4ª Temporada - Acolitar (2)
Comandante Guélas
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Em Paço de Arcos, a terra do Comandante Guélas, o Querido Líder, que libertara a vila das garras do Bill, um social fascista do sporting que gostava de comer sopa de letras, “acotilava-se” à grande e à francesa, comportamento típico das populações pós revoluções. Quando o Focas e o mano do João Gordo entraram de rompante num quarto em Porto Salvo, o Pilas ainda não se tinha vindo, pediu paciência aos amigos, mas a pressa para irem para Cascais era tanta, que eles o ajudaram a acelerar o ato, apalpando-lhe o cu. Noutro canto da vila o mano do Bajoulo, o que tinha cara de papagaio, preparava-se para rumar aos Algarves na sua Honda 50, deixando no ar a promessa de ir “acotilar”, à grande e à francesa. Em frente ao café “Picadilly” os dois bólides do lendário Coronel Osório davam sempre os bons-dias aos primeiros clientes deste afamado estabelecimento comercial de Paço de Arcos, e as boas-noites ao Velhinho e ao Pilas, os melhores bebedolas, que acabavam invariavelmente a tomar chazinho num primeiro andar. E tantas foram as provocações dos Fiats que um dia a rapaziada fez-lhes uma homenagem. Tudo começou com uma repentina, e já habitual, necessidade fisiológica de grande calibre do Focas. Como o senhor Américo não arriscava deixá-lo utilizar as instalações sanitárias do seu estabelecimento comercial, sabendo que no dia seguinte iria, com toda a certeza, necessitar da ajuda dos Bombeiros Voluntários para expulsar o cagalhão dos canos, o Focas teve rapidamente de encontrar uma pia alternativa. Pela cara do mais famoso cagador de Paço de Arcos, o produto que vinha aí não era para brincadeiras. Mas, apareceu um carro da polícia com o Chefe Bigodes. A ronda diária assim o obrigava, neste caso noturna. Quando viu que as autoridades já estavam no lado oposto, atirou para o ar um grito de guerra:
- Ó CHUI!
Dito e feito, todos se piraram para dentro do café. Todos?! Todos não, o elegante Bigornas, proprietário da loja de fotografias mais elegante da vila, a Jomarte, “onde a sua cara de cu fica uma obra de arte”, permaneceu na esplanada, em sinal de protesto.
- Eu não tenho nada a ver com isto!
Ao longe o carro das autoridades permanecia com os faróis de “stop” ligados. Mas foi por pouco tempo! Quando arrancaram, regressaram em marcha de emergência e só pararam junto ao senhor Bigornas. O Chefe Bigodes saiu de rompante e ainda teve tempo de ouvir:
- Eu não tenho nada a ver com isso!
- Mostra-me o B.I.
- Não tenho aqui, está em casa, – e apontou para a janela do lado oposto da praceta. Nem teve tempo para mais nada.
- ENTRA, – ordenou o Bigodes, abrindo a porta.
Os amigos despediram-se à maneira, com adeuses piedosos, e gritos de dor, o Bigornas ousara desafiar a autoridade da vila. De repente o Focas regressou à realidade e correu desesperado para o prédio do Taka, dando um valente chuto na porta. Tinha acabado de ser informado da existência de uns quartos na cave, o local ideal para arrear o cagalhão. Enquanto fazia o servicinho, apalpou o terreno e deu de caras com vários sacos de serradura, pertencentes à drogaria ao lado. As comemorações ao Coronel Osório iam começar! Cada artista trouxe um saco de 20 quilos e alinharam-nos no passeio junto ao primeiro Fiat. A uma ordem do Focas, despejaram o conteúdo até fazerem desaparecer o primeiro popó do Coronel. Estava agora estacionado na praceta, junto ao célebre café “Picadilly”, um monte de serradura. Cinco minutos depois veio juntar-se outro monte. Segundo as testemunhas ouvidas no dia seguinte, o Osório tinha apanhado um ataque de caspa, como era de calcular, e fizera queixa ao Chefe Bigodes, que procedera de imediato às investigações, como era seu costume, tendo detido de imediato o primeiro cliente da manhã, o Cociolo, que tinha estado toda a noite na garagem da casa dos pais a pintar a mota com o mesmo nome.