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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

30
Jul20

5ª Temporada - A Pescaria (3)


Comandante Guélas

 

Fininho rua.jpg

3

- Pesseguinho, - chamou o senhor António de Barros quando viu passar junto à sua banca de panos, na Rua Direita, o jovem Laranja, atleta de alta competição da seleção de andebol da República Independente do Alto de Paço de Arcos, dirigida pelo carismático Comandante Guélas, que anexara a parte de baixo e se declarara Querido Líder.

Quando o Bill chamou pelo Avô Leão, herói de Paço de Arcos e marinheiro afamado, companheiro de carteira do Patrão Lopes, ambos alunos do Professor Lebre, trisavô do Professor Coelho, já estava a meio do rio Tejo, a nadar de costas, com os sete netos na barriga e um canhão de bronze na peitaça, para a pesca da petinga. De regresso à vila-Estado, a questão da alemã era se esgalhava ou não esgalhava o ganço do Sarapito, que vinha em estado alcoólico no banco de trás do carro do Pilas, que dirigia o bólide em coma alcoólico, tendo como copiloto o Velhinho, o mais sóbrio. Triunfou o prazer, agarrou-se com unhas e dentes ao frango do amigo, e só o largou quando este lhe começou a queimar a mão. Do prédio dos Grilos, onde fazia limpezas, saiu apressada a Quitéria em direção à gare, local onde levantou as saias e fez a mija do costume. Mas no prédio nº 155, onde também limpava as escadas, dava sempre confusão, pois havia um grupo de rapazes que se juntava no último andar para se meterem com ela, que os ameaçava com a escova de arame, altura em que alguns tinham um gostinho. O seu amante António Filipe, que nascera em 1918 em Requeixo, Aveiro, e que viera viúvo para a Costa do Estoril, ganhara a alcunha por causa da visita que um dia o Presidente de todos os portugueses fez à vila, e quando se encontraram o chefe de estado disse-lhe que era muito parecido com ele. E assim nasceu o Craveiro Lopes de Paço de Arcos, o equivalente ao Beato Salú de Évora. Mas a rapaziada andava danada para a brincadeira, escrevera “caralho” numa tabuleta da carripana que ele puxava, carregada de linhas e tecido que vendia na praça, e a polícia prendera-o, a ele e à sua fiel companheira de quatro patas, a Laurinda. Quando regressou à vivenda de madeira na Terrugem de Cima, deu-lhe uma cólica tão grande que não teve outro remédio do que ir descarregar o conteúdo intestinal na quinta do Leacock, e por sorte não acertou no novo filho que a Maria Adelina abandonara no meio das ervas. Era a quarta criatura, o anterior ficara numa escada em cascais, e o seguinte iria diretamente do hospital para adoção, e a mãe sairia esterilizada. Os pais, a Amélia da Silva e o Luís Costa, tinham tido cinco moças, a Isabel Virgínia, a Maria de Lourdes, a Rosalina, a Graça, a Adelina e a Arminda, mas não havia ninguém que batesse o Manelinho da Carroça, dezassete rebentos, sem ver a luz do sol, tal como o Conan. O Caveirinha deliciava-se com as obras do Espanhol da Rampa, o maior pintor da vila, mentor do Zé Maria Pincel, e para impressionar a Espirro de Punheta fazia considerações sobre o autor:

- Este pintor transportava vinho nas latas de tinta!

E como estava numa onda de cultura, levou a amiga a conhecer os azulejos do Chafariz Velho:

- A água que sai desta bica vem da Quinta do Barro, propriedade do Julian Philip Leacock, um abastado inglês que se naturalizou paçoarcoense depois da vitória do Querido Líder. Um dia entramos neste túnel para te mostrar o meu gambozino.

No alto mar, na Cova do Vapor, dois paçoarcoenses da elite de pesca brava lutavam furiosamente contra um peixão que ameaçava afundar o bote do Pilequinhas. Estavam ambos, o Dr. Cinzento e o Toquinhos, pendurados na cana do médico:

- Cheira-me a “marlin”, - gritou o pescador responsável pela montagem de metade dos painéis solares da vila-estado que produziam eletricidade clandestina.

- É um espadarte, - sentenciou o doutor responsável por arrebitar as mamas de metade da terra do Comandante Guélas.

Nem “marlin”, nem espadarte, mas sim um fabuloso robalo com 120 gramas e com uma camisa de vénus encravada na cauda. Mas o dia não era para descanso, o guizo da cana do montador clandestino começou a guinchar e ambos se precipitaram para o carreto.

- Cheira-me a atum, - tornou a gritar o Toquinhos Castanho.

- É uma anchova, - sentenciou o Dr. Cinzento.

