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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

24
Jun18

3ª Temporada - Férias na Casa do General (6)


Comandante Guélas

Praia da Luz.jpg

6

Portugal tem as “Armas e os Barões assinalados”, Paço de Arcos a máxima imortal do Guélas, “Mosquito maldito sai da borda do meu casaquinho”, um jovem adolescente que, tal como Lázaro, foi dado como morto pelo Choné e ressuscitado de imediato pelo Sobrinho do Isaltino. E por falarmos de figuras públicas, convém não esquecer da Ju da Jovinela, e o seu mini, que causava ereções ao jovem vizinho Fininho, de cada vez que via o carro. Foi com esta funcionária, praticamente da CP, que o também adolescente Menino Élinho aprendeu a montar! Após a libertação da vila o Sul de Portugal passou a ser o destino da juventude guéliana, que era obrigada, durante o regime social fascista do Bill, a cumprir serviço cívico nas férias de verão no campo de trabalho da Fontainhas, cuja tabuleta dizia, “O trabalho liberta”! E foi num desses verões que os manos Kiki trouxeram da Bélgica o amigo Fánoir, uma espécie de leitão com olhos azuis. Segundo o Marreco, este Bajoulo de Bruxelas trazia conhecimentos aprofundados de artes marciais, mas o que primeiro deu nas vistas, neste caso nos olfatos, foi o seu cheiro dos pés, que deixava a léguas o recordista Conan Vargas, em cuja biografia já constava a evacuação da rua da sua casa de férias de Monte Gordo. Mas deixemos estes pormenores para mais tarde, porque primeiro tinha de se escolher o local do acampamento. A autorização para assentar arraiais foi dada pelo general, o papá do querido e muito estimado Bajoulo e do mano, que dizia ser o maior cobridor de Portugal e dos Algarves, principalmente no verão, quando rumava a Sul na sua potente e invejada Honda-50. As turistas faziam fila para sentir o bafo deste garanhão com cara de papagaio. A guia de marcha mencionava que o terreno em redor da habitação da casa de praia dos pais do Bajoulo estava à disposição da Juventude Guéliana das Boas Famílias da vila. A CP foi o meio de transporte para os turistas paçoarcoenses, assim como as suas tralhas, incluindo as motas, indispensáveis para todas as visitas de cortesia, essenciais para a diplomacia da jovem República Independente do Alto de Paço de Arcos. A chegada ao local do acampamento despertou a aldeia do seu torpor habitual. Aliás o Graise, também conhecido por Sousa, deu nas vistas lançando um fabuloso flato, que parecia mais um foguete a anunciar a procissão da Senhora lá do sítio. A primeira noite foi passada em cima de um chão duro e pedregoso, seguido de um incêndio às 4 da manhã, que obrigou a aldeia a trabalhar, para não serem incomodados e calcinados os amigos dos filhos do senhor general. O despertar foi dado por um galo que estava em cima do Cociolo, que resolvera dormir ao relento numa cama estilo “burro”. A senhora Maria, vizinha já de uma certa idade, teve pena das condições miseráveis em que tinham passado a noite estes “meninos de boas famílias”, e resolveu abrir uma exceção, à revelia dos patrões e emprestar a chave de acesso ao alpendre fechado. Assim, estes anjinhos ficariam um pouco melhor, protegidos das agruras do tempo. Mas no alpendre havia outra porta, a de acesso ao interior, e era fraquinha. Bastou um chuto e a fechadura cedeu. Estavam agora na sala a arrumar as tralhas, incluindo as motas, que também não se podiam constipar. Os primeiros tomaram de assalto os três quartos e os restantes distribuíram-se pelos vários cantos da casa de férias do general. Antes de saíram para a praia tiveram a gentileza de colocar a fechadura no local de origem e pôr a porta de novo operacional, mas desta vez só fechada no trinco. Quando o grupo de amigos, oriundos das mais nobres famílias de Paço de Arcos, pôs o pé na areia, já o Pilas tinha alugado um barco a remos, com motor. Tudo foi feito dentro da Lei até dobrarem a esquina, ponto a partir do qual os remos foram substituídos pelo motor, apesar de não fazer parte do contrato. Depois de muitos “ss”, piões e outros malabarismos, a falange paçoarcoense regressou ao ponto de partida, a remos. Mas o dono da embarcação também tinha a escola toda e era sócio do Gang dos Pescadores da Praia da Luz (G.P.P.L.), e como tal tinha acompanhado o movimento da sua embarcação, pela falésia. Após o desembarque dos estudantes do Comandante Guélas apresentou a conta da “viagem a motor com remos”.

