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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

30
Ago18

3ª Temporada - Tiros à Desgarrada (13)


Comandante Guélas

Carabina.jpg

13

O Milhas, tal como muitos outros paçoarcoenses, estava constantemente a tropeçar em si mesmo, a cabeça borbulhava diariamente. O primeiro ensaio de tiro com a carabina de pressão de ar Diana 38, com mira telescópica, do Peidão, foi feito no mirante da casa onde morava o gang dos dez irmãos, tendo como alvo as cortinas do vizinho que, nesse dia, esvoaçavam graciosamente ao sabor do vento. Ao aperceber-se que podiam fazer a vez dos pardais, o Milhas agarrou nos manos, a Ínclita Geração, e refugiou-se nos quartos. A resposta não se fez tardar, o amigo desceu à cave para ir buscar a sua espingarda e responder à ameaça, não sem antes o Janeca partir o vidro da casa de banho quando tentou assistir ao contra-ataque do mano. Desde esse momento ficaram cientes de que quando o papá chegasse haveria chicotadas psicológicas e físicas para todos. O campeonato de tiro foi ganho pelo Graise, com distinção, depois de ter furado inúmeras vezes as cortinas, que deixaram de esvoaçar porque o ar passava pelos buracos, e molestado duas vezes o traseiro do Quicas. O Milhas mostrou ser um adversário sem espírito desportivo, uma vez que disparou contra a pobre da Diana 38, numa altura em que o Peidão e o Caveirinha, dois jovens com tendências missionárias, a abandonaram depois de terem sido emboscados quando tentaram implodir com o outro vidro da casa de banho, não fosse o Janeca parti-lo também e aleijar-se. À noite a festa foi outra, e consistiu num assalto à casa do Conan Vargas, o único paçoarcoense que dava “sete seguidas sem ver a luz do Sol” (sic), e que estava sozinho em casa com as manas. Mas macho que era macho permanecia sempre em alerta, não fosse alguma fêmea ousar passar por perto, e desta vez também não foi diferente. Apercebeu-se da invasão e ainda foi a tempo de se trancar por dentro, exceto um dos quartos do rés-do-chão. Conseguiu sentir a respiração dos vinte amigos a arrastar os móveis para o jardim e passou ao contra-ataque no momento em que eles se prepararam para trepar ao primeiro andar por uma das varandas. Montou uma emboscada com a sua carabina de ar comprimido e acertou em cheio na barriga do Peidão, que desceu em queda livre, agarrado ao Pilas, tendo ainda tempo o Pontas de evitar o esmagamento. Como o Mac Macléu via mal de noite, e alguns diziam que também de dia, a segunda chumbada apanhou-o de costas e o chumbo foi de encontro ao seu bumbum. Respondeu com um “ai” e com um calhau, que passou a rasar a cabeça do Conan e o vidro. Foi altura de içarem todos a bandeira da paz e irem para os copos. O dia seguinte iria ser de guerra: brincar aos polícias e ladrões na quinta ao lado, à chumbada! Logo de início foram definidas regras, estavam proibidos de atirar às cabeças uns dos outros. Era justo e mostrava que estes rapazes, que provinham das melhores famílias de Paço de Arcos, tinham muito bom senso, até quando brincavam. O Conan Vargas apresentou-se no campo de batalha disposto a vencer, trazendo um coldre com uma soberba pistola e o camuflado do jardineiro, o senhor José, que estava de relações cortadas com a mulher e como tal acampara, com um cadeirão de verga, no terreno ao lado da casa onde morava o Bugio. Para que a luta fosse justa, trouxe para o Graise a espingarda da noite anterior. O Peidão colocara a mira-telescópica na sua Diana 38 para amedrontar os adversários, não deixando assim os pergaminhos de descendente de militares em mãos alheias. Por unanimidade o Zé dos Porquinhos e o irmão foram escolhidos como lebres, para os amigos poderem afinar as miras. Ainda protestaram, mas a decisão era irreversível. Correram para os lados das colmeias e o primeiro a disparar foi o guerreiro da pistola, que causou o riso geral quando apertou o gatilho: a bala demorou a sair, fez um percurso em arco, todos a acompanharam até cair no chão e os pardais nem se mexeram. Seguiu-se o Peidão e a sua elegante mira, que espreitava para um lado e acertava no outro, ou seja, tirou o talho ao João e acertou no cu do Zé, que foi aos berros para casa, não a dizer “ó mãe dá-me uma carcaça que eu estou cheio de traça”, porque essa frase era exclusiva do mano, mas sim, “os meus amigos estão a dar-me tiros”. Estranhas brincadeiras! Quanto ao bacamarte do Graise, disparou várias vezes, mas o chumbo recusou-se sempre a sair, optando por ficar a dormir a meio do cano. Só ao fim de algum tempo, e após várias insistências, lá caiu aos pés do inconsequente adolescente. A inocente brincadeira foi bruscamente interrompida com a aproximação da dona Rosa, mãe das lebres, que vinha pedir explicações com uma enxada nas mãos.