No anzol estava uma fataça, com uma das inúmeras cigarrilhas que o médico atirara para o rio ao longo do dia, na boca.

24
Jul20

5ª Temporada - A Seleção (2)


Comandante Guélas

Rato.jpg

2

 

Em Paço de Arcos há mortos muito mais vivos do que muitos vivos. Na Folha Oficial da República publicara-se a verdade histórica, a Quitéria da Silva e a Maria Emília eram filhas do mesmo pai e da mesma mãe. O senhor José, arrumador de carros do restaurante “Os Arcos”, era meio-irmão da Quitéria e a Maria Emília era meia-irmã, da parte da mãe, do Silvino Pereira, pai do Carlos Pereira, o Pipi, nascido em 1/05/1943, irmão de Maria Helena. Quando o Alvarinho do Bairro dos Corações, o Pau Preto, dono do barco Carau Carau, chegou à praia vestido com a t-shirt branca que ostentava a palavra “CHEFE” escrita a vermelho vivo, o Banheiro e o Cabo do Mar fizeram-lhe continência, sinal de que a máxima autoridade da zona era ele. Cumprimentou o Rato, o porteiro, que abria e fechava a zona, e que no século seguinte, já careca, iria pôr 3 filas de cabelo, com risco, mas como a colheita do médico Preto será no caniche do Conan, ficará com carapinha. O Alvarinho jogava hóquei, por isso apresentava-se todos os dias no clube com uma tanga azul, cor africana, besuntado com óleo Johnson e cabelo sempre seco para poupar na laca Elnett. Era vizinho da menina Regina, a única costureira da Costa do Estoril que morreu solteira e virgem, porque o amor da sua vida, o Sarapito, com quem ia muitas vezes à matiné no cinema, nunca ousou fazer-lhe o que fazia à preta do Marginalíssimo.

- Sou um príncipe para todas as jovens que procuram os meus serviços, - costumava dizer.

Mas havia uma coisa que o Sarapito não sabia, que o senhor António Marques Filipe, mais conhecido por Craveiro Lopes, viera de Aveiro, sem carta de condução, ao volante de um Ford Anglia 100 cinzento, modelo sem bicos de peixe, no mesmo dia em que a Quitéria Barbuda, que trabalhava no Couraça a descascar eucalipto, esteve para casar por procuração com um jovem que estava em Angola. As meninas de Paço de Arcos eram as mais felizes da Costa do Estoril. Os moços tinham a fama de trombeiros, por isso as moças de Oeiras e de Caxias andavam loucas. O cheiro da maresia da Praia Velha tanto se entranhou nos seus habitantes, que acabou por causar mutações genéticas: a língua do Sarapito tocava no nariz! O cargo de Chefe de Praia foi mais tarde entregue ao João da Esmeralda, sobrinho da D. Esmeralda de Silva Lopes, sobrinha do terceiro, e último, Patrão Lopes. Mais tarde as façanhas destes dois heróis da Praia de Paço de Arcos iriam ser tocadas ao piano por outro Lopes, o do J Pimenta, hoquista e professor da primária, que patinava muito direitinho, dando a sensação de ter um cabo de vassoura espetado pelo cu adentro, com os cabelos compridos que não conseguiam voar por serem alisados com azeite, incluindo a franja. Na Feira de Paço de Arcos a Mulher Serpente, que era bruxa nas horas vagas, viu-o numa bola de cristal:

- Vais aprender piano após os cinquenta, estou a ver-te a caminhar na Rua Lino de Assunção, com cabelo à professor Pardal, boina de artista, cachecol vermelho, mala a tiracolo, depois de teres jogado cartas na Sede do Clube e tido uma reunião com o Grilo e o Mário Jorge, mano do João Manuel da turma da Maré Mansa.

Quem andava à beira de um ataque de nervos era o Barbatolas, guarda-noturno da Avenida, que não deixava os putos andarem de bicicleta no jardim, nem jogarem à bola, correndo com eles à pedrada e aos tiros. Um grupo de rapazes contra-atacara e enchera a porta do coreto cheia de sacos de lixo. Mas os mitos da vila caiam como baralho de cartas, o Zé Luís afinal não era filho do Russo, era primo direito do Casemiro e irmão do Pedro Pescador, não o da Bíblia, mas irmão de uma rapariga que vivia no Largo dos Fornos em frente ao jardim.

A notícia do dia era a chegada da seleção de jovens que fingiam ser estudantes, vice-campeã de Andebol, de Bordéus, onde ganharam à equipa da casa, empataram com os Girondinnes e foram derrotados pelo Metz, que jogou com os seniores. O Careca foi expulso porque chamou “filho da puta” ao árbitro, descendente de portugueses, e o Zeca mostrou ser conhecedor da língua francesa na rua das putas:

- Cambien une fudeca?

