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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

27
Mai20

4ª Temporada - Pinga Amores (11)


Comandante Guélas

Pinga amor.jpg

11

Dizem que em Paço de Arcos há muitos gémeos, mas não sabem que o são, porque partilham o mesmo fígado, e só quando o garrafão se parte é que eles se separam. Foi isso que aconteceu entre o Pingamisú e o Zé Maria Pincél no momento em que este se casou com a Macaca. Sempre que há uma mudança de regime pela força, o povo reage com um babyboom. Paço de Arcos não foi exceção, mas ficou-se pela intenção. Só o Manelinho da Carroça é que somava e seguia, pois para ele a mulher não passava de uma ovelha, por isso cobria-a em todas as ocasiões, estivesse a cagar ou a lavar roupa nas pias da Terrugem de Cima. Acabou por perde-la para um polícia:

- Vi-a a correr e a deixar cair o último puto das saias!

Em Paço de Arcos houve nesses tempos revolucionários várias adolescentes que deram cabo das cabecinhas de muitos rapazes. E o problema chegou às mãos do Delegado de Saúde da vila-Estado, o Dr. Focas das Docas:

- Isto já me cheira a pandemia, quanto mais perto chegam do Arvoredo, mais tesão têm os miúdos.

- O Zé Cagalhão passa a vida debaixo da janela da Lena Lentes no Mustang do pai, que abana por todos os lados - informou o enfermeiro Alpedrinha preparando as injeções para os dardos.

- Vamos ter que tomar medidas de confinação!

- E anda por ali um gordo de óculos com comportamentos suspeitos.

- Um gordo de óculos?

- Dizem que é o que tira fotos para os passes dos estudantes.

- O Bigornas? Não, o problema dele chama-se Kika, e a menina só o chama quando tem falta de gás butano.

E tinha razão, o Bigornas estava dobrado sob o peso de uma bilha, que a alemã insistia que levasse para o primeiro andar. O Monhé acumulava filmes para adultos e não saía de casa. Fora apanhado na caixa do supermercado com o Mac Macléu Ferreira, o produto não ostentava o preço, e a moça teve de perguntar ao chefe:

- Silva, qual é o preço desta cassete?

- Qual é o título?

- Garganta Funda, doze anos depois!

O Milhas não largava a porta do restaurante do pai da Huga Huga Lagosta; o Zé Maria Pincél fazia contas à carteira da Macaca. A gota que fez transbordar a paciência do Dr. Focas das Docas foi produzida pelo Graise, quando informou os amigos de que aquela festa era “só para orientados”, ao mesmo tempo que dava um beijinho carinhoso na sua namorada, uma indonésia anã!

- Terá Sísifo sido alguma vez feliz? – Gritava sempre o Bajoulo de cada vez que ia buscar a Tita dos Pés Sujos.

Foi nestes breves segundos existenciais de lucidez, que o poeta oficial de Paço de Arcos escreveu os mais belos poemas: “Numa noite de copos / Com o meu chouriço rijo / O teu nome escrevi / Com um jato de mijo!”.

O único amor que o Bill sentia era pelo partido, por isso sempre se sentiu atraiçoado por o terem obrigado a casar-se com a causa guéliana, mas precisava dela para conseguir sobreviver naquele meio hostil aos trabalhadores. Foi por isso que um dia o Taka Takata se aproximou dele na Praceta, vestido de varredor:

- Camarada Bill junta-te ao meu grupo terrorista: “AL-TAKA!

A cabeça do Bill estava longe dali, o que presenciara na ex-roulote de cachorros do senhor Carlos & Pedro Pomme-de-Terre, atual Mocho, o Bruxo, estacionada junto do Coreto, pusera em dúvida os seus ideais comunistas, sentira o bafo de Deus. Recuemos. Pierre-Pomme-de-Terre anunciava a Parusia, na altura em que o jovem comunista saía de mais um comício. O apóstolo dizia que aquele que se escondia dentro da roulotte dera-lhe como prova um cálice com pingos de mijo extraídos da relíquia paçoarquiana, as veneradas Cuecas do Bajoulo, a última tentação da Tita dos Pés Sujos, nascida na Quinta do Ferreiro, em Moscavide, e benzida pela Quitéria Barbuda, a mulher martirizada pelo Craveiro Lopes, com visões vínicas, afetada pelo Sumol de Laranja com palhinha dada pelo Jorge Vira Bicos da Iolanda.

