3ª Temporada - Férias na Casa do General (6)
Comandante Guélas
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Portugal tem as “Armas e os Barões assinalados”, Paço de Arcos a máxima imortal do Guélas, “Mosquito maldito sai da borda do meu casaquinho”, um jovem adolescente que, tal como Lázaro, foi dado como morto pelo Choné e ressuscitado de imediato pelo Sobrinho do Isaltino. E por falarmos de figuras públicas, convém não esquecer da Ju da Jovinela, e o seu mini, que causava ereções ao jovem vizinho Fininho, de cada vez que via o carro. Foi com esta funcionária, praticamente da CP, que o também adolescente Menino Élinho aprendeu a montar! Após a libertação da vila o Sul de Portugal passou a ser o destino da juventude guéliana, que era obrigada, durante o regime social fascista do Bill, a cumprir serviço cívico nas férias de verão no campo de trabalho da Fontainhas, cuja tabuleta dizia, “O trabalho liberta”! E foi num desses verões que os manos Kiki trouxeram da Bélgica o amigo Fánoir, uma espécie de leitão com olhos azuis. Segundo o Marreco, este Bajoulo de Bruxelas trazia conhecimentos aprofundados de artes marciais, mas o que primeiro deu nas vistas, neste caso nos olfatos, foi o seu cheiro dos pés, que deixava a léguas o recordista Conan Vargas, em cuja biografia já constava a evacuação da rua da sua casa de férias de Monte Gordo. Mas deixemos estes pormenores para mais tarde, porque primeiro tinha de se escolher o local do acampamento. A autorização para assentar arraiais foi dada pelo general, o papá do querido e muito estimado Bajoulo e do mano, que dizia ser o maior cobridor de Portugal e dos Algarves, principalmente no verão, quando rumava a Sul na sua potente e invejada Honda-50. As turistas faziam fila para sentir o bafo deste garanhão com cara de papagaio. A guia de marcha mencionava que o terreno em redor da habitação da casa de praia dos pais do Bajoulo estava à disposição da Juventude Guéliana das Boas Famílias da vila. A CP foi o meio de transporte para os turistas paçoarcoenses, assim como as suas tralhas, incluindo as motas, indispensáveis para todas as visitas de cortesia, essenciais para a diplomacia da jovem República Independente do Alto de Paço de Arcos. A chegada ao local do acampamento despertou a aldeia do seu torpor habitual. Aliás o Graise, também conhecido por Sousa, deu nas vistas lançando um fabuloso flato, que parecia mais um foguete a anunciar a procissão da Senhora lá do sítio. A primeira noite foi passada em cima de um chão duro e pedregoso, seguido de um incêndio às 4 da manhã, que obrigou a aldeia a trabalhar, para não serem incomodados e calcinados os amigos dos filhos do senhor general. O despertar foi dado por um galo que estava em cima do Cociolo, que resolvera dormir ao relento numa cama estilo “burro”. A senhora Maria, vizinha já de uma certa idade, teve pena das condições miseráveis em que tinham passado a noite estes “meninos de boas famílias”, e resolveu abrir uma exceção, à revelia dos patrões e emprestar a chave de acesso ao alpendre fechado. Assim, estes anjinhos ficariam um pouco melhor, protegidos das agruras do tempo. Mas no alpendre havia outra porta, a de acesso ao interior, e era fraquinha. Bastou um chuto e a fechadura cedeu. Estavam agora na sala a arrumar as tralhas, incluindo as motas, que também não se podiam constipar. Os primeiros tomaram de assalto os três quartos e os restantes distribuíram-se pelos vários cantos da casa de férias do general. Antes de saíram para a praia tiveram a gentileza de colocar a fechadura no local de origem e pôr a porta de novo operacional, mas desta vez só fechada no trinco. Quando o grupo de amigos, oriundos das mais nobres famílias de Paço de Arcos, pôs o pé na areia, já o Pilas tinha alugado um barco a remos, com motor. Tudo foi feito dentro da Lei até dobrarem a esquina, ponto a partir do qual os remos foram substituídos pelo motor, apesar de não fazer parte do contrato. Depois de muitos “ss”, piões e outros malabarismos, a falange paçoarcoense regressou ao ponto de partida, a remos. Mas o dono da embarcação também tinha a escola toda e era sócio do Gang dos Pescadores da Praia da Luz (G.P.P.L.), e como tal tinha acompanhado o movimento da sua embarcação, pela falésia. Após o desembarque dos estudantes do Comandante Guélas apresentou a conta da “viagem a motor com remos”.