- Já ganhei o dia à pala destes imberbes, pensou.

Mas pensou mal! Do alto da falésia vira o rasto de espuma, que o uso de remos nunca conseguiria fazer, mas não as várias mijas que foram feitas diretamente para o depósito, tendo em vista compensar o consumo clandestino de combustível. E não constava que o suminho de cevada, emborcado na noite anterior, explodisse na presença de uma faísca, porque senão o Velhinho há muito que tinha rebentado. Continuava são que nem uma pera, porque tinha sido visto há uma semana atrás a arrastar uma porta, pela praceta, com o Pilas a dormir em cima, para lhe ir dar o chazinho retemperador do costume. Queria isto então dizer que o pescador iria ficar apeado quando regressasse da próxima pescaria, e ter a cara pendurada num qualquer café a dizer “desaparecido”! O dia chegou ao fim, significando que se aproximava a hora crítica, a noite, onde todos se transformariam em demónios, mas de “boas famílias”. O retorno à casa do general foi feito usando o transporte do costume, “peidociclos”, indo o karateca Fánoir à pendura do adolescente Peidão, o mais ajuizado, numa Yamaha 50 “Mini Enduro”, tendo o mau hábito de ir sempre em pé aos gritos. As peseiras acabaram a época balnear a apontar para o chão e as suspensões traseiras a queixarem-se de escoliose lateral grave. Na casa de banho havia fila para o banho, e o cartaz na porta, escrito pela esposa alemã do militar, pedia para deixarem as instalações tal como as tinham encontrado. Quinze dias depois parecia que o areal da Praia da Luz se tinha mudado para o sanitário do general. Banho tomado, umas quantas latas de atum e sardinhas com tomate abatidas, e os estudantes rumaram, todos aperaltados, para o “Luz Bay Club”, agora ocupado pelos pescadores, depois de terem corrido com os arrogantes “bifes”. E tudo isto graças ao “Espírito do 25 de Abril”, doença banida de Paço de Arcos pelo Querido Líder, o Comandante Guélas. O Tio Kiki estava de amores por uma “franciu” com cara de suíno e exclusividade na língua francesa. Assim, os amigos falavam à vontade junto a ela, questionando-o porque é que andava com a “Porky”. Seria que depois da meia-noite se transformaria em princesa? Só quando o fabuloso karateca Fánoir confessou que tinha medo de ir para casa sozinho, impossibilitando assim o Tio Kiki de ficar a apanhar gambuzinos na praia com a suína, é que a “vampe” teve um ataque de caspa, descontrolou-se, e desbobinou o que lhe ia na alma mas em português. O resto do que faltava da noite foi passado na casa do General, com o Tonico já mais para lá do que para cá, com a cabeça encostadinha aos pés nauseabundos do belga, que obrigavam o resto do pessoal a conservar um perímetro alargado de segurança, visto ser impossível descobrir oxigénio naquele ambiente pestilento. Enquanto todos tentavam descobrir um espaço para dormir, eis que chega o Graise envergando um bonito vestido de cor verde alface propriedade da mulher do general, que tinha descoberto no armário do quarto onde ia pernoitar. Atrás dele seguia-o outro, e outro, e outro, parecia uma passagem de modelos da Fátima Lopes. Foi uma noite longa, muito longa!

18
Jun18

3ª Temporada - Carjacking (5)


Comandante Guélas

 

Carjacking.png

5

O tempo do Raul do Talho foi sempre divergente do dos outros paçoarcoenses, por isso quando se sentou na cadeira da Isabel Queirós do Vale fez uma pergunta inocente à funcionária que tinha ficado embevecida com os seus caracóis loiros, estilo caniche:

- Lavam cabeças?

- Sim senhor, lavamos cabeças!

- E o caralho todo? – Perguntou, olhando-a com o ar angelical.

