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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

30
Abr20

4ª temporada - O Boquinha de Milho (8)


Comandante Guélas

 

Hoquei 2.jpg

8 

“Certamente vocês, a nação paçoarcoense, conquistarão a vila. E quão maravilhoso será o seu comandante, o Comandante daquela nação. E quão incrível, quão maravilhoso será o exército daquela nação, assim como a sua equipa de hóquei!” – Tenente Proveta ao dar início à invasão do Sul comunista.

Os flatos do Focas eram sons que doíam, e atingiam sempre a débil fronteira das lágrimas do Kid Aromas, que naquele dia histórico tinha o peito mais enfunado do que a vela de um galeão. A complexidade religiosa paçoarcoense era assinalável, por isso o irmão padre do Sarapito dizia que a vila-Estado era uma repartição do Céu na Terra, com alguns empréstimos feitos no Inferno. O Alerta PA do dia informava que o Dr. Protético, irmão do Vitinha, arrancara vinte dentes ao Tubarão e ninguém gritara “pecado”! O regresso do Bill à Mãe-Pátria não trouxera só três magníficos, mas sim uma equipa inteira no porão, sinal de que o mister já tinha adquirido muitos hábitos chineses. E cada atleta trazia escondidos na sua bagagem quadros de cavalos e de toiros assinados pelo Boquinha de Milho, um velho sem maxilar inferior, que passara o resto da reforma a fazer desenhos no café “Oceânia”. Mas o Bill trouxe também felicidade à vila, porque mal pôs um pé em terra o Manel Canocha, irmão do general Titó e do Joaquim, o comuna mais empedernido de Paço de Arcos, dera o berro, deixando vaga a casa ao lado da Dízima e por baixo da Elisinha Explicadora. Na escola, do bando de comunas, só o Bill chegou longe, porque depressa aderiu à causa guélanista, passando a limpar o cu aos ensinamentos do camarada Lenine, uma múmia do Kremlin que morrera atestado de sífilis, borgalhotas e piolhos. Aliás, fora o mais novo dos titós que dera o alerta ao jornal da terra, o Avante Bilov: “morreu o Keidas com um tiro nos cornos”. Por Keidas queria dizer Kennedy! E apesar da notícia estar um pouco atrasada, o Bill escreveu-a na mesma, tinha de dar nas vistas se queria ter um futuro como jornalista da LUSA. Mas o dia corria-lhe bem, as notícias eram em catadupa, o Lourenço, dono da Plim-Auto na terra dos pés negros, onde o Choné mandou arranjar um R5 “Alpine”, preto, de jantes alargadas, com que o Focas e o Chinoca se espetaram na curva da casa dos Baptistas, que queimaram a cabeça do vizinho Milhas, que mais tarde se casaria com a Sesaltina, vizinha do João da Quinta e do Zé dos Porquinhos, despistara-se na curva das Fontainhas com o seu Matra de fibra de três lugares, com uma puta com casaco de peles e o Ferramenta, e este por não ter o cinto foi fazer companhia com aquele que andara a comer a Marilyn Monroe, Marie Hemorroidas para o Keidas.

- Vai tudo expulso do bar, - ameaçou o senhor Daniel.

Mas o escândalo dos quadros falsos do Boquinha de Milho ocupava a primeira página. O Luis de Espanha descobrira, no Arvoredo, que ele copiava os desenhos por cima, decalcando-os em casa, para depois dar a impressão de ser um artista de renome mundial. Foi expulso do café pelo dono ofendido que, por ser uma atração, dava-lhe comida à borla. Assentou arraiais no café “Oceânia”, e deixou um seguidor, o irmão da Marina, que fazia o mesmo usando outra técnica, projetar desenhos numa tela e copiá-los.

29
Abr20

4ª Temporada - Mister Bill (7)


Comandante Guélas

Balatuca.jpgEscoto.jpg

João Gordo.jpg

7

Quando o Bill apareceu na porta do Aeroporto Internacional Quitéria Barbuda, acompanhado pelas estrelas do Clube de Hóquei de Wuhan, e assessorado pelo Zé Pracana, já sabia que a comunicação social o esperava em massa para ouvir as novidades:

- Acabei de chegar de Macau e trago-vos uma novidade, consigo curar qualquer doença!

- A mim curou-me uma “hepatita”, - interrompeu o Balatuca, capitão do “Irócusaicaro”.

- E a este leitão, - apontou para um gordo, - curei-lhe uma “Úrsula”.

- E o espigadote, teve alguma maleza? - Questionou o jornalista Clarke Kent da TVI.

- Uma "hepatita azar", e curei-a com água envenenada pelo esgoto do Manelinho, e com carne das vacas loucas.

- Mister Bill, tiveram a estagiar na Tunísia?

- Correto!

- E o que é que viu no subsolo?

Houve uma hesitação momentânea, logo superada após uma indicação do assessor, que segredou:

- Azeite!