- São dois pingos grandes e três mais pequenos, - gritou Pierre Pomme-de-Terre abrindo os braços para a multidão.

Foi nesta altura que o Bill se benzeu pela primeira vez, e os que o rodeavam gritaram “milagre”.

05
Mai20

4ª Temporada - O Terrorista (10)


Comandante Guélas

Bill.jpg

10

Quando a “Limousine de Luxo” CI-90-20 do Tribunal do Santo Ofício da República Independente do Alto de Paço de Arcos (TSOR) passou pela porta do Papagaio, dirigida por um agente com um cabelo à caniche, a deslocação do ar deitou os guardanapos, as pevides e os tremoços do Pinguim abaixo, levantou as saias da Maria das Bicicletas, deixando à vista o Cabrita, que estava a mudar o óleo, e o Todo Boneco gritou da porta do Manuel da Leitaria:

- Espera aí que já cospes!

Era a senha para avisar da presença de um comunista. Até um cartaz a anunciar o espetáculo no coreto do grupo “Laranjão e mais três”, autores da famosa música “O Leproso”, foi arrancado da parede por um vento e por uma tempestade inesperada, brilhante, veloz e aterradora, como se fosse, não do domínio do ar, mas do interior obscuro de um intestino.

- O Focas anda aí! – Gritou a Tita dos Pés Sujos, escondendo-se debaixo das cuecas do seu Bajoulo.

- Porque é que eu vim para este mundo? – Interrogou-se o Milhas, tirando a cautela das mãos da Blandina, pagando e fugindo, deixando o Velhinho perdido nas divagações filosóficas da escolha do número da sorte.

O Carocha virou bruscamente para os lados do Cineteatro e parou junto ao Chalé da Merda, onde já o aguardavam o Citroen AV-11-94, o Opel EU-13-12, o Mini FF-62-88, o Citroen GZ-65-33, o Peugeot BM-18-35 e o Renault BU-13-78, o GS-21-11, o Chevrolet da Proteção Civil FC-79-02, o AT-66-70, o Escort LA-91-40, o DI-81-76, Alfa Azul, o EH-87-44, Alfa Branco, HS-35-32, Alfetta, com o pai do Bajoulo, conhecido como o Paiol Móvel do Comandante Guélas, o BU-91-40, o BU-13-78, e o INEM, na pessoa do Dr. Rof, um FIAT 217 Branco com duas matrículas, uma à frente e outra atrás, FC-75-25 e FR-43-07, para confundir o inimigo. O briefing do Luís de Espanha foi rápido e conciso:

- O social-fascista Bill sequestrou a cidadã Espirro de Punheta e refugiou-se aqui no Centro Cultural de Paço de Arcos, ameaçando abusar da menina se o Focas não pedir desculpa ao camarada Rodrigues pelo cagalhão que fez atrás da poltrona, no Farol. O meliante está cercado, por terra, ar e mar – e apontou para os carros, para a saída de esgoto da Praia Velha, bloqueada pelo zebro de dois metros cujo motor tinha 1 burro de potência, do fuzileiro Horta Correia e para os pombos no fio da puxada elétrica clandestina do Tubarão, que cruzava o espaço aéreo da área do crime.

Segundo a estatística do Centro de Estudos João da Quinta pelo menos 10% da população andara no CI-90-20, incluindo o Lopes, o mais famoso cão da vila, propriedade de um dos Latifundiários Culturais da vila-Estado, Daniel José Martins de Almeida, nascido no dia 29 de outubro de 1955 e com morte anunciada para o dia 22 de março de 2008, segundo dissera a Mulher-Serpente da Feira de Nosso Senhor Jesus dos Navegantes. Na praceta havia um mini branco, IE-37-52, que lhe fez sombra, propriedade de um capitão que tinha gostinhos em ver adolescentes a guiá-lo, ajudando os petizes a pôr as mudanças. E um dia a “Limousine de Luxo”, que tinha uma autorização para circular nos tempos “negros do fascismo”, por ser da mesma cor dos carros da PIDE e do Exército, apareceu no meio do jardim da Praceta, e o João Gordo informou os clientes da promoção:

- A quem levar 1 Kg de carne os filhos têm direito a brincar dentro daquele carro, colocado pela CMO, como no Parque do Alvito.