O que se passou de seguida envolveu gritos, e ameaças de chamar a autoridade, mas o que elas não sabiam era que este jovem nascera preso numa alma perpétua que não tinha escolhido, e que não lhe dava descanso, obrigando-o a estar sempre em movimento. Por isso o primeiro carjacking do país teve a assinatura deste loirinho com caracóis de caniche, e tudo isto foi despoletado com o aparecimento do primeiro Multibanco da zona, lá para os lados do “Ronda 99”, um “bar de tudo” na terra das “queques”, que começavam a ser substituídas pelas “tias”, fêmeas sem raça definida. Calhou ao Big Mac, o primeiro jogador do desporto inventado pelo Titó, que envolvia frigideiras, uma rede, e um testículo do Sinai, o cão do Milhas, ser a testemunha, ainda viva e juramentada, desta cena digna de Hollywood que, apesar da idade, da careca avançada e da barriga dilatada, ainda mantém intactos os registos que viabilizaram o relato de mais esta imemorável aventura que encheu o Querido Líder de orgulho:

- São estes paçoarcoenses que fazem a nossa História!

Tudo aconteceu quando um velho, acompanhado de uma dama, ao volante de um Mercedes topo de gama, parou junto à única caixa de Multibanco do país, para impressionar a oxigenada tipo Lili.

- Querida, vou levantar dinheiro.

- Levantar dinheiro?! A esta hora da noite? Mas os bancos já estão fechados.

- Agora já há esta caixa, que dá dinheiro e eu já sou sócio, – disse o velho com cara de leitão mostrando orgulhoso o cartão.

Foi o ato do levantar do braço para mostrar à múmia o glorioso que dava acesso à caixa, que chamou à atenção do jovem do talho, que estava pacatamente no passeio do outro lado, a conversar com os amigos. E para agravar a situação o velho deixara a porta do seu lado aberta para que a namorada visse melhor o ato, e o motor a roncar. O cérebro do paçoarcoense, com cabelo loiro estilo caniche, começou a fervilhar e não mais parou. Correu de imediato para o bólide, sentou-se ao volante, e arrancou com os pneus a chiar e a debitarem nevoeiro para cima da única caixa de Multibanco da Costa do Estoril, onde ainda só tinham acesso colegas do Pierre Pomme-de-Terre, futuro engenheiro da construção civil, Licenciado em Tijolos e Tuvnan Chinês pela Universidade das Ilhas do Seixal. O velho ficou imóvel com o glorioso na mão, a ver desaparecer no horizonte os seus dois topo de gama, o Mercedes e a Lili, assim como os amigos do talhista. Felizmente no fim da reta havia uma rotunda e foi aí que o Fangio da Praceta fez um pião digno dos melhores James Bond e voltou ao ponto de partida, estancando com estrondo e elogiando a performance do bólide com uma palmada nas costas do proprietário, que só teve tempo de correr para o seu Mercedes e desaparecer na escuridão da noite.

09
Jun18

3ª Temporada - O Voo do Cisne (4)


Comandante Guélas

Futebol PA Espalha, Bill e Zé Boga.jpg

4

O Milhas era um adolescente alegre, acessível, distópico, era o rei da fantasia épica paçoarcoense, que fora educado numa mentalidade completamente alienígena, atormentado diariamente por um ninho de vizinhos, que tinham como alvo as cortinas esvoaçantes da varanda, de cada vez que brincavam com as carabinas de pressão de ar. Grão, a grão, conseguiram moer-lhe a alma! O Ratinho Blanco era o único habitante da vila que tinha dentro da cabeça uma geleia protoplásmica, que fez com que durante todo o verão quente de 1975 andasse com uma expressão caprina e alucinada, e quando cagava fazia merda panqueca. Por isso o Espalha só convidou o Bill e o Zé Boga para dar os primeiros toques do Futebol PA. Mas havia um motivo mais forte para se comemorar. O Bitton tinha de apresentar-se, no dia seguinte, não na tropa, mas no altar. E sem falta! A despedida iria ser inesquecível, em vez de um bolo com velas, porque não se tratava de um aniversário, alugaram um soberbo Mini-Metro com 400 Km e foram testá-lo para a Quinta do Loureiro em Cascais. E levou consigo três magníficos paçoarcoenses, que antes da ação foram abastecer as barrigas, que ainda não mostravam sinais de gravidez, para o bar “O Cisne”. E eis que, depois de várias “loirinhas”, o noivo desafiou os amigos com a pergunta que iria ficar para sempre nas suas memórias:

- Quem é que quer voar?

- Voar?? – Interveio o único com vocação jornalística.

- Voar num Mini-Metro, - respondeu o noivo.

