punha as sobrancelhas oblíquas, até que acordou a ver o mundo às voltas pela janela do carro, com a sensação nauseante de estar a cair a alta velocidade. Foi nessa altura que, tal como acontecera à potestade de Paço de Arcos, o seu olhar ficou vazio e gritou:

- Porque é que eu vim para o Portinho da Arrábida?

Através da poesia o Bajoulo descobriu algum sentido para a vida. Um único poema escrito numa noite de verão numa das paredes do Bar “Cú à Vela” catapultou-o para o Olimpo. O “Jato de Amor” ficou para sempre gravado no coração de todos os paçoarcoenses, assim como o nome da musa, Tita dos Pés Sujos.

“Numa noite de copos / Com o meu chouriço rijo / O teu nome escrevi / Com um jato de mijo”

E houve um amigo do alheio que acarinhou a relação e ficou-lhes com as carteiras, o Pierre Pomme-de-Terre. Deram os primeiros passos culturais com latinhas do peditório do caranguejo ao pescoço, autointitulando-se os “Peregrinos Alcoólicos”, perdão, “Acólitos”.

- Ao princípio assustei-me, - confessou um dia à revista “Fuças” a Tita dos Pés Sujos. – A barriga do meu Bajoulo começou a crescer e eu pensei que o tinha engravidado.

Pierre Pomme-de-Terre era mais pragmático. Já lhe prometia um lugar na Feira de Paço de Arcos junto à mulher-cobra, mas acabou na roulotte de bifanas do Mocho, onde o Vale e Azevedo paçoarcoense cometeu o primeiro desvario.

- Queria fazer investimentos no Brasil, - confessou na entrevista para a sua biografia oficial, “Uma Batata no Topo do Mundo”.

Perante as trevas teve muitas vezes de escolher uma via, ou tapava a luz, para melhor desviar, ou acendia uma vela. Tapava sempre a luz!

09
Mar22

6ª Temporada - Barricada de 28 de setembro de 1974 (11)


Comandante Guélas

 

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11

O dia não era da mulher, porque não havia dessas paneleirices na vila-Estado de Paço de Arcos, mas sim do “Herói Viril Paçoarcoense”, cuja imagem representava o Conan Vargas, o “Stallone da Costa do Estoril”. Desta vez o homenageado seria o Presidente do Futebol PA, um veterano da guerra contra os comunas. As festividades decorreram no Centro Cultural da Vila, o Chalé da Merda, e começaram com a exibição de uma longa metragem, “Raçudos de Duas Rodas”, uma prova de motocross no Alto de Paço de Arcos, onde se destacou a lenda viva Mac Macléu Ferreira, “loirinho caixa-de-óculos” para as fêmeas, onde se incluía um capitão, que arrasou a concorrência montado numa Zundapp com carenagem de competição feita com os caixotes do senhor João da Fruta, seu patrocinador.

- Nunca vi nada assim, - confidencia ao “É Motorista”, Revista Oficial de Motociclismo de Paço de Arcos, ocupando todo o écran, o Massadas, campeão nacional do país vizinho.

- Ainda estava a dar ao Kico na rua Visconde de Porto Salvo, junto à casa do médico onde todas as noites o Peidão e os vizinhos tocavam à campainha e quando o senhor atendia queixavam-se, "senhor doutor dói-me os tomates e a ponta da picha", e já o Mac subia o monte, com a cabecinha ao léu, em direção ao Alto do Lagoal, - diz o Miguel Pimenta.

- Com aquela carenagem futurista a minha Honda Elsinore parecia a mota do primo surdo-mudo do João da Quinta, - retorquiu o Fernando Ferrão.

Após a sessão a festa continuou no Bar “Cú à Vela”, e a estória que iria ser contada era a famosa “Barricada de 28 de setembro de 1974 em Paço de Arcos”, o equivalente à Maria da Fonte em Portugal.

- Tudo começou na Marginal em frente à Escola Náutica quando o gangue do Bill resolveu bloquear a circulação, - principiou o Presidente do Futebol PA. – Foi um sinal de Deus para ter de agir em nome da Pátria Paçoarcoense, - e olhou fixamente para o seu amigo do lado, o Choné, em representação do seu vice-presidente, o Espiga, que tinha ficado detido no lar por ter tentado abusar de uma enfermeira anã moldava no momento em que esta lhe mudava a fralda.