21
Ago18

3ª Temporada - Allô, Allô, América, Paço de Arcos Calling! (12)


Comandante Guélas

 

Radio.jpg

12

Os paçoarcoenses trazem na massa do sangue a têmpera dos melhores aços.

- Não posso só tocar na minha sarda, senão fico louco, - dizia muitas vezes o Capitão Porão quando se cruzava com o Chinoca.

- Que não falte a luz para que as cervejas estejam fresquinhas, - pedia o Velhinho ao atleta da Cruz, de cada vez que ia à missa.

Paço de Arcos era o único lugar no mundo onde o bacalhau, gadus morhua, não era considerado um peixe, mas sim o aroma característico das vacas. Por isso a América tinha a bronzeada Aretha Franklin, e Paço de Arcos o encardido Charlot que, cantando palavras, inspirou e lutou pela igualdade dos sexos e das raças, levando muita rapaziada a fazer xixi sentados. O senhor Daniel José Martins de Almeida tinha uma voz alta e flexível, a arder e a vibrar convictamente como uma labareda de paixão.

- Ajuda a definir a alma da vila, - dizia o Proveta para as moças de Porto Salvo, tentando impressiona-las. – O Baiona com dois Franguinhos na mão representa um sentimento de ligação, ajudando-nos sempre a esquecer tudo o resto e a dançar.

Mas o caldo estava entornado lá para os lados da Igreja. Ao irmão mais maluco do Serapito tinha-lhe sido negada a hóstia, o padre deixara-o pendurado com a boquinha aberta e a língua de fora.

- Tu não, és uma ovelha tresmalhada, tens de vir primeiro confessar os teus pecados.

Quando a missa acabou correu transtornado para a Sacristia, decidido a fazer a folha ao prelado, mostrando-lhe assim o que era um pecado de verdade. Mas nada igualava o fabuloso Milhas quando atestado de cevada, que o digam os candidatos a mafiosos de blusões pretos e estatura do Trovão, que tinham ousado deixar os capacetes integrais no chão de uma das janelas que dava acesso ao varandim do primeiro andar, ameaçando acabar com a vida de quem lhes tocasse. O chuto que ele lhes deu foi com tal convicção, que indignou os proprietários, cujo líder foi de imediato pedir explicações ao irmão do Janeca, que o agarrou e dançou com ele um slow até ao fim.

- Isto é mijo, - gritou furioso o irmão do Citron, que andava no encalce das cervejas dos outros, e caiu no isco que os amigos lhe tinham preparado, uma garrafa de litro com urina do Velhinho, do Peidão, do Graise e do Focas.

- O golo que ele deu foi profundo, vi a maçã de Adão a subir e a descer, - explicou o Caveirinha. – Agora nem a Macaca o vai querer beijar!