E pegou de imediato numa caneta desenhando o plano de voo no tampo da mesa. Assim, explicou Tintim por Tintim aos cinco candidatos a aviador o que lhe ia na alma. Na Quinta do Loureiro havia um terreno baldio com três socalcos e a ideia consistia em acelerar a fundo o bólide, levantar voo no primeiro e aterrar para lá do terceiro. Simples, de fácil execução e sem riscos, pois a máquina não pertencia a nenhum deles. O desafio era tentador. Para copiloto ofereceu-se o Bigornas, o Escoto levantou o braço para escrever a peça jornalística e como fotógrafo ficou o Zé. Outro responsabilizou-se pela logística do “groundforce” e pelo controle do “take-off”, e o amigo pela confirmação do “landing”. A deslocação até ao local da ação foi feita em câmara lenta, não por se tratar de um filme, mas porque a cerveja já circulava em grandes quantidades por aqueles corpos ainda roliços. A máquina, que não tinha sido feita para voar, segundo constava no manual de instruções, foi colocada na linha de partida e todos se prepararam para o lançamento, não do “Vaivém”, mas só do “Vai”. O Escoto entrou para a retaguarda, atrás do banco do piloto-noivo, mas teve de ficar dobrado, pois o carro não tinha sido desenhado para jovens arraçados de girafa. Ao seu lado estava o Zé Fotógrafo, resvés com o tejadilho, e com a máquina fotográfica pronta a registar para memória futura toda esta epopeia, não dos irmãos Wright pioneiros da aviação, mas dos futuros, e já célebres pelas secas que davam aos clientes no balcão da Jomarte, irmãos Cruz. À frente, no lugar do morto, sentou-se o Bigornas, cuja cabeça ocupava grande parte do tablier e tapava o ângulo de visão do mano. O Bitton rodou a chave e o motor começou a roncar. Mas ainda houve tempo para um brinde. O Bigornas atestou os “flutes” da Atlantis com “Dom Perignon” e todos rezaram para aterrarem em segurança e continuarem a beber na boda do dia seguinte. O controlador ergueu o copo e brindaram:

- À nossa saúde, que está garantida, e à vossa que está periclitante, - desejou.

- Vamos a isto, - gritou o jovem girafa. – Nem consigo mexer o pescoço.

Cada um ocupou o seu posto, o piloto carregou com raiva no acelerador, o outro ergueu o “flute” e de imediato baixou o braço com violência, dando início à grande aventura paço arcoense a seguir aos Descobrimentos. O Mini Metro de propriedade indefinida, mas alugado a uma empresa com nome na praça, começou a rodar, de início com velocidade mais baixa que o triciclo do senhor João da Fruta, mas depois lá se aproximou da velocidade supersónica da “Deusa”, o soberbo Dyane do Mac Macléu Ferreira, mas nessa altura já estava junto à rampa de lançamento. O Escoto tinha o pescoço a 180 graus, o Bigornas comprimia com a cabeça o mano no vidro de trás, e o dedo indicador da mão esquerda do Zé colara-se ao botão de disparo, inundando o interior com flashes ininterruptos, o que levou o piloto a gritar:

- Entrámos numa zona de turbulência.

As rodas largaram o chão, o segundo socalco foi sobrevoado, mas já o mesmo não aconteceu ao seguinte, o Mini Metro “bateu inteirinho a meio” e só parou quando deu de caras com um muro, que impediu que o voo se prolongasse para a Marginal. O embate foi tão violento que a mistura de cerveja e Dom Perignon dos passageiros saiu-lhes pelas orelhas e estatelou-se nos vidros da viatura, tornando ainda mais turva a visão do piloto, que teve dificuldades em parquear, deixando tudo nas mãos do piloto automático. Deu-se um apagão na tripulação. O primeiro a chegar ao local da colisão, não foi o controlador que estava mais perto, pois encontrava-se em estado de choque com a razia que o aeroplano lhe fizera, mas sim o mais afastado, que no início conseguira chegar mais depressa ao primeiro socalco, conseguindo ainda ver o Escoto a dar uma volta de 360 graus com a cabeça. A caixa e a direção do Mini Metro alugado com 400 Km morreram ali mesmo, e a carcaça foi abandonada com a caixa do Dom Perignon e os flutes da Atlantis como testemunhas.