Tudo tinha começado com uma ideia empresarial do sempre genial Pierre-Pomme-de-Terre, que convencera os social-fascistas do Sul de Paço de Arcos de que os burgueses do Norte estavam a encher Cascais de armas, e por isso deveriam ser barrados no Cantinho das Putas Velhas, à entrada da Marginal, junto à Praia Nova. E para não esmorecer o fervor revolucionário foi necessária comida, por isso o Vale e Azevedo paçoarcoense contratou o Mocho, que trouxe a roulotte de bifanas, com o empregado Bajoulo lá dentro, e cada um com uma latinha amarela com um caranguejo desenhado, para coletarem “dádivas para o partido”, cujos rendimentos seriam guardados pelo benemérito. Até conseguiu ficar com metade dos lucros das “meninas velhas”, que aumentaram o ritmo das “chupas revolucionárias”. O Presidente e o Adjunto Espiga apresentaram-se na barricada como inspetores do partido, comeram de borla, e quando a noite caiu mandaram parar um carro, alegando que precisavam de uma boleia para ir defender Cascais de um ataque antirrevolucionário. Mais tarde regressaram a Paço de Arcos com o mesmo argumento. Aqui a plateia levantou-se emocionada com o discurso do velho, bateu uma salva de palmas e cantou o hino nacional da vila-Estado, o “É Motorista”.

15
Fev22

6ª Temporada - Os RosaCruz (10)


Comandante Guélas

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10 

Fernindó, o poeta coxo de Paço de Arcos, foi encontrado sem vida debaixo de uma chata na Praia Velha, em 20 de julho de 1955, com um rolo de papel higiénico cheio de poemas. O seu congénere arménio Calouste também deu o berro neste dia, mas numa suite diferente, no número 52 do Hotel Aviz. No interior do “Aries” a luz do candeeiro da iluminação pública mantinha-se intacta, por isso fez resplandecer a cor dos tomates do Focas, agachado a fazer um soberbo cagalhão.

- Cagar é aquele espaço dos meus dias onde gosto de viver!

Pierre Pomme-de-Terre, filho do Barão Petroni, título saído num sabonete da Couraça, já tivera vários nomes, uma tradição do ramo profissional, o “descaminhamento”, evitando assim pecar, chamando em vão ladrão a alguém que tivesse de sair do país à pressa. Em face disto o grande artista do alheio paçoarcoense, o Vale e Azevedo de Paço de Arcos, como orgulhosamente o chamava metade da vila que não caiu no seu conto do vigário, tinha inúmeros perfis com licenciaturas várias em engenharia, como todos sabiam, principalmente o Focas, o primeiro a ser informado, pelo próprio, uma prenda de anos, do doutoramento do Pierre Pomme-de-Terre. Na nova página do Face Book dizia-se ser aborígene, do clã mandjalpingu (djimba), pertencente ao yolngu, com casa no Território Norte, onde vendia terrenos na Lua, mais propriamente na Cratera Von Kármán na bacia de Aitken, no Pólo sul, o lado oculto, através de escrituras pré-pagas on-line. Andava sempre com uma camisa verde com quatro bolsos.

- Meus queridos amigos, cada um destes bolsos representa uma virtude, - e apontou. – Honestidade, Justiça, Probidade e Humildade. É por isso que me vou candidatar à presidência da Liga Portuguesa Contra o Cancro, deixando estas latinhas, que fui buscar à casa da mãe do Peidão, neste estabelecimento, prometendo entrega-las cheias de ar, perdão, cheias com as vossas moedas. Bom Natal!

Enquanto isso o Dr. Cinzento, o único médico que punha mamas a todos os sinistrados que lhe caíssem nas mãos, lia o relatório médico da OCDE que informava que Portugal, o país vizinho, tinha uma prevalência de perturbações mentais de cerca de 23%, quase uma em cada quatro pessoas, sendo um dos recordistas no consumo de psicofármacos e antidepressivos.

- Do que nós nos escapámos, ainda bem que o Comandante Guélas declarou a independência daqueles malucos, - desabafou para o General Tubarão que estava sentado ao seu lado.

