2ª Temporada - Educação Guéliana (6)
Comandante Guélas
Episódio 6
Com a libertação da vila de Paço de Arcos das garras da comunistada, o Comandante Guélas, o Querido Líder, liberalizou a educação da juventude paçoarcoense, que cantava agora sempre o “É Motorista” no início de cada aula, tendo entregue o ministério à única pessoa com formação para tal, o pai da Ínclita Geração, o Chato Louco, o 33 e o Baí, que tinha o apelido de roedor e o hábito de beber meio-gordo branco antes de debitar a matéria:
- Quegues tguês cagcaças, Baptista?
- Sim, faxavor!
- São tguês e tguezentos. Tens Tgocado?
A história de Paço de Arcos é um bordado com muitos começos e sem fim, por isso nas Assembleias Gerais do Clube Desportivo de Paço de Arcos, que começavam sempre com demonstrações de mortais executados pelo Pequeno Rato, o equivalente ao Pequeno Saul de Portugal, cada membro da mesa tinha à sua frente uma garrafa de Água do Luso (Ph 5,7 ácido), todos? Todos, não! A do Professor Coelho era Vidago (Ph 9,5 alcalina), mas de cor amarela e com um Ph negativo, e um cheiro a bagaço rançoso. E foi por ter um cheiro característico que a escola do Professor Coelho, por cima da Dáni, foi a responsável por uma praga de engenheiros: Tubarão, Balatuca, Grilo, Ratinho Blanco, Pingalim, e muitos outros nomes que deram fama à única Vila – Estado da Península Ibérica. No Quartel dos Bombeiros o formador Álhi transmitia as suas vivências ao Agostinho:
- Sempre que deres de caras com um cadáver, manda as pessoas afastarem-se, para ele poder respirar!
Mas o adolescente bombeiro ainda trazia na alma um borrão existencial, o Bullying diário com que os colegas da escola Dionísio Matias o presentearam durante anos: “Augusto pra cagar / foi um custo / Pra dar um peido grande / foi um instante”.
E foi durante uma necessidade fisiológica imprevista, atrás de uma figueira na Terrugem de Cima, que o matemático mais famoso da vila, o Ánhuca, deu de caras com os teoremas da incompletude escritos no papel onde iria limpar o cagueiro, e compreendeu que a diferença entre os habitantes do norte e os comunas do sul eram abismais. Se os de cima tivessem estado sujeitos aos mecanismos darwinistas da evolução, que eram demasiado lentos, não tinha havido tempo suficiente desde a origem da Terra para gerar o Janeca.
- Nada na vila de Paço de Arcos acontece por acaso, - defendeu o incendiário nas horas vagas. – A mão do Comandante Guélas é subtil devido à sua majestade.
Tal como o render da guarda real se tornou num espetáculo diário em Londres, em Paço de Arcos havia o Ben-Hur, que todos os dias subia a rua Patrão Lopes em pé na sua carroça, a dar gás ao macho e escoltado por quatro rafeiros que corriam atrás, porque caso não atingisse a red line após a passagem de nível, o rodado de metal que protegia as rodas de madeira patinaria na subida seguinte, e o bólide arriscava-se a fazer marcha atrás involuntária, arrastando o bicho para a linha férrea. Inspirado neste Caio Apuleio Diodes paçoarcoense, o Querido Líder anunciou uma nova política desportiva para Paço de Arcos, que iria estender-se a outras modalidades, por isso foi num jogo de hóquei entre a seleção de Paço de Arcos e o Resto do Mundo que o Querido Líder deu a boa notícia, rodeado pelos mais famosos atletas das quatro rodas: Bacalhau, Pé de Cabra e Pernas de Alicate.
- Já temos Hino Nacional, o “É Motorista”, e a partir desta data também existe o Hino Olímpico, o “Nizinho da pistoleira, tão pequenino já toca à mangueira”!
Foi lançada a primeira pedra do Clube Académico Torpedo, cujo responsável iria ser o paçoarcoense Sete Escadas, que decretou os “Caetanos” do senhor Américo como Património Imaterial de Paço de Arcos. O primeiro a registar a patente de um jogo original foi o Titó, um ex comuna rendido aos benefícios da liberdade guélanista:
- São dois contra dois, separados por uma rede, e o jogo consiste em atirar uma bola de ténis com frigideiras nas mãos.
- Fica registada a ideia, brevemente o jogo será apresentado no Sanatório de Carcavelos. Neste momento a primazia vai para o Futebol P.A., o jogo mais viril da Costa do Estoril.
Foi aplaudido de pé pelo Esgravulha, filho de Luduvicus Petrus Crespo, jogador de andebol do Clube Desportivo de Paço de Arcos e da Seleção Nacional, e mano da Crespa, também atleta da mesma modalidade.
O dia acabou na Avenida, com o Varetas, o bisneto do Patrão Lopes que nascera com a cara da avó na altura do velório, também conhecido por Velha, a chorar junto à estátua do familiar, abraçado ao primo, o Pilequinhas, emocionado por ter mudado de profissão, de Dr. Pescador Artesanal Encartado para Professor Doutor Ajudante de Mecânico nas Oficinas Municipais