02
Jun18

3ª Temporada - O Bufas (3)


Comandante Guélas

Bufas 1.jpg

3

Quando o Comandante Guélas, o Querido Líder de Paço de Arcos, se sentou pela primeira vez na cadeira do Poder, declarou a Cultura, “o ópio do povo paçoarcoense”, como vício oficial da vila, e criou o “Bufas” como o festival alternativo à festa social fascista do “Senhor Jesus dos Navegantes”, da responsabilidade do comuna Bill e seus acólitos. Com o “Bufas”, cuja contabilidade era da responsabilidade do mais íntegro cidadão, o Marquês Pierre-Pomme-de-Terre, foi possível reagrupar a humanidade da zona, onde se podiam comer cachorros na Roulote do Mocho, beber bejecas na Barraca do Bajoulo, servidas pela escultural Tita dos Pés Sujos, saborear caranguejos no Chalé da Merda, dirigido pelo senhor Xantola, degustar tostas mistas na barraca do Tolas Monas, não sem antes o Drenos esfregar a fruta no fiambre como costumava fazer no Marginalíssimo, fazer check-ups femininos no Pão de Forma do Chinoca e maçagens alternativas na Tenda do Capitão Porão. Tudo isto acompanhado pelo festival dos peidos, onde o Graise e o Velhinho eram reis. O mediatismo do festival criou uma espécie de filosofia interna, que deu origem a uma tábua em branco com “Dez Mandamentos”. E foi por cumprirem religiosamente estes preceitos do Comandante Guélas, que o Focas, o Bajoulo e o Pilas, se dirigiram para a mota do agente da autoridade do país vizinho, Oeiras, que tinha ido recarregar baterias para uma tasca na Avenida, como era prática corrente naquela corporação. A Bófia só funcionava, não a eletricidade, mas a meio gordo branco. No volante da “Casal Boss”, uma máquina intimidante com as letras “PSP”, tinha ficado em repouso um penico branco, que os tornara conhecidos como os “Cabeças de Giz”. O Focas, um adolescente com uma alma profunda e um espírito selvagem, apropriou-se do capacete e levou-o emprestado para a garagem do Bajoulo. Como criminosos de boas famílias, retornaram ao local, mas desta vez sem o dito. Uma pequena multidão rodeava a mota e o agente fazia um discurso intimidativo à população. O Focas, o Bajoulo, um jovem que cuspia no olho da namorada para lhe tirar as ramelas, e o Pilas, que alimentava todas as namoradas boca a boca, ocuparam a primeira fila e ficaram frente a frente com o Chefe-Bigodes, uma lenda viva em Paço de Arcos, senhor de um conflito insanável com o agora cidadão paçoarcoense Mac Macléu Ferreira. Brincavam quase todos os dias à apanhada, cada um no respetivo “peidociclo”, pois o Mac insistia diariamente em não cumprir a Lei, deslocando-se sempre com a cabecinha ao léu.

- Eu sei quem eles são e vou mover-lhes uma perseguição implacável com a minha “Casal Boss 50” da Polícia de Segurança Pública de Oeiras, – prometeu aos admiradores que estavam à sua frente, dando uma festinha paternal no adolescente meio alemão gordo com um olhar vítreo. – Daqui a meia hora os larápios estarão atrás das grades.

A multidão aplaudiu o herói e viu-o partir, sem proteção na cabecinha, com o seu Ferrari de duas rodas envolto numa nuvem de fumo, sinal de que a mistura era de fraca qualidade, devido aos poucos neurónios do primo surdo-mudo do João-da-Quinta, trabalhador na bomba de gasolina do James Bomba.

Os três adolescentes dirigiram-se então para o local onde tinham escondido o produto e, duas horas depois, talvez devido aos remorsos, resolveram telefonar para a esquadra.

-Está lá?! – Atendeu uma voz grossa, com um hálito a bagaço.

- Senhor guarda, foi daí que roubaram um capacete a um agente?

- Sim, sim. Por acaso sabem quem foi?

- Fomos nós, senhor Guarda. Queremos alertar V. Exas. de que o vosso capacete é muito perigoso para os vossos cornos. O Bajoulo prendeu-o no torno onde costuma repor os selos das latas do peditório da “Luta Portuguesa contra o Cancro”, depois de as esvaziar, deu-lhe uma martelada e ele rachou. É muito perigoso para os senhores agentes andarem com estes penicos na cabeça.

- Grava, grava, zona A, – gritou o chui, o agente, desesperado, passando depois para uma voz suave e profissional. – Vocês já foram detetados, é melhor entregarem-se.

- Ó chui, vai, mas é para o caralho.

- Vai tu, ó filho da puta

Enfim, o regresso à normalidade paçoarcoense!

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