- Os teus pais são médicos, se mmmmmm. mmmmm... me trouxeres todos os remédios qq qqqq qqque que que o nome aca.. aca.. acabarem em" x", eu compro!

A vila-Estado de Paço de Arcos era uma ilha de liberdade, estabilidade e poder económico, que dizia a Portugal o que devia fazer, como no passado tinham feito os castelhanos. Desde o dia 28 de maio de 1974 começara a mamar nos peitos do vizinho socialista, tendo conseguido excitar todos os dotados. Em 1865 Algés já não comportava mais população, tinha 77 almas penadas, por isso o avô do Chato Louco decidiu, e bem, ir viver para Paço de Arcos. Graças a este visionário a vila-Estado ganhou um dos mais famosos “Cagacruzes”, ordem secreta isotérica cujo símbolo era um cagalhão em cima de uma carteira de fotos de passe da Jomarte. Nos finais do século XIX a Praia Velha era frequentada pela alta sociedade paçoarcoense, e foi lá que apareceu, um século depois, a uma resma de adolescentes, tal como em Fátima com os pastorinhos, por geração espontânea, debaixo de uma chata de um familiar do Velha, o maior cidadão de todos os tempos, Daniel José Martins de Almeida. No tempo do veraneio o Dr. Cinzento, uma sumidade na saúde do povo, preconizava banho de mar para fortalecer a raça paçoarcoense, águas estas que foram mais tarde reforçadas e aquecidas com a construção do Chalé da Merda. Os Rosas e os Cruz, habitantes ilustres da Praceta, onde vivia a intelectualidade da vila-Estado de Paço de Arcos, o Grilo, o Taka Takata, o Velhinho, o Marreco, o Velha, o Pilas, o Pica, o Tio Kiki, uniram-se e formaram a seita mais famosa da Costa do Estoril, os “RosaCruz”, com santuário na Jomarte. Por isso o Bigornas pendurou na porta um letreiro para afastar os indesejáveis clientes: procul hinc, procul ite profans (fora daqui, fora daqui profanos). Quando a Tita dos Pés Sujos, uma mulher de trajetos curtos, que ia do aquário das santolas à panela da cozinha, conheceu o seu Bajoulo, alargou os horizontes, passou a cruzar bares, tascas, acumulando um significativo pecúlio de vivências que soube converter em amor.

08
Dez21

6ª Temporada - Pinetree Group (9)


Comandante Guélas

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9

A participação das mulheres na Revolução do Comandante Guélas é um caso único na História Universal. Quitéria Barbuda desceu à vila de braço dado com o Craveiro Lopes, e esmagaram a comunidade social-fascista liderada pelo Bill da UEC. A Tita dos Pés Sujos esfrangalhou a bandeira vermelha que o Titó insistia em pendurar na árvore mais alta da Avenida, usando as unhas negras das suas faluas com verdete arrancado ao marisco do pai Xantola. Desceram da montanha várias coronelas a comandar pelotões de libertadores. A mais famosa foi a Espirro de Punheta, que passou clandestinamente debaixo do verme Titó e deu-lhe um puxão nas bolas.

“Do alto da abrupta serra

Acampado se encontrava um regimento

E uma moça boazona os seguia

Loucamente apaixonada pelo Bajoulo sargento

Popular entre a tropa era a Tita

A mulher que o sargento idolatrava

Porque, além de boazona, cheirava a marisco

E até o Comandante a desejava!”

A revolução paçoarcoense foi um caldo político e social sem igual na História de Portugal, os Guélanistas, os Bilistas, os Ánhuquistas, os Milhas, os Cambeiros. O Pierre Pomme-de-Terre foi transversal a todos, tanto vendeu “Avantes”, como lhes limpou o cu, tendo lançado as raízes do projeto “Pinetree Group”. Ora desancava no Pontas falando sozinho no balcão do “Klass”, “o irmão dele é que era um gajo porreiro, este não interessa a ninguém, até casou com uma empregada minha, é um menino, o Caveirinha sim, era um gajo 5 estrelas, este não presta”. E quando saiu entrou num BMW 530 de 6 cilindros, gamado a alguém, como era tradição. Paço de Arcos esteve durante seis meses após a revolução de abril de 1974, metido num caldo político e social absolutamente fabuloso, que acabou com a passagem do Bill para o capitalismo, e a inauguração do “Pinetree Group” em Nova Iorque. Quando o cidadão chinês entrou na imobiliária em Nova Iorque, deu de caras com o Diretor-Geral e isso deixou-o satisfeito. Não era todos os dias que um engenheiro civil formado no Instituto Superior Técnico se dava ao trabalho de receber um cliente, ainda por cima amarelo. Pediu-lhe um minuto para finalizar a conversa ao telefone com um líder de um país estrangeiro:

