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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

19
Out19

4ª Temporada - O Hipnotizador (4)


Comandante Guélas

Rasputine.jpg

4

Reza a lenda que a vila-Estado de Paço de Arcos foi por um dia possuída pelo primo do Rei Ghob, e o primeiro sinal apareceu quando o povo deu de caras com o Laranjão, pai do Zé das Cápsulas, armado em polícia sinaleiro com um penico na cabeça, tentando orientar um carro fantasma, dirigido em pé, como era costume, pelo João da Quinta.

- É o Hipnotizador!

O primo do Rei Ghob pôs o Charlot a comer uma batata crua como se fosse uma maçã, a terceira fila adormeceu instantaneamente com um estalar de dedos, e deixou a vila enfeitiçada durante alguns dias. O ex social-fascista Bill, e atual capitalista macaense, perguntou as horas a um bombeiro no final de um treino de Andebol, e quase foi linchado pelo próprio:

- Qual é o nome do soldado da paz?

- Álhi!

- Senhor Álhi, faz-me o obséquio de dizer as horas?

Levou de imediato com uma saraivada de calão, misturada com uma gargalhada geral.

O Espalhinha fora vítima de uma troca de identidades, no dia em que tentou contactar o irmão do Tolas Monas, o Zé:

- Chama-se Jeremias!

Durante anos chamou Jeremias ao senhor, nome de um burro famoso duma série na televisão. Numa noite, já de madrugada, a Padaria “Aveirense”, de Silva & Sousa Lda., rua dos Fornos, nº 17/17B e 17, foi visitada por uma destas turmas, constituída por adolescentes de boas famílias. Recuemos umas horas, para tentarmos perceber o que levou aqueles “meninos de bem” a fazerem uma visita de cortesia à célebre Padaria. A noite ainda era uma menina, e a festa na sede velha do Clube Desportivo de Paço de Arcos ia de vento em popa. O irmão mais velho do primeiro marido da Tita-dos-Pés-Sujos controlava a música, e debitava freneticamente os vinis gamados aos amigos, fazendo abanar o edifício. O irmão do Citron até já tinha dado um golo numa cerveja de litro, que estava escondida debaixo de uma mesa, mas em vez de cerveja bebera mijo, e do rijo. Dois pigmeus de blusões negros, vindos de Porto Salvo, estavam parados junto ao Salão de Dança e tinham colocado os seus capacetes no chão, um em cima do outro, num local de passagem.

- Quem se atrever a tocar-lhes, morrerá – ameaçaram, coçando os tomates.

O jovem Milhas já se tornara no convidado mais chato da festa, pois ultrapassara a fasquia das cinco “bejecas” e andava perdido na dança, à procura duma vítima. Quando se cruzou com os capacetes deu-lhes um chuto à Eusébio, atirando-os para o meio da multidão. O anão mais próximo nem teve tempo para o homicídio, pois o Milhas agarrou-se de imediato a ele e levou-o para a dança, talvez confundindo-o com a “Huga Huga Lagosta”. Entretanto, o Velhinho conseguira deitar a mão a uma caderneta com senhas que estavam junto ao homem da caixa, e estava a distribui-las pelos amigos. A azáfama no Bar era enorme, os produtos esgotaram-se num abrir e fechar de olhos.

- Isto é que foi um grande negócio, vendemos tudo! – Disseram os responsáveis, fazendo um sinal com o polegar para o colega que estava na outra ponta da sala, mais propriamente na caixa.

