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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

15
Out18

3ª Temporada - O Submarino (19)


Comandante Guélas

Veleiro.jpg

19

A pouco e pouco, à medida que a revolução do Comandante Guélas avançava, com o PREC à beira de um ataque de nervos, os meninos iam trocando os “peidociclos” por iates à vela e não havia regata no Tejo que não contasse com estas tripulações de luxo. Mas antes disto tinham de ir à Roulote do Mocho pedir a equivalência para a carta de “Patrão de Paço de Arcos”, que permitia passar para os comandos de tudo o que mexesse na vila, tanto em terra como no mar, desde a Sesaltina, passando pela Zündapp do João da Quinta e parando no “cabinado” do Pierre-Pomme-de-Terre ou no potente quatro cavalos do Horta. E como a maioria dos paçoarcoenses optava pelas “Letras” no 6º ano do Curso Geral dos Liceus, o exame final de matemática foi canja. O Vaca Prenhe apanhou com cálculos logarítmicos e enfiou com o barco virtual, feito com um guardanapo do Tino, na Trafaria, em vez de Belém como pretendia o examinador Taka Takata. Esta é a história duma dessas tripulações, a do “Carapau Cociolo”, um soberbo iate de cor cinzenta, mais conhecido como o “Submarino”, igual à cor das cuecas que o Bajoulo levava para o Marginalíssimo, e onde guardava o fiambre que servia para fazer tostas mistas para os amigos no período pós-laboral. A tripulação era constituída por quatro indomáveis Paço-arcoenses:

1 atrevido Capitão de abril com passagem glamorosa por Cabinda, segundo documento oficial;

1 futuro Empresário das Lulas, com várias dioptrias, loirinho, com uma mota de competição irresistível no meio feminino;

1 Cabeçudo, futuro concorrente do Carinha da Avó;

e o Jovem do Leme.

A permanente ausência do “Carapau Cociolo”, que dava charme à Praia Velha, começou a ser notícia. Souberam toda a verdade quando alguém deu de caras, na secção de carnes do João Gordo, e contou à "Voz de Paço de Arcos" a estrondosa vitória que tinham arrecadado na mítica regata “Lucinda Careca”, com partida no Jamor e chegada à foz do esgoto do Chalé da Merda. A partir desse dia o Jovem do Leme pôs a tripulação em estágio, e obrigou-os a treinar diariamente. Daí o espaço vazio diário na marina da Praia Velha!

- O Capitão vai para um lugar de destaque, - ordenou o dono do “Carapau Cociolo”.

De imediato o Cabeçudo, de nome próprio Pontas, agarrou no militar e amarrou-o à proa, não fosse ele cair devido a um golpe de vento traiçoeiro e atirar pela borda fora a vantagem de levarem um adulto com desconto de guerra, que lhes permitia partirem vinte minutos antes. Mas para isso tiveram de colocar na popa um autocolante azul com o desenho de uma cadeira-de-rodas.

- Pede-lhe para contar uma estória de Cabinda que ele adormece e não se mexerá muito, - avisou o experiente lobo do asfalto de nome Mac Macléu Ferreira, um futuro empresário com um contacto diário com lulas e especialista em mapas, onde a evolução da prova era seguida, sinalizada e decidida. Nestas alturas este cartógrafo deixava sempre as lunetas em casa e guiava-se pelo instinto, sinal do uso de tecnologias sedutoras.

- Das mesas às camas, das loiças às roupas, tudo foi passado a pente fino pelo exigente comandante do “Carapau Cociolo”, também conhecido por “submarino”, com um rigor e uma autenticidade que fazia com que estes heróis da Real Marinha Guéliana regressarem sempre envoltos num manto de nevoeiro.

Cada embarcação era obrigada a ostentar um pavilhão com a figura imponente da ex miss praia Quitéria Barbuda, a ninfa do Jamor, e até nisto o “submarino” estava a milhas de distância, pois o seu proprietário, um homem sempre ligado a causas sociais, deixara o Capitão hastear as soberbas cuecas do Bajoulo. Na partida alinharam-se os melhores veleiros da Costa do Estoril, com destaque para os dois representantes paço-arcoenses, o “Carapau Cociolo” e o “Todos-os-Chatos”, este com lugar cativo no terceiro lugar em todas as provas com 3 concorrentes. Um minuto antes do flato do Luís do Talho, igual àqueles que dava sempre de cada vez que ia em visita de cortesia a Espanha, tiro este que daria início à regata “Lucinda Careca”, o “Submarino” foi autorizado a avançar 75 metros em virtude de ter um tripulante com duas comissões na guerra. Havia uma vertigem libidinosa tão intensa nesta tripulação, centrada numa das questões mais em aberto na história desportiva paço-arcoense, a vitória. A tripulação do “Carapau Cociolo”, também conhecido como “Submarino”, representava, para o Querido Líder, a humildade cívica, moral e intelectual da vila de Paço de Arcos, uma espécie de vanguarda estética cujos membros nunca couberam em categorias. Eles eram, não os últimos moicanos, mas sim os primeiros membros do Império Espiritual Paçoarcoense.