- Tretye otdeleniye sobstvennoy yego yimperatorskogo velichestra kantselyarii Comandante Guélas (tradução: “Terceira Secção da Chancelaria Imperial de Sua Majestade Comandante Guélas”).

O chinoca ficou encantado, e descansado, tendo aproveitado para filmar o desempenho do paçoarcoense Pierre Pomme-de-Terre, Diretor-Geral do “Pinetree Group”, com sede em Nova Iorque, que, quando se olhava no espelho, via que tinha olhos cinzentos azulados, por isso dizia que era um visionário na contabilidade, que o fazia andar sempre com os olhos brilhantes, “não consigo viver sem aliviar alguém”. O Kit Jones, jovem promissor da UEC, foi a sua primeira vítima. Comprou-lhe um chalé burguês na Terrugem de Cima:

- Mas isto é uma barraca, - reclamou o comprador.

- Mas não deixa de ser um chalé, só que em vez de relva tem couves!

Quando a chamada acabou, olhou para o chinês e perguntou, com sotaque da Califórnia, que aprendera com o radioamador mais famoso da vila (“my name is Vasco and I love Xana”), cujo código da Banda do Cidadão era CT1OY (Cê tê um ó i grego):

- How are you? My name is Pierre and I Have “Petroni Towers” to send to you!

- “Petroni Towers”? Where?

- Paço de Arcos!

E vendeu-lhe as ruínas do novo restaurante o “Tino”, embargadas por excesso de volume, vinte vezes mais pequeno do que a faustosa construção do vizinho galego. Quando os outros apontavam para o céu, a maioria olhava para o dedo, o sábio Pierre Pomme-de-Terre via sempre algo para vender. Era cabeça de cartaz do TSOR e das suas congéneres internacionais!

27
Nov21

6ª Temporada - Magia Paçoarcoense (8)


Comandante Guélas

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8

O golpe militar desencadeado na madrugada de 28 de maio de 1975, imprimiu um novo rumo à realidade paçoarcoense, que viria a reestruturar por completo o corpo social, político e económico de Paço de Arcos.

- És melhor que a Bo Derek, - disse o Capitão Porão, piscando o olho ao adolescente Luís de Espanha.

Não houve um “babyboom”, como é costume após todas as revoluções, mas um “magicboom”, apareceram, por geração espontânea, mágicos em todos os cantos da nova vila-Estado. O Ratinho Blanco fazia magia com a tripa na parte sul, comia uvas inteiras e fazia cagalhões sem grainhas. Quando lhe disseram, no Manuel da Leitaria, que era familiar do Procópio de Freitas, passaram-lhe a fazer continência e promoveram-no a general, tal como no país vizinho, Portugal, ao Otelo. Na Terrugem de Cima um dos dezassete filhos do Manelinho da Carroça quis exercer de imediato o levirato, mas o pai antecipou-se. O Bajoulo tinha as cuecas cheias de yersenia pestis, borgalhotas e cabacinhas, por isso fazia magia quando as baixava, para pôr o cú à janela, de cada vez que a “Deusa”, GZ-65-33, o Citroen Dyane do Mac Macléu Ferreira, passava à porta do Estoril Sol, os amigos punham as cabecinhas de fora do outro lado, e vomitavam. O Milhas sofreu o harém, por isso perguntava sempre:

- Porque é que eu vim para este mundo!

Noutro canto da vila a magia era outra, os números, e o mágico tinha um nome, Pierre Pomme-de-Terre. Convencera um incauto cidadão, dono de uma cadela pastor-alemão, de que a condessa Karlotta Liebenstein andava à procura de uma menina para o seu herdeiro, o Gunther II, um boche peludo de 4 patas que estava hospedado no jardim dos pais do Bajoulo.