- Última questão, o que é que lhe apetece fazer em primeiro lugar, agora que regressa à pátria paçoarcoense com os três magníficos?

- Montar!

Mas o Bill só montava no Guincho. Por isso quando chegou ao café “Iolanda”, que vendia meio-gordo dentro de uma garrafa de Sumol com palhinha à Quitéria Barbuda, perguntou:

- Quem é que quer ir montar?

Braços no ar.

- Mas tu já alguma vez andaste a cavalo? – Perguntou o Peidão, ao Chinoca.

- Eu tenho uma “Maxi-Puch”.

No Renault 5 que o fora buscar estava um amigo misterioso do Bill com chibata, botas de montar e cara de mau.

- Eles podem vir connosco?

A excursão rumou para a Aldeia da Areia, onde seriam alugados os animais. Quando os bichinhos foram entregues o Chinoca quase que saiu à carga, porque pensava que “Cavalo” e “Peidociclo” era tudo da mesma família, e por isso acelerou a fundo.

- Têm a certeza que o vosso amigo sabe andar de cavalo? – Perguntou o dono do picadeiro ao ver que o rapaz com cara de oriental não tinha qualquer vestígio de técnica de acompanhamento do trote, indo por isso a bater violentamente com o traseiro na sela e a enredar as rédeas nas pernas.

- Ele está habituado a montar as éguas em pelo!

O jovem com cara de mau tomou a dianteira passando com um ar de desprezo por todos. A sorte devia-se ao facto de os cavalos estarem habituados a andar uns atrás dos outros e assim o do Chinoca teria poucas hipóteses de fugir. Atravessaram a rua e embrenharam-se nas dunas. Alguns metros mais adiante tiveram de reduzir para passo, pois era necessário poupar o rabo do chinês. Mas aconteceu o primeiro dos “previstos”, quando um ramo baixo lhes apareceu pela frente. Todos puxaram pela rédea esquerda e contornaram o arbusto, exceto o Chinoca que seguiu em frente e chocou contra o obstáculo. Passou o bicho e quase ia ficando o cavaleiro, caso não se tivesse deitado sobre a cabecinha do animal, folgando as rédeas e soltando os chinelos de quarto dos estribos. Ainda houve tempo para apostas, ganhando a opção “queda”. Valeu o sangue frio do futuro pai do Chico, que encostou a sua montada e segurou o animal. Pausa, o chinês estava mais inclinado do que a Torre de Pisa, e à medida que ia descaindo puxava as rédeas, arriscando-se a sentar o alazão no colo. Quando o líder o informou dessa hipótese, tirou as mãos e caiu na areia fofinha. Pôs-se logo ali uma dúvida: como é que ele iria montar, uma vez que não havia a escada do picadeiro? Veio-lhe à memória o paçoarcoense da Quinta Divisão e da falta que ele lhe fazia naquele momento. Caso fosse um dos presentes, mandá-lo-ia agachar, como já era costume. Depois bastaria saltar-lhe para a espinha e montar. Mas a realidade era outra! O Chinoca teria de se desenrascar, nenhum dos presentes queria fazer de militar de abril. Foi o que fez, meteu o bichano na parte baixa de uma duna e saltou-lhe para cima. Como o tempo já estava a escassear, foi necessário recorrer ao galope, porque senão nunca chegariam à Praia Grande. Ao chegarem ao Guincho cada um escolheu o seu ritmo e, de uma maneira geral, a carga foi a velocidade que imperou. Quanto ao Chinoca, optou por parar, largar o volante, enrolar um cigarrinho, ao mesmo tempo que dava folga ao rabo. Só que este tipo de cenas não eram as mais aconselháveis no momento, porque o animal cheirou o chão deitou-se de imediato, atirando o adolescente com cara de oriental de pantanas tendo, no entanto, ainda conseguido dar a última “passa” antes de aterrar. O futuro pai do Chico, que estava na outra ponta da praia, nem queria acreditar no que via. O cavalo do Chinoca parecia um cão a coçar-se no chão e quando a festa acabasse de certeza que iria a Cascais tomar um copo. E quem tinha deixado o Bilhete de Identidade, aliás o único a levá-lo, tinha sido ele, como prova que eram todos “bons montadores”. E o seu Renault 5 não valia nem metade de um burro sarnento, quanto mais um cavalo inteiro. Ficaria de certeza a lavar cavalariças o resto do ano e estragaria as suas botinhas com brilhantina. Meteu “prego a fundo” e conseguiu chegar a tempo. Quanto ao Chinoca, queria era regressar a pé, alegando já ter o traseiro em chamas e não querer ser confundido com algum revolucionário tresmalhado. Conseguiram convencê-lo a dormir nessa noite de barriga para baixo, para que as marcas no mealheiro desaparecessem. A partir dessa data o futuro pai do Chico optou ir sempre pelo picadeiro e longe dos meninos de Paço de Arcos.

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