06
Out18

3ª Temporada - Open Batata (18)


Comandante Guélas

 

Futebol.jpg

18

O nome significava honestidade, dedicação, confiança, mas acima de tudo um modelo a seguir pela juventude paçoarcoense. Porque o estilo de vida era superior aos rendimentos, o adolescente Pierre Pomme-de-Terre arranjava sempre maneira de descobrir novas minas de ouro, que não passavam só pelas libras lá de casa ou pela roulote do Mocho. Um dia resolveu organizar um Torneio de Futebol na Escola Náutica, tendo convencido o anãozinho de suspensórios, chefe máximo do Futebol Clube de Paço de Arcos (com sede junto ao “Bar Cu à Vela”) equipado com dois matraquilhos carunchosos e alguns jogadores decapitados, a emprestar o seu prestigiado nome ao “Open Batata”. A reunião, que serviu para desviar as inscrições obrigatórias, teve lugar no gabinete do presidente, que também servia de urinol para os sócios, mas que foi interdito enquanto durasse a combinação da golpada. O Pierre Pomme-de-Terre estava com pressa, as férias no Algarve aproximavam-se e ele queria ir para o hotel “O Golfinho” em Lagos, do qual iria sair sem pagar, e com a conta em nome de outro, como era tradição. Quando as inscrições abriram, as vagas esgotaram-se rapidamente. Nesse dia a reunião dos responsáveis do “Open Batata” foi no “Gambrinus”, pois a direção considerava ser inapropriado para o bom-nome do clube interditar de novo o urinol aos sócios. No dia de abertura o adjunto Pierre Pomme-de-Terre tinha uma surpresa para os participantes: campo havia, bola também, mas tinham de levar as balizas, que ele não se importava de alugar, e estavam guardadas atrás do Cineteatro, para que o guarda do ringue da Avenida não as encontrasse. Cada equipa levava a sua baliza e tinha de entregá-la no final do jogo. Para segurança do clube, tudo sempre pelo clube, eram obrigados a deixar uma caução no valor equivalente a duas balizas novas, que ficava à guarda do tesoureiro, o adjunto do anãozinho de suspensórios. O primeiro encontro foi entre duas das equipas candidatas ao troféu, que ninguém sabia qual era, uma vez que o responsável, o senhor Pierre Pomme-de-Terre, se encontrava em viagem de “trabalho” pelo Algarve. De um lado do campo estavam os “Benfiquistas”, cujo nome já dava indicações acerca do seu objetivo desportivo, e do outro os “Burrinhos da Pradaria”, estranho nome para uma equipa candidata à vitória final, que tinha como avançado um adolescente loirinho com incalculáveis dioptrias, de nome Mac Macléu Ferreira, um médio que jogava de chinelos e só dava rendimento com uma “sagres” fresquinha nas mãos, chamado Bajoulo, um defesa que parecia ser o mais ajuizado mas era detentor de um nome pouco ecológico, Peidão, um guarda-redes que defendia melhor de costas, o doutor Charlot e por fim um jogador que vinha decidido a marcar nas duas balizas e que o nome dizia tudo, Graise. E o treinador era um nome conhecido no meio da adolescência masculina da vila: Capitão Porão! Quando o árbitro apitou para dar início à partida não podia imaginar que no “Open Batata” só seriam dados três toques, o do Mac que fez um passe tão tenso para o Peidão que este não conseguiu desviar-se a tempo, tendo apanhado com a bola em cheio na testa (segundo se pensa o abanão foi tão forte que a região do córtex pré-frontal saiu do estado de dormência e começou a funcionar normalmente, comprovado pelos bons resultados a Matemática) e por último o Bajoulo, que deu um biqueiro tão grande que a bola ultrapassou não só os limites do campo, mas também a vedação da Escola Náutica, só parando quando despedaçou o para-brisas de um automobilista que se dirigia em direção a Cascais. Soube-se mais tarde que o esférico levava cravadas algumas unhas do rematador luso-alemão. A debandada foi geral, o senhor presidente do Clube de Futebol de Paço de Arcos foi o primeiro a chegar à sede, apesar de ser coxo e ter alguma dificuldade em subir os passeios. Esse foi o seu último dia de trabalho, pois apresentou a demissão em frente a um espelho, que foi aceite de imediato e usada como papel higiénico. Quanto ao adjunto, e grande responsável pela magnífica organização, estava naquele momento a gozar umas merecidas férias num hotel de cinco estrelas em Lagos, mas já a tentar convencer o gerente para a realização do “Open Golfinho”.