16
Jul20

5ª Temporada - Os Pioneiros da Sustentabilidade (1)


Comandante Guélas

 

Pioneiros.jpg

 1

No Centro de Estudos Dr. João da Quinta, na Rua das Pias, Terrugem de Cima, paredes meias com a Universidade Dr. Ánhuca, um grande cientista expunha a sua teoria sobre como evitar a extinção da raça paçoarcoense ao Comandante Guélas, o Querido Líder da vila-Estado de Paço de Arcos:

- O conceito PMV, População Mínima Viável, diz que cada espécie tem o seu limite, o número mínimo de indivíduos necessários para prevenir a extinção. Para os humanos esse número é de 160. Cento e sessenta pessoas bem escolhidas só poderão ser paçoarcoenses, os genes mais evoluídos para salvar a espécie humana. Dou como exemplo os fabulosos manos Kiki e Marreco que nunca vão ao mesmo casamento porque só têm um fato, que é propriedade deste, que o comprou ao Bandeira, e uma camisa, do primeiro casamento, em que o Pierre Pomme-de-Terre esteve vestido com uma toalha de mesa a atirar queijos da serra para a mesa do presidente da ITT, que estava em amena cavaqueira com o Daniel José Martins “Di Aumeida”, a falar de política internacional. O meu plano é fazer um atentado tão grande de Litopone, que extinga de uma vez por todas o cancro do comunismo. Uma espécie de quimioterapia, rebenta com as metástases, sacrificando-se os outros, exceto os 160 eleitos.

E contou. Pretendia alugar o Peugeot BM-18-34 e motorista, em substituição do BU-13-78, que acabara de arrancar um poste na marginal no valor de 31 contos, cujo seguro só pagou 30, tendo a mãe do Conan Vargas pago os mil escudos restantes, cujos restos do bólide que acabara de sair do stand iriam ser vistos anos mais tarde numa pilha num ferro-velho em Beirolas. Para o lugar do morto contratara um paçoarcoense com currículo, o Pingamisú com a farda 3, porque era o único oficial de dia da vila que fizera um autoteste de álcool que acusara 2.8, quando se viu ao espelho e se apercebeu que queria matar uma melga com um míssil antiaéreo. Mas havia mais! Os investigadores da equipa do Dr. Bigas tinham descoberto que o tempo parara uma nanofração de segundo no dia do nascimento do senhor António Filipe, em 1918, em Aveiro, Requeixo, mais conhecido na vila como Craveiro Lopes. Como resultado a força das marés divergiu, sendo esta a explicação para os fenómenos de meteorologia intestinal do Focas, do Velhinho e do Graise. A notícia do dia falava da condenação do Sarapito, um fim de semana no Algarve com o Janeca, o cão com três patas, o Constante, numa viagem com o Milhas a guiar, janelas fechadas para poupar combustível, e o Rato no banco de trás, ao colo da enfermeira ucraniana, que lhe iria dar de mamar, e tudo isto porque ofendera gratuitamente um dos heróis da guerra da vila, o captor do social-fascista Bill, o capitão Fininho. A Ester e a Arlete confidenciaram que o Milhas, criado por elas juntamente com os irmãos, dizia que a qualidade dos genes dos Constante tinha acabado nele. A partir daí fora sempre a descer. O congresso acabou com as palavras sábias do João da Esmeralda, descendente dum herói de Paço de Arcos:

- Como paçoarcoenses somos poderosos. A forma como usamos esse poder, é uma escolha nossa. Como disse a grande Dra. Quitéria Barbuda, “Ontem é passado, o amanhã ainda não chegou, temos apenas o hoje. Por isso, vamos a isso!”.

Eram seis os ilustres descendentes do Patrão Lopes, em cuja base da estátua estava enterrado o cão mais famoso da vila, cujo nome tinha o seu apelido, e que se casara em primeiras núpcias com a Melita. Seis ilustres descendentes, a bisneta Esmeralda, o Vilas, o orador, o João Fiscalista, a Aninhas Carro Elétrico, casada com o Ruca do andebol, e a irmã dela, conhecidos como os “Patroleiros”, que se encarregavam de manter viva a memória do herói, contando diariamente no Coreto as aventuras do “Grande Timoneiro Paçoarcoense”.

- Os verdadeiros descendentes do Patrão Lopes vêem-se pelas orelhas, - dizia o Luís de Espanha, o maior especialista do patrão.

O João da Esmeralda por conseguir ficar mais preto que o Preto durante o verão, era sempre nomeado “cidadão fora do horário” (Chefe de Praia) pelo Querido Líder Chefe, para mostrar que o Guélanismo era amigo do multiculturalismo.

 

 

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