3ª Temporada - General Bidon (29)
Comandante Guélas
29
- Não jogo mais, as luvas estão cheias de minhocas, - gritou o Espalha abandonando o campo após sofrer o décimo segundo golo, lembrando-se do único jogador estático do Futebol PA, o saudoso General Bidon, um atleta consagrado que justificava a atitude dizendo “o que interessa é a colocação no terreno”.
Em 20 de maio de 1498 o navegador paçoarcoense Aurora chegou a Calecute a bordo da nau “Carapau Cociolo”, estabelecendo a Rota dos Ratos que os trouxe para a vila e os fez ser a classe dominante. Na burguesia paçoarcoense, da qual provinha o Comandante Guélas, a igualdade das mulheres pretendida pelos social fascistas liderados pelo Titó, um comunista derrotado na revolução do 28 de maio de 1974, foi um assunto encerrado logo após a conquista do Sul da vila: as comunas foram obrigadas a rapar os pelos, a tomar banho e a pôr desodorizante:
- Acabou o cheiro a merda nas fêmeas paçoarcoenses, - declarou a famosa ideóloga do Querido Líder, a matemática e filósofa Dra. Quitéria Barbuda, uma libertária, no sétimo dia após a unificação de Paço de Arcos. – Quem quiser continuar com vastas pintelheiras a cheirar a mijo, só pode ser esposa do Ratinho Blanco, o maior trombeiro nacional.
- E as unhas dos pés? – Perguntou o Bill com o punho no ar, mostrando ainda tiques social fascistas, querendo com esta atitude denunciar a famosa namorada do Bajoulo, a Tita dos Pés Sujos, filha do empresário monárquico conde Xantola que, quando inaugurou o restaurante no “Áries”, prometeu torna-lo na casa “mais famosa de Paço de Arcos”, e por isso contratou o fadista Focas para disparar com paixão uma salva de vinte e um flatos psicadélicos.
E tinha razão! As suas lagostas ostentavam sempre grafitis surrealistas, arte urbana, langonhas amarelas extraídas do fundo da juventude, lançadas com amor pelos amigos anacrónicos do Focas, queques pseudo desenquadrados do Norte da vila, nas noites quentes de verão, disparados pelas frinchas dos vidros. O Comandante Guélas tornara-se um homem perfeito, assim como o seu regime! Mas voltemos ao presente. O Espalha deixou cair uma lágrima quando o Pontas informou a vila de que o General Bidon, herói da guerra de sucessão paçoarcoense, tinha dado o último grito do Ipiranga, “independência ou morte”, e morrera. Uns dias antes, quem se encontrava perto dele estranhou, os seus olhos estavam diferentes, até os óculos pareciam desbotados, o olhar já não era meticuloso, estava desleixado, enquanto que o dedo médio da mão direita, que apontava com frequência para o teclado do telemóvel, estava murcho. E gaguejava! Mas o primeiro sinal de inquietação dos amigos foi o grandiloquente devaneio teórico, acompanhado de salamaleques, que os informou que apoiava o Comandante Guélas na guerra contra a Comuna do Bill, extinta há mais de 46 anos. Mas o anticlímax de timbre dantesco aconteceu quando um som intenso saiu pelas calças e causou uma tensão dramática entre aqueles que compunham a mesa, e o General Bidon gritou com escárnio, em tom de desafio. Só parou nas urgências do hospital! O Espalha estava inconsolável com a perda, lembrava-se dos tempos em que o amigo estudava com afinco na Faculdade de Medicina, via-o todos os dias no comboio para lisboa com uma pasta de executivo, que ele imaginava carregadinha de calhamaços, até ao dia em que se abriu e caiu uma laranja e o jornal “A Bola”. Eram quatro irmãos com mais de 100 kg, o Paivão, o Paivinha, o Toy e a Paivona. A menina após um festival de danças na Ginástica Rítmica do Clube Desportivo de Paço de Arcos, onde dançou ao som da banda sonora do Fernão Capelo Gaivota, passou a ser conhecida como o Bacalhoeiro. O Espalha chorou!