01
Out18

3ª Temporada - As Latinhas do Peditório (17)


Comandante Guélas

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17

O tempo era de solidariedade, mas para os empresários Pierre Pomme-de-Terre e Bajoulo não passava de uma questão de oportunidade para o negócio e não havia tempo a perder, pois as latinhas do peditório já andavam a circular nas ruas. A responsável pela área de Paço de Arcos tinha sido, desta vez, a mãe do Peidão, que andava toda atarefada a controlar a saída das caixas que lhe tinham calhado na rifa. Todas as forças vivas da zona estavam empenhadas na coleta, desde as tias, passando pelos escuteiros e acabando nos alcoólicos …perdão…acólitos. Quando a dona Lurdes deu a novidade em casa e pediu a ajuda solidária da família, o “paçoarquiano” ia tendo um “treco”, e veio-lhe logo à memória as caritas catitas dos irmãos Dalton. Entrou de imediato em prevenção, tentando evitar que os artistas tivessem acesso às latinhas. Já sabia dos esquemas dos anos anteriores, mas agora o duo tocava-lhe à porta e teria de proteger a progenitora. Mas como já andavam nesta escola da vida há muito tempo, anteciparam-se à jogada e aproveitaram a boleia de um "amigo".

- Vou à casa do Peidão buscar uma latinha. Vocês também deviam participar nesta causa que é nobre, – disse o Bigornas, trepando para cima do “peidociclo” do irmão, um ex-militar das forças especiais, tal como o Conan, mas do ramo dos Comandos, e também com a especialidade de ajudante de cozinha de campo, pois tinha a sua “Sunbeam”, um motão do tempo dos Descobrimentos, desmontada à entrada da “Jomarte”, a loja de fotografias mais famosa da Costa do Estoril, que oferecia, de borla, a qualquer cliente que entrasse, uma espera no mínimo de uma hora, até que o proprietário acabasse de ler o livro de quadradinhos do dia.

- Tiraste-me as palavras da boca, – interrompeu o Pierre Pomme-de-Terre, dando um toque matreiro ao acompanhante. – Eu estava agora mesmo a desafiar o Bajoulo para o gamanço…para uma boa ação, e não há nada melhor para a nossa imagem do que participarmos no peditório. Mas como é que temos acesso ao material?

- Este ano a mãe do Peidão é a responsável pela zona e vou neste momento a casa dele buscar a latinha.

- Então podias fazer-nos um favor, e trazer uma caixinha para cada um de nós. Eu tenho um pouco receio de lá ir, pois da última vez que o fiz o avô estava solto e apareceu-me por detrás de uma árvore com um pistolão do Farwest, julgando que eu era um comunista a querer ocupar a casa. E ainda por cima hoje estou vestido com uma t-shirt do Benfica.

- Não se preocupem, eu vou buscar várias latinhas para distribuir pela gente caridosa da vila e arredores.

Quando se apanharam com as redondinhas com o desenho de um caranguejo ao pescoço, o duo nunca mais parou, percorreu a Costa do Estoril duma ponta a outra, chegando a encontrar mais dois colegas de curso de Cascais, os manos Sá. Mas o que é bom tem sempre um fim, e o peditório tinha hora marcada para acabar e havia um prazo para a recolha do material. O Peidão estava agora escalado para o efeito e resolveu começar pelas tias da Figueirinha.

- Estas latas estão vazias porque pus o dinheiro todo nesta, – explicou a velha a cheirar a perfume até às unhas dos pés, e com um penteado que parecia o Moisés dos “Dez Mandamentos” após ter descido da montanha. – Os selos que tapavam as latas caíram, – e fechou a porta.

Seguiram-se os “meninos vestidos de parvos, comandados por um parvo vestido de menino”. Das trintas latas, nenhum selo! E assim continuou a viagem, muito poucas ainda legais, a maioria estranhamente fora da Lei. Uns dias depois a mamã do Peidão teve um ataque de caspa, faltavam duas “redondinhas” do senhor Bigornas. Contactado de imediato, explicou que estavam na posse do Bajoulo e do Pierre Pomme-de-Terre que, por estarem tão empenhados na causa, ainda andavam a trabalhar. Estariam estas duas alminhas caridosas a fazer horas extraordinárias? O primeiro foi apanhado desprevenido, pediu para esperar um pouco, deslocou-se à garagem, ouviu-se um som dum martelo a malhar num torno, e eis que o anjinho do Barroco regressou com a caixinha amarela do peditório. Mal trocou de mãos o selo, que parecia mais de carta do que de chumbo, caiu aos pés do Peidão. A latinha do Pierre Pomme-de-Terre estava em casa a dormir e foi entregue intacta. Intacta?! O selo só caiu redondo no chão quando chegou à casa do Peidão, ou melhor, na sala dos pais, em frente da mãe incrédula com a atitude daqueles meninos de coro que o filho dizia serem seus amigos. Foi aberto um inquérito de averiguações, os dois paçoarcoenses confessaram os desvios, devolveram algumas notinhas de vinte escudos e os factos foram comunicados por escrito e assinados por todos os intervenientes, sendo os relatórios enviados à instituição que prometeu mão de ferro para os prevaricadores. Mas não nos podemos esquecer que estávamos num país de brandos costumes que, com ou sem revolução, deixou ficar tudo na mesma. No ano seguinte o Bajoulo e o Pierre Pomme-de-Terre lá foram vistos outra vez na fila da frente da solidariedade, com umas latinhas amarelas ao pescoço a recolherem donativos para uma causa que diziam ser muito nobre.

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