O último paçoarcoense a ter um filho antes do 25 de abril tinha como nome de guerra Vaca Prenhe devido ao seu estilo atlético e à juba encarapinhada que lhe chegava aos ombros. Ao contrário do Sansão, e com a ajuda da revolução, quando cortou o cabelo para assumir algumas responsabilidades de pai precoce, lá conseguiu transitar de ano. Mas como a Natureza compensa sempre, o seu cunhado Peidão, um adolescente modelo, ajudou-o a criar o filho. E foi numa das noites frias do pós revolução, apesar da época estar ao rubro, que o Peidão abdicou dos estudos para ir fazer de babysitter ao seu sobrinho com cabelo de caniche. Para estar em contacto permanente com os verdadeiros “pais” do pequeno, os avós maternos, o Peidão foi munido com o Walkie–Talkie que o avô Mene lhe trouxera das Lajes dois anos antes. Até lá tinham servido para os adolescentes irem gamar peixes à noite à Quinta do Leackoque, ficando sempre um de vigia para o caso do senhor Manuel, o motorista, dar conta e vir de caçadeira. Por volta das onze horas da noite, e já depois de ter desistido de empinar a tabuada dos quatro, recebeu a visita do Graise, que também era tio do pequeno, mas tinham evitado dizer a verdade ao puto, para ele não se traumatizar, pois para isso já bastava o pai, que veio acompanhado do Vasco Americano, um radioamador profissional, que debitava inglês californiano do melhor, e era dono da maior antena da vila, com luzinha e tudo na ponta, para os aviões não tropeçarem. Segundo o papel de instruções que o general dera ao neto Peidão, um adolescente já com muitas preocupações ambientais, estava marcado um novo contacto para as 23H10.

- Allô, allô, P1 chama P2, escuto, - disse o Peidão.

- Rrrrrrrrrrrrrrr

- Allô, allô, P1 chama P2, escuto!

- Rrr…P2….P1…iga….tendeu?

- Estou a ouvir mal, avô!

- “Avô” não, P2, - gritou a voz vinda do cimo da colina.

O tempo era de cautela, o COPCON andava na rua à procura de fascistas. E todos os meninos de boas famílias estavam na corda bamba, apesar de “política” para eles significar “festa permanente”. O Vasco Californiano meteu-se na conversa e no seu magnífico inglês iniciou o diálogo entre dois profissionais, um general a válvulas e um adolescente com a boca cheia de transístores. Identificou-se corretamente e o da colina disse que estava na China.

- China?! But I have the antennas look to Europe?!

Os tempos eram de insegurança, o Otelo e o seu gang dominavam a capital e arredores, e podiam estar à escuta. A comunicação com a América foi bruscamente interrompida, mas o Peidão e o Vasco Americano passaram à cena número dois, simulando outro contacto, agora entre dois portugueses, um madeirense e um paçoarcoense. O militar estava agora a assistir, sem poder intervir.

- P1 aqui Fox do Funchal, escuto.

- Fox aqui P1 de Paço de Arcos, escuto.

O general nem queria acreditar, ele sabia que o neto era uma nódoa a química, pois já ia na centésima explicação na garagem e ele ainda nem tinha conseguido decorar a fórmula da água, mas agora estava a ultrapassar todos os limites razoáveis, dando de bandeja ao inimigo a sua localização.

- Desliga, não diga onde está, o COPCON anda por aí e pode estar à escuta, - gritou desesperado o P2.

Mas o P1 estava imparável, pois disse a morada, o seu nome, o da família toda, quanto calçava, o nome dos cães, Boby e Bugio, o número do B.I. O general a válvulas desligou o aparelho, tirou-lhe as pilhas e carregou a metralhadora chinesa. Se o gang do Otelo aparecesse eram recebidos à bala.

No dia seguinte os pais do Bajoulo foram visitar os avós do Peidão e o tema principal da conversa foi o “contacto milagroso com a América”. Devido a condições meteorológicas excecionais, que iam de encontro a todos os manuais de Eletrónica & Comunicações, a vila de Paço de Arcos ficara para a História, no Ano da Graça de Nosso Senhor de Mil Novecentos e Setenta e Cinco, ligada com a América, através de um Walkie – Talkie a pilhas!