Recuemos no tempo. Uns dias antes o Focas, acompanhado dos seus amigos Pontas e Sarapito, tinha ido divertir-se para os lados de Cascais, mais propriamente para a discoteca da Estalagem do Farol, o equivalente à Riviera Francesa, e a uma dada altura teve uma cólica fortíssima que o obrigou a arrear um formoso cagalhão atrás de um dos sofás, limpando o cu a um livro que estava em cima de uma mesa, “O Capital”, de Karl Marx, pertencente a um jovem pseudointelectual da UEC de nome Bill. O cheiro era tão intenso que o Pontas desmaiou num canteiro durante a fuga. A negociação estava num impasse, a Espirro de Punheta gritava desesperada:

- Senhor terrorista não és homem não és nada senão abusares de mim.

- Agarrem-me ou eu salto para as cuecas dela, - gritou o Bill empunhando uma bandeira do PCP.

O desbloquear da situação só poderia ser resolvido pelo único expert em diálogo e reconciliação, o inspetor Zé Maria Pincél.

- Este vai conseguir, ele sabe o que faz!

Zé Maria Pincél torturou um dia o Horta na casa da Katy quando começou a namorar com ela, depois de ter levado uma dentada durante um linguado do seu ex, o Peidão, por eventuais crimes cometidos no infantário, onde o Horta lhe chamou “gorda”, obrigando-o a ajoelhar-se e a pedir-lhe desculpa. Aliás, a fama de ter um sentido apurado de justiça manteve-se ao longo da idade adulta, quando barrou a entrada ao Caveirinha na quinta da Macaca, acusando-o de ter invadido o espaço no passado. Quando confrontado com a verdade, também participara no delito, respondeu com a lógica que lhe era característica:

- Eu já previa ficar noivo desta gostosona, como tal não invadi, porque já era proprietário!

As portas do Chalé da Merda abriram-se de rompante, saindo de lá um terrorista em pânico, perseguido pela Espirro de Punheta que o ameaçava comer até ao tutano. O jovem só sabia tomar decisões erradas, abraçara o comunismo, e escolhera raptar uma meia-fêmea faminta. O Comandante Guélas condenou-o a um internamento no Campo de Reeducação dos Milhas, dirigido pela Ester e a Arlete!

 

01
Mai20

4ª Temporada - O Mistério do Fritz (9)


Comandante Guélas

Lourenço.jpg

9

Quando o Milhas abriu a carta mal sabia que estava a escancarar a Caixa de Pandora, que na vila-Estado de Paço de Arcos dava pelo nome de Caixa do Alice, o primeiro cidadão vítima dos amigos do Bill a trazer para o local a folha mágica dos retornados.

- Uma fotografia?

E se o presente fosse de algum admirador secreto? No verso estava a identificação das oito pessoas: da esquerda para a direita, o Manuel Almeida, fadista que cantava sempre grosso, o Humberto, o Lourenço, irmão do anterior, o Fritz, um desconhecido, o Rocha, fadista, o Rodrigo, fadista e o Julinho do Arreda. O Milhas elevou as sobrancelhas e gritou:

- Fritz?? Mas sempre ouvi falar dele como um homem loiro! Isto só pode ser uma armadilha do Espalha, a gozar comigo e com o meu muro. Porque é que eu vim para este mundo?

Estava lançada a confusão lá para os lados da Quinta da Moura, onde um humilde cidadão em quarentena acabava de ser atacado por algo mais poderoso do que o Covid: o Fritz! E para agravar isto tudo o Laranjão, pai do Zé das Cápsulas, tinha convidado o Milhas para a Bio DanZa no Clube Desportivo de Paço de Arcos, onde no antigamente o Rato exibia mortais nos saraus.

- Estás a chamar-me panasca, - protestou o Milhas. – Mas porque é que o pessoal do Futebol PA me persegue? Porque é que eu vim para este mundo?