- Já ganhei o dia à pala destes imberbes, pensou.
Mas pensou mal! Do alto da falésia vira o rasto de espuma, que o uso de remos nunca conseguiria fazer, mas não as várias mijas que foram feitas diretamente para o depósito, tendo em vista compensar o consumo clandestino de combustível. E não constava que o suminho de cevada, emborcado na noite anterior, explodisse na presença de uma faísca, porque senão o Velhinho há muito que tinha rebentado. Continuava são que nem uma pera, porque tinha sido visto há uma semana atrás a arrastar uma porta, pela praceta, com o Pilas a dormir em cima, para lhe ir dar o chazinho retemperador do costume. Queria isto então dizer que o pescador iria ficar apeado quando regressasse da próxima pescaria, e ter a cara pendurada num qualquer café a dizer “desaparecido”! O dia chegou ao fim, significando que se aproximava a hora crítica, a noite, onde todos se transformariam em demónios, mas de “boas famílias”. O retorno à casa do general foi feito usando o transporte do costume, “peidociclos”, indo o karateca Fánoir à pendura do adolescente Peidão, o mais ajuizado, numa Yamaha 50 “Mini Enduro”, tendo o mau hábito de ir sempre em pé aos gritos. As peseiras acabaram a época balnear a apontar para o chão e as suspensões traseiras a queixarem-se de escoliose lateral grave. Na casa de banho havia fila para o banho, e o cartaz na porta, escrito pela esposa alemã do militar, pedia para deixarem as instalações tal como as tinham encontrado. Quinze dias depois parecia que o areal da Praia da Luz se tinha mudado para o sanitário do general. Banho tomado, umas quantas latas de atum e sardinhas com tomate abatidas, e os estudantes rumaram, todos aperaltados, para o “Luz Bay Club”, agora ocupado pelos pescadores, depois de terem corrido com os arrogantes “bifes”. E tudo isto graças ao “Espírito do 25 de Abril”, doença banida de Paço de Arcos pelo Querido Líder, o Comandante Guélas. O Tio Kiki estava de amores por uma “franciu” com cara de suíno e exclusividade na língua francesa. Assim, os amigos falavam à vontade junto a ela, questionando-o porque é que andava com a “Porky”. Seria que depois da meia-noite se transformaria em princesa? Só quando o fabuloso karateca Fánoir confessou que tinha medo de ir para casa sozinho, impossibilitando assim o Tio Kiki de ficar a apanhar gambuzinos na praia com a suína, é que a “vampe” teve um ataque de caspa, descontrolou-se, e desbobinou o que lhe ia na alma mas em português. O resto do que faltava da noite foi passado na casa do General, com o Tonico já mais para lá do que para cá, com a cabeça encostadinha aos pés nauseabundos do belga, que obrigavam o resto do pessoal a conservar um perímetro alargado de segurança, visto ser impossível descobrir oxigénio naquele ambiente pestilento. Enquanto todos tentavam descobrir um espaço para dormir, eis que chega o Graise envergando um bonito vestido de cor verde alface propriedade da mulher do general, que tinha descoberto no armário do quarto onde ia pernoitar. Atrás dele seguia-o outro, e outro, e outro, parecia uma passagem de modelos da Fátima Lopes. Foi uma noite longa, muito longa!