11
Ago18

3ª Temporada - O Tolas Monas (11)


Comandante Guélas

Cabecudo.jpg

 

11

 

Paço de Arcos era a vila mais morena da Costa do Estoril, em que em cada esquina havia gente bonita que urinava nas ruas e falava línguas incompreensíveis. E se alguém perguntasse ao Cabrita qual era o seu inimigo de estimação, isso era “impulse”:

- O Cociolo, porque me gamou umas ferramentas!

Mas havia mais gente para além deste paçoarcoense, da Geração de Oiro, que demorou uma eternidade a sair da adolescência, para desespero dos seus amigos. O Tolas Monas era dotado de uma cabeça fora do comum que, com o formato de uma bola de rugby, teve direito a reclamar várias licenciaturas, que variavam conforme as circunstâncias: Arquiteto na Câmara Municipal, Doutor no Centro de Saúde e Engenheiro na Universidade Professor Doutor Ánhuca. Este “paçoarquiano” tornou-se assim um adulto multifunções, um autêntico “canivete suíço existencial”, que estava sempre em todo o lado e em lado nenhum. Se aparecesse alguma oportunidade para o negócio, lá estava o Tolas Monas com o currículo ao pescoço. Até que um dia resolveu comprar um Bar, à entrada de Paço de Arcos, e contratar o Bajoulo para servir uns copos. No melhor pano tinha agora caído uma mancha! Quando o estabelecimento encerrava ao público, abria de imediato para os amigos na modalidade “Bar Aberto”. Se algum cliente se demorasse um pouco mais para além do horário legal, simulavam uma cena de pancadaria e era vê-los a fugir em pânico pela rua fora, com medo de serem envolvidos no meio da confusão. Então o Bajoulo trancava a porta e dava-se início ao “self-service” e aos telefonemas para as esquadras da PSP, pois a essa hora da noite era certo e sabido que estavam todos a dormir. Já tinham uma lista completa de todos os locais e dos nomes dos respetivos dorminhocos.

- Esquadra da PSP de ….? – Atendia o agente, bocejando.

- Chame-me o Chefe Silva.

- O Chefe está a dormir…a fazer uma diligência. Quem fala?

- O Comandante Antunes de Lisboa.

- Comandante Antunes?!! Um momento, eu vou ver se ele já acabou o serviço.

Telefone no descanso, mal tapado com a mão, permitindo o acesso ao falatório “off de record”.

- Júlio, vai chamar o Chefe e diz-lhe para vir ao telefone.

- Acordar o Chefe?!! Mas ele fica com mau feitio quando o acordam.

- É o Comandante Antunes de Lisboa!

- O Comandante Antunes? Então deve ser uma emergência.

E ouviam-se uns passos a correr para lá e segundos depois vários passos a acelerar para cá.

- Tou?

- Então ó Silva, estavas a dormir no serviço? É para isso que te pagam?

Silêncio ensurdecedor.

- Cabrões, – gritava o Chefe desligando o telefone com raiva.

Nova chamada, nova corrida.

- Esquadra da PSP…?

- Chame-me o Chefe Tremoço.

- E quem é que quer falar com ele?

- Comandante Narciso.

- Comandante Narciso?!! Não conheço!

- Comandante Narciso do Comando Operacional do Continente,…. – etc., etc., mais umas tantas frases para impressionar. – Estou a falar com quem? – Voz zangada.

Silêncio, seguido de uma pergunta em “off”, audível.

- Ó Jaquim, conheces algum Narciso do Comando Operacional?

- Narciso? Não.

- Quer falar com o Chefe Tremoço.

- Acorda o Chefe e não levantes problemas.

- Um momento…Comandante.

- Tenho pouco tempo e muita urgência, – disse o Graise com uma voz rude.

A cena repetiu-se, a correr para lá e em alta velocidade para cá.

- Desculpe Comandante, estava numa diligência.

- Estavas era a dormir, ó Tremoço!

- Quem fala?

- Uns cidadãos indignados com os chuis deste país que estão todos a dormir durante o serviço.

Pausa no diálogo.

- Foda-se, – reclamou o Chefe dorminhoco, desligando o aparelho.

E era assim durante toda a noite, ininterruptamente, com “bejecas”, pipocas e sandes mistas pelo meio, até acabar o “stock” do dia e o João Pestana vir buscar estes adolescentes pós-revolução.