Quem lhe mandara a fotografia sabia os danos que iria sofrer. Olhou para o Lourenço e lembrou-se do Ferramenta, um admirador convicto, tal como ele, do Sandokan, que criara uma personagem mística, o Avô Leão, parecido com o Carinha da Avó, que tinha ameaçado de morte o Milhas, no Marginalíssimo, com uma enxada.

- Fritz?? Mentiroso, - gritou o Milhas na direção, não de Meca, mas da casa do Espalha.

O Luís de Espanha sabia que o Milhas nunca seria capaz de reconhecer o Fritz antes do acidente de mota com o Lourenço, que já tinha aviado o Ferramenta no seu Matra Simca, que lhe mudara toda a panorâmica da tromba, e por isso a cabeça do ex-vizinho iria começar a borbulhar, da mesma maneira que acontecia quando via o Vasquinho, o baptistinha que era ameaçado de cada vez que não queria comer a sopa:

- Olha que eu vou chamar o Zé da vizinha!

O Milhas tornou a olhar para a fotografia

- Será o Vasquinho, o amigo do Bufas? O Cara Alegre? Não, esse era anão! Foda-se Espalha, estava eu aqui tão quietinho, que mal é que te fiz? Porque é que eu vim para este mundo?

Mas havia outra armadilha na fotografia, além do Fritz, o amigo do Lourenço, que acabara de se finar a ver televisão, e vivia na altura na Amoreira, e presentemente em Paço de Arcos. Por isso o Milhas arrebitou de novo as sobrancelhas quando deu de caras com ele:

- Quem é este??? O Nortadas em modelo fashion?

O Luís de Espanha não olhava a meios para atingir os fins, desestabilizar o ex-vizinho Milhas, com esta dúvida existencial pretendia que o amigo tivesse necessidade de telefonar ao Fininho para esclarecer as dúvidas que lhe iam torrando lentamente a alma.

- Calma Zé, não te deixes destabilizar pelo arquiteto de meia-tigela. A foto foi tirada no Dom Rodrigo em Birre, o Rodrigo está aqui e deve ter uns 78 anos.

A custo lá ligou ao Fininho, e este respondeu sem qualquer tipo de dúvidas:

- É o Fritz Moka!

Desligou com raiva!

- O Fritz?? Burro Zé, burro, mas ainda tinhas dúvida de que lado é que estava o Fininho? Ele embirrava comigo mesmo quando não ia jogar, não era agora que iria contrariar o Espalha?

Uma coisa o Milhas tinha a certeza, o Fritz era loiro, parecia um alemão, e não acreditava que mudaria a cor do cabelo depois do desastre. Resolveu telefonar ao Choné.

- Não é o Fritz, foi meu vizinho durante quinze anos, - respondeu o jogador careca e coxo com convicção.

- Eu tinha a certeza, - gritou o Milhas com as sobrancelhas arqueadas. – Isto é um complot do Espalha e do Fininho para destabilizar a minha quarentena. São piores que o Covid, só malta muito má é que me envia uma fotografia com quarenta anos.

O Milhas sabia que tinha uma conexão mística inversa com o Fritz Moka, ele havia ganho 3500 contos na lotaria de Santo António de 1983, vendida pela Blandina, cujo número foi recusado pelo Velhinho por estar sóbrio, tendo escolhido outro, e o Fritz perdido oitenta escudos a jogar à lerpa a tostão. O Milhas demorou tempo a recuperar do ataque vil do Espalha e do Fininho, por isso ainda telefonou raivoso para o Marreco:

- Bossu, deves 5 coroas ao Pontas, que pediste emprestado à porta do senhor Silveira em 1975, e depois piraste-te para a Bélgica!

- Esqueci-me da carteira!

Como o Bossu morava no Bairro Social do Rosário em Cascais, mas dizia que vivia na Quinta da Marinha, o Milhas desligou com desprezo.

- Espero que encontres o Espalha e o Fininho!

Sentou-se recuperado no sofá, puxou para o seu colo os jornais da vila-Estado, o Praia Velha Times, semanal, e o Charlot-Niús, diário, e começou a ler a coluna de opinião do Bill de Gatas: “Espíritos vieram cá abaixo e disseram que a minha avó morrera de bubadeira”!

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