- Por 100 contos levo-te lá e a tua Kiki fica prenhe de um boche com tomates de ouro.

O negócio foi concretizado, e no dia da cópula, ao dirigir-se para a casa do general, fez um desvio pela praceta e distraiu-se. O Fiorde sentiu o cheiro agridoce da menina e colou-se. O dono desesperado tentou separá-los à paulada e à mangueirada, mas o dano já estava feito, nasceram dois machos quadrúpedes paçoarquianos, o cão com orelhas de burro do Zé Maria Pincél, o Tejo, e o cão com um tufo num olho do Milhas, o Sinai. Quanto ao Gunther II e ao Pierre-Pomme-de-Terre, evaporaram-se.

04
Nov21

6ª Temporada - O TSOR (7)


Comandante Guélas

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7

A morte do médico José Lourenço da Luz Gomes em Paço de Arcos no ano de 1882, iria ter influência, 93 anos depois, na criação do TSOR, Tribunal do Santo Ofício da República Independente do Alto de Paço de Arcos. Por isso na vila-Estado o carteiro tocava sempre duas vezes na casa dos 10 irmãos, “o paraíso na Terra”, e mais tarde para o Capitão Porão:

-Curtis!

O Alpedrinha era um paçoarcoense que, quando ouvia os amigos, o fazia com um lápis na mão porque, dizia, “podia dizer melhor enquanto o Todo Língua tinha um nome que se confundia com a voz”. O Comandante Guélas aproveitou-se destes talentos naturais e criou uma agência de segurança, o TSOR, Tribunal do Santo Ofício da República Independente do Alto de Paço de Arcos (RIAPA), de quem os barbeiros da vila passaram a fazer parte, como informadores. E a técnica usada era a Frenologia, que detetava o estado político do cliente através da palpação da mona. O senhor Bandeira foi o primeiro a percorrer lentamente a topografia dum cliente, o Tolas Monas, com os seus dedos e a palma das mãos, e no final do dia entregou um relatório ao TSOR, onde dizia que “a união dos ossos do crânio na parte superior da cabeça era ligeiramente proeminente, sinal de confabulador persistente”. O paçoarcoense dizia-se possuidor de várias licenciaturas, que o possibilitavam trabalhar em todas as profissões da vila-Estado e arredores. Mais tarde o Zézito, que namorou em adolescente com um rapaz de Paço de Arcos, imitou-o quando chegou ao governo de Portugal, o país ao lado. Mas o barbeiro queixou-se de que perdera muita clientela nesse dia por causa da dimensão descomunal da cabeça, por isso debitou na conta o equivalente a cinco clientes. Outro agente, o João Balão, olhou o Pierre-Pomme-de-Terre nos olhos antes de avançar com a tesoura em direção à franja, e notou uma depressão no lobo parietal esquerdo, sinal de estar em presença de um “cleptoparasita por afinidade”, tendo notado o desaparecimento do seu cachucho de oiro ao final do dia. Meia Paço de Arcos, e o peditório da Cruz Vermelha, iriam sentir o efeito da cabeça deste Vale e Azevedo paçoarcoense. E um dia trouxe um amigo francês, “um conde” apresentou-o levantando-lhe a mão e mostrando o seu anel de sinete, que seria entregue ao fim da tarde na ourivesaria do Carvalho, o recetador dos famosos e fanhosos. Mas o sinete ficou lá pouco tempo, o conde foi busca-lo no dia seguinte, deixando uma carrada de chumbos na perna do empresário. O franciú chamava-se Xavier Dupont de Ligonnés, e mal o barbeiro colocou as mãos na sua cabecinha queimou-as, e gritou, “este vai aviar, mais dia menos dia, a família, incluindo os cães”. Quem analisou a nuca do Ánhuca foi o Palitó, a segunda vítima do “cleptoparasita por afinidade”, que lhe vendeu uma caçadeira com os canos tortos, alegando ser para abater coelhos nas curvas. Detetou um alto no cocuruto do cliente, sinal de ser um “violador compulsivo de ovelhas”. Por isso na Terrugem de Cima os vizinhos foram avisados para pastarem presencialmente os seus animais. A vítima acabou por ser a Farrusca, a cadela do Milhas, que estava em fuga do Janeca que queria fumar-lhe os pelos da cauda, cujos filhos nasceram com tufos nos olhos e orelhas de burro, como o cão do Zé Maria Pincél. Na vila-Estado o único verdadeiro lúbrico da Costa do Estoril era o Ginja, tinha uma parceria com uma garoupa, a Sapo, que o avisava quando um cardume de patarecas entrava na vila. Adorava pastoreá-las com o seu cacete, mas antes disso ia sempre arranjar a popa ao barbeiro mais perto. E um dia quando o agente Bandeira pôs as mãos na sua cabecinha notou logo estar na presença de um paçoarcoense lascivo, um cobridor, que encheu de orgulho o Querido Líder:

- Precisamos de gente com estes genes!

A Ordem da Jarreteira, cujo símbolo é uma liga azul sobre um fundo dourado, e tudo graças ao Eduardo III de Inglaterra, um rebarbado, que um dia foi gozado num baile ao apanhar a liga da amante e que disse:

- “Aqueles que se riem agora com malícia ficarão um dia profundamente orgulhosos de poderem usar um símbolo como este”.

Há uma equivalente no reino do Comandante Guélas, a Ordem do Grande Bajoulo, cujo símbolo são umas cuecas de buda amareladas sobre um fundo também ele dourado, simbolizando a peça de roupa íntima que o meio alemão meio paçoarcoense se esqueceu no jardim da casa do pai do Sarapito. Quando o Bandeira passeou as mãos pela cabeleira do irmão do Bakau, que ia sempre no verão na sua Honda 50 para o Algarve “foder à cagão”, ficou com os dedos cheios de borgalhotas. A nuca do Bill era ardente, indicação de ser um “perigoso comuna”, o seu processo foi para a gaveta dos social-fascistas da UEC, e condenado a jogar no Futebol PA, um campo de reeducação famoso!

31
Ago21

6ª Temporada - Easy Riders (6)


Comandante Guélas

Motas.jpg

6

O maior motociclista de todos os tempos na vila-Estado tinha um nome, Mac Macléu Ferreira, por isso a toponímia recordava-o para memória futura: Avenida Mac Lula, Praceta do Ferreira, Rua Macléu, Largo do Caixa de Óculos Loirinho. Mas na Terrugem de Cima, junto ao Beco das Pias, havia a Praceta do BigMac, cuja legenda dizia “só eu sei conduzir em duas rodas”. E o que conta a Verdadeira História de Paço de Arcos sobre esta personagem que dizia viver no Poço do Inferno? Classificava-o como o Arsène Lupin da Costa do Estoril e arredores. E foi por causa de um encontro do terceiro grau em 1975, trauma que nunca conseguiu superar, numa noite muito escura junto ao Luz Bay Club, que o pescador Tóni Monga se apresentou em 2007 na esquadra de Lagos a dizer que tinha visto a Maddie:

- A miúda ia enrolada num dos colchões azuis que o futuro pai do Maninho Ensina levava debaixo dos braços. Mas mesmo encadeado por um projetor, ainda lhe vi os pés tipicamente ingleses! Passaram por mim à velocidade do som, ouvi o barulho ensurdecedor dum peido, numa Hércules 50, que só podia estar a ser conduzida por um profissional. E deixaram cair uma garrafa da UCAL, de chocolate, nada mais!

O Todo Boneco também tinha fama, não nas duas rodas, mas no uso das duas bolas. Era o predador de sopeiras com calipígia mais elegante e digno da vila-Estado de Paço de Arcos, comia exatamente o necessário, nem mais nem menos.

- Uma pandeireta por dia dá tesão e fá-los encher!

A Hércules do Necas, tripulada pelo Focas, que levava o Caveirinha à pendura, tinha acabado a viagem num cruzamento em Santo Amaro de Oeiras, contra um Peugeot 504.

- Vi dois imberbes a voar à frente do meu para-brisas, - declarou o velho às autoridades, que o prenderam por “alucinação alcoólica”, uma nova lei do Chefe Bigodes.

