2ª Temporada - O Primeiro "F" (2)
Comandante Guélas
2ª Temporada
Episódio 2
- Um dia ainda hei-de ser primeiro-ministro de Portugal, - prometeu o Zézito ao seu namorado paçoarcoense, dando-lhe um beijo lambuzado junto ao coreto da Avenida, outrora quartel general dos vencidos.
As modernices permitiam isto, a influência do Capitão Porão sobre a juventude era grande, havia certas personagens voláteis a quem não era aconselhável hostilizar. Por isso o Nando Maluco continuava a premir o gatilho da sua “Diana”, com a mesma facilidade com que o fazia durante a guerra da secessão de Paço de Arcos de Cima. O Comandante Guélas prometia agora os três pilares do seu regime, os “Fs” que iriam pacificar a população, e que enterrassem de vez a alienação que a comunistada tinha sujeitado o povo do sul.
- Comuna é comuna, nunca muda, mesmo se se pintar de branco - gritava de cada vez que via o Titó na estação.
Os seus discursos anti social fascistas cruzavam-se sempre com os disparos da sua menina. Mas o Titó mudara, deixara de vender o “Avante”, e só usava a gare para apanhar o comboio para Cascais quando ia passear com a sua amada Blandina, irmã do Frederico dos Jornais, que ficara com as frações vencedoras da lotaria, que o Milhas rejeitara. Com acesso a uma conta burguesa, este ex-general do exército derrotado do Sul de Paço de Arcos afastara-se do proletariado e abraçara agora a causa capitalista. Ao fim da tarde o Coreto da Avenida era aberto ao público para que todos pudessem participar no programa de reabilitação fomentado pelo Querido Líder, o “Verdade e Consequência”!
- Estou morta por dentro, mas de pé como as árvores, Espalhinha – costumava confessar a agora Marquesa Maria das Bicicletas, ex - La Pasionaria, consumidora comunista das ervas do retornado Alice.
O título nobiliário fora-lhe vendido pelo Pierre Pomme-de-Terre, que lhe garantia que a assinatura que autenticava o documento era do seu estimado pai de sangue azul. E como a vila era agora democrática, graças ao Comandante Guélas, ela foi a primeira paçoarcoense a entrar em greve, por incitamento do sindicalista Bill, tendo-se recusado a dar à bomba durante uma semana.
- Liberdade, Fraternidade e Igualdade, - pedia o Milhas, sem muito sucesso, pois nem os irmãos o queriam reconhecer como tal.
Mas algo estava para acontecer, e não foi pouco. Foram tantas as vezes que o Lopes, canídeo do poeta oficial o senhor Daniel Martins de Almeida, evacuara junto à base do busto do Patrão Lopes na Avenida, que acabou por nascer uma plantação de Armillarias que um dia, devido às suas características de bioluminiscências, um fogo-fátuo iluminou uma noite escura, na altura em que o Craveiro Lopes passeava aos “ésses” com a sua amada Quitéria Barbuda, e o amante desta, o Russo:
- Vê Filipe, o velho está a peidar-se, é milagre, é um sinal do Além.
Saíra o euromilhões ao novo regime, Paço de Arcos também tinha a sua Fátima, e três testemunhas no mesmo estado etílico dos pastorinhos. Foi este o primeiro “F” (de flato) da gloriosa vila de Paço de Arcos.