 

02
Ago18

3ª Temporada - Os "Amigos do Cabrita" (10)


Comandante Guélas

 

Motas.jpeg

10

Após a revolução do Comandante Guélas, Querido Líder de Paço de Arcos, que expulsou da vila o social fascista Bill e seus acólitos, perdão, alcoólicos, e declarou a independência do território face a Portugal, apareceu um grupo motard que se tornou famoso na Costa do Estoril, os “Amigos do Cabrita” (“Hell Angels” em inglês”), constituído por bebedolas profissionais, de que se destacaram o Bajoulo, João da Quinta, Mac Macleu Ferreira, Carlos Ponta, Milhas, Cociolo, Olho Vivo, Monhé, Caveirinha, Velhinho, Peidão, Pilas, Pingalim, e tantos outros que a História jamais esquecerá. O grupo motard foi dirigido pela célebre Maria das Bicicletas, que tinha como adjunto o piloto internacional Pinguim, um monstro do motociclismo. Os “Amigos do Cabrita” mostraram à Costa do Estoril que o paçoarcoense tinha o poder de capturar e influenciar a realidade, era uma espécie de arte bizantina existencial, cujo expoente máximo residia na figura do eloquente Mocho. Por isso o Centro Cultural do Chalé da Merda tinha uma frase de boas vindas: “Nobody Will destroy our culture” (tradução: a Tita dos Pés Sujos é nossa!). Por haver muitos peidociclos a circular pela Costa do Estoril, o Comandante Guélas criou a figura do Provedor das Duas Rodas, cujo cargo diretivo foi entregue ao paçoarcoense com o perfil mais adequado para o: o Nando Maluco! Este cidadão exemplar tinha dois hobbies diários, um que decorria da parte da manhã, com as colunas da aparelhagem de som apontadas para a estação de Paço de Arcos, através da qual debitava cultura para os passageiros que aguardavam o comboio vindo de Lisboa:

- A preta que está encostada à coluna tem cara de macaca! O velho com focinho de cabra é um tarado sexual, e está sempre a galar o cagueiro das mulheres! Não te afastes macaca, é contigo que estou a falar! Já viram as calças verdes do rapaz com cara de punheteiro? E a prateleira da velha com bigode que está sentada ao pé do monhé? Ó caixa-de-óculos, só és míope para os livros, mas para olhares para as tetas da cigana já não tens dioptrias.

O calvário só terminava quando o “para-em-todas”, chegava e esvaziava a gare, deixando o Nando-Maluco sem ouvintes. Era a altura para ir receber, diretamente na gare, o “verde” vindo de Cascais. Quando o comboio parava, o senhor Nando Maluco procurava a vítima, alguma velha que estivesse sentada junto à janela, com esta aberta. E tinha de ter um “cabelo-à-Moisés” sinal duma ida recente ao cabeleireiro. O predador introduzia os braços no comboio e penetrava, com as suas mãos grossas, na cabeleira encharcada de laca, transformando-a num “desperdício” digno dos melhores mecânicos da Costa do Estoril. E nem havia tempo para reclamações, pois geralmente era quando o “pica-bilhetes” dava a ordem de partida! Um dia no regresso a casa, o Nando Maluco passou pela praceta e deu de caras com uma discussão entre dois Gangs, o de Paço de Arcos e o de Caxias. O Zé Pincel tinha abafado o cachimbo da mota de um dos outros, que fora à estação comprar um bilhete, e deixara o “peidociclo” naquela zona, e no regresso topara a ausência do acessório. Como ninguém se acusara, tinha ido ao território buscar reforços, que estavam a chegar a conta-gotas. O Nando-Maluco foi recebido em glória, era uma ajuda de peso, representava o “bom-senso”. Como não quis tomar partido por nenhum dos lados propôs arranjar uma solução equilibrada, que evitasse o confronto: um jogo, e quem vencesse ficava com o cachimbo! Cada grupo nomearia um representante:

- Zé Pincel vai buscar umas garrafas de vinho do teu pai e o primeiro a cair perde!

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