Mas festa em Paço de Arcos não era festa, sem uma carga de Litopone (Ácido Muriático+Litopone), e como sempre fatal! A noite já ia longa quando o Gang foi arejar para o exterior, encostando-se à “Padaria Aveirense”. O pior foi quando as bexigas começaram a apertar e a vontade para mijar atingiu a “redline”. A pouco e pouco os membros do Gang viraram-se para a parede do estabelecimento comercial e começaram a verter águas. Os que tinham só parede, para a parede olharam, mas os que ficaram com as janelas à frente, depressa descobriram que a loja estava recheada de guloseimas. Cinco minutos depois, o Gang de brancos estava ao balcão da “Aveirense”. Mais cinco e já todos corriam em várias direções da vila, levando nos bolsos rebuçados do Doutor Bayard, Sugus, Chocolates “Sombrinhas”, queques, amendoins, favas fritas, Vinho Rosal, Rebuçados “Bola de Neve”, Tabaco, e tudo o mais que caiu na rede. A única pista foi dada por uma testemunha anónima que viu um indivíduo, às três horas e dez minutos, com um caixote de produtos à cabeça, junto à linha do comboio. Consta que era o célebre Focas das Docas. Mas houve um paçoarcoenese que ficou para sempre hipnotizado, o Milhas, que continua à porta do Cineteatro à espera da devolução do preço do bilhete, como prometera o artista a quem subira ao palco.

05
Out19

4ª Temporada - O Todo Boneco (3)


Comandante Guélas

Boneco.jpg

3

O cartaz prometia, o filme era de máximo terror, a Idade Média o cenário, e os vampiros bronzeados tinham nos pulsos as marcas dos relógios. O gang ocupava duas fileiras de cadeiras na parte mais fina da plateia, a segunda, cujas cadeiras continuavam a ser de pau, mas um pouco mais luxuosas, tinham espuma, comprada no António da Lúcia, que atenuavam a “dor-de-cu”, reservada para os utentes das duas primeiras filas, o Ánhuca, o Ratinho Blanco, o Pedro da Avozinha, o João da Quinta, o único preto, o Fernindó e o resto dos habitantes de Paço de Arcos profundo. A festa começou logo na primeira dentada, quando o Zézé Camarinha local deu o ósculo fatal no pescoço duma donzela distraída, que resolvera ir fumar um cigarrito às cinco da manhã para a Cova da Moura lá do sítio. Tocou um despertador. O Pirilampo veio a correr e acendeu a lanterna, não para arrumar um espetador, mas para tentar localizar o prevaricador. Só havia santinhos. A luz desapareceu e ele ficou em alerta máximo no local. Nova dentada, seguida agora de um barulho de pato, apetrecho para a caça e propriedade do Conan Vargas. Desta vez o barulho vinha da parte de trás e da ponta oposta. A lanterna tornou a acender-se e varreu a zona. O público adolescente estava todo atento ao desenrolar do filme e não era para menos. Uma das vampiras tinha aparecido agora em todo o ecrã com as mamas de fora e isso num filme no Cineteatro de Paço de Arcos correspondia a encontrar uma agulha num palheiro. E a seguir a esta cena veio outra, o caçador de vampiros resolveu dar um beijo apaixonado numa camponesa a cheirar a alho, que o mauzão do castelo queria trinchar. Aconteceu o habitual, o Todo-Boneco, um conquistador de bairro genuíno, que picava em todas as sopeiras da vila e arredores, fez, pela milésima vez, o seu único comentário reservado para estas cenas íntimas:

- Espera aí que já cospes!

Risota geral, cartão amarelo do Pirilampo. De novo o despertador, seguido do pato, de um apito de árbitro, de castanholas, que puseram o atento Pirilampo à beira de um ataque de nervos, sem conseguir dar o vermelho a ninguém, porque mal deu à luz caiu um silêncio sepulcral, a condizer com o momento. Chegou o intervalo, que permitiu restabelecer a circulação sanguínea dos cus da plateia e normalizar os níveis de nicotina nas veias. Foi nessa altura que todos reparam que o bombeiro voluntário de serviço era o Álhi. Quando as luzes se apagaram o pato, o despertador, o apito, as castanholas, foram substituídos por ininterruptos “Álhis”, que não deram descanso ao Pirilampo e ao Bombeiro. Também se gritava “Tó Pi Tói”, outra maneira de irritar o Álhi que, segundo os colegas de carteira da primária do dito soldado da paz, queria dizer “senhor professor”. Ainda hoje, já reformado, reage a estes dois chamamentos quando algum pai ou avô o avista. Os comandos têm o “Mamma Summe”, os paço-arcoenses o “Álhi” e o “Tó Pi Tói”.

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