O problema do momento era a praga de Mobylettes e afins na vila-Estado, que comprometia o trânsito:

- Demoro uma eternidade a ir do Manuel da Leitaria à Avenida, - queixou-se o Professor Coelho às autoridades, olhando para o Olho Vivo montado na sua Maxi-Puch azul pipi, seguido pela do Chinês, sem pedais e com escape de rendimento, da futurista Sachs 2 do Monhé e da Honda do Pilas.

Foi na tarde de um sábado solarengo que o Choné arrancou do café Piccadilly na sua Cabalero Amarela de 50 cm3 com 6 velocidades, mais não foi longe, junto ao café Yolanda, na outra ponta da praceta, marrou na frente esquerda de um Datsun 1200, voando por cima do capot, em cuja queda deixou um tufo de cabelos no alcatrão. A assistir à cena estava o Filho do Presidente, o BigMac e o Manuel Elétrico, que comentou:

- A andares assim de mota vais chegar aos quarenta careca!

Foi de imediato sancionado com um estalo pelo BigMac:

- Não te admito que desejes que o meu amigo Choné chegue à meia-idade coxo e careca, ó Rabinho dos Bosques!

Meia-hora antes, ainda com o Choné na esplanada, o Manel Elétrico dera show ao tentar arrumar o carro junto à drogaria:

- Pôr a marcha-atrás com a manivela das mudanças enfiada no cu não deve dar muito jeito, - exclamara o Filho do Presidente.

Mas a notícia principal da Voz de Paço de Arcos foi dada em julho de 1975, quatro easy riders de 50 cm3 e de nacionalidade paçoarcoense, a caminho do Algarve, com tendas e mochilas. A entrada no cacilheiro do Cais do Sodré não passou despercebida, o Primo João Choné numa Casal 5, o Jorge LC montado numa Sachs 5, o BigMac na sua Casal 5 e o Choné na famosa Cabalero. O itinerário levou-os até Santa Margarida do Sado, onde desviaram para Alvalade em direção ao Cercal. A ponte de Vila Nova de Milfontes foi depois construída à pressa, porque o Comandante Guélas ameaçou conquistar a zona caso os seus easy riders não tivessem a vida facilitada no ano seguinte. Ainda foram obrigados a dormir num saco-cama no meio de um pinhal cheio de mosquitos, papel higiénico, camisas de vénus e cagalhões, e comerem salsichas com pão. Acordaram com o sol a queimar-lhes os corpos, tenrinhos para o Rabinho dos Bosques, que seria depois reforçado pelo Capitão Porão, tomaram café no Cercal e arrancaram para Odemira. Na hora de almoço pararam na bomba de gasolina do Rogil, a 30 quilómetros de Lagos. E eis que 3 GNR entraram no café armados em autoridade e perguntaram:

- De quem são aquelas motas que estão ali fora?

- São nossas, - respondeu o Choné levantando o braço.

- Documentos!

Vivia-se num tempo em que os chuis podiam roubar à fartazana, por isso um deles meteu os livretes no bolso e ordenou:

- Venham até à esquadra de Aljezur, atrás do jipe!

Pararam na rampa que subia para a igreja e foram convidados a entrar para duas celas gradeadas, com vista para o casario. O da Cabalero e o da Sachs 5 numa, os das Casais noutra. E quando o interrogatório começou ouviram o barulho de uma Honda 50 e viram a silhueta de papagaio do condutor, mas mal sabiam que era o Bacaus, um paçoarcoense que todos  os verões rumava a Lagos com a promessa de ir “foder à cagão”. Iriam ficar com os restos!

O dia acabou na vila-Estado de Paço de Arcos, o Graise dera boleia ao Peidão na sua Maxi-Puch, ambos com as cabecinhas ao léu, e na rua Lino de Assunção, em direção ao Matadouro, foram detetados por dois cabeças de giz que lhes deram ordem para parar. O condutor simulou não ter os travões adequados para parquear onde os chuis tinham indicado, simulou que estava a travar também com os pés, mas quando passou pela autoridade acelerou. No seu encalço foi um agente a espumar da boca, de braço esticado a aproximar-se do Peidão, que lhe fazia manguitos encorajadores, mas felizmente o peidociclo atingiu a velocidade máxima e deixou o perseguidor para trás!

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