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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

31
Out20

5ª Temporada - Ractus Caninus Velhacus (7)


Comandante Guélas

 

Rato.jpg

7

O pânico estava instalado, na vila-Estado de Paço de Arcos tinha sido declarado o Estado de Sentado, por isso só se podia beber Sumol de Laranja, e à mesa. As palavras do cartaz pendurado no Coreto da Avenida, o Centro do País, eram ameaçadoras para o regime: QUAES CUNQUE FINDIT! E a primeira intervenção do Superintendente Narciso Sarapitola Figueiredo Baeta, “mas que cheiro a kona”, assustara o povo. Foram feitas detenções, o Comandante Guélas assinou uma resma de folhas A4, e a caça ao comuna foi imediata. O primeiro interrogatório, que decorreu no Chalé da Merda, envolveu o principal suspeito, o Bill, que passara de revolucionário a reacionário num abrir e fechar de olhos. A sessão ficou a cargo do astuto Chefe Bigodes, que no passado conduzira um acutilante interrogatório ao terrorista do MIRN, o fascista Carlos Ponta.

- Nome? – E esfregou-lhe as cuecas do Bajoulo na cabeça.

- Tóni Álvaro Jerónimo Barreirinhas Eufémia Canocha de Baleizão Silva Bilrero.

- Profissão?

- Conde Avante da Atalaia.

- Conde? Isso não é profissão!

- Faço foices e martelos!

- Onde estava ontem à noite? – E balançou uma meia do Ánhuca em frente do meliante.

- No cinema!

- E o que foi lá fazer? – Perguntou a raposa do deserto com um ar triunfante, sabendo que a verdade vinha aí, custasse o que custasse, já não tinha argumentos, o meliante iria confessar o crime.

Um muro de silêncio abateu-se sobre o prisioneiro, o ambiente era tenso, várias argolas de fumo foram atiradas com raiva sobre o conde, que temia agora pela sua saúde, principalmente a do cu, que continuava a ser do povo, o Querido Líder mantivera legal esta lei comunista. Abriu a boca, mas não saiu nenhum som.

- O que foi fazer ao cinema, senhor Tóni Álvaro Jerónimo Barreirinhas Eufémia Canocha de Baleizão Silva Bilrero, Conde Avante da Atalaia, fazedor de foices e martelos? – Gritou o Chefe Bigodes, especialista em conduzir interrogatórios a social-fascistas, esfregando as duas peças íntimas na cara do prisioneiro. – Fique sabendo que eu como criancinhas comunistas ao pequeno-almoço!

- Fui ver um filme! – Confessou o conde, sinal de que já não aguentava a pressão, com a língua salivada.

- Ok, pode ir!

A investigação estava num impasse, do alto da vila o Comandante Guélas, Querido Líder de Paço de Arcos, ameaçava arrasar com o Sul, torna-lo terra queimada. Do Superintendente só se ouvia “mas que cheiro a kona”, à medida que cheirava todos os cantos da vila-Estado. A resma de papéis com assinaturas em branco esgotou-se rapidamente, a população refugiou-se em casa. Até que o curso da operação levou um empurrão:

- Eu viu-o na penumbra quando estava a trabalhar na cave do Coreto, - disse a Dra. Espirro de Punheta, título académico ganho à conta das passagens administrativas da revolução de abril, por ela e pelo namorado da altura, o Pateta Alegre, que costumava papar as criadas do pai.

- Pode descrever o terrorista?

- Do meu tamanho, mas largo!

Foi de imediato feito um retrato robot e distribuído pelo reino do Comandante Guélas. Doze horas depois os filhos do Manelinho da Carroça entregaram um vizinho que condizia com a descrição, “do tamanho da Dra. Espirro de Punheta, mas mais largo”.

- Juro que não fiz nada, eu sou um paçoarcoense cumpridor, - gritava em desespero o Biblot.

Quando a testemunha foi colocada ao lado do suspeito, repararam que ele era ainda mais pequeno.

- Eu disse do meu tamanho, e mais largo. E lembrei-me que ele fazia mortais à frente no Pavilhão Desportivo nos saraus de ginástica. E tinha uma cauda!

- Uma cauda?

Quando o retrato robot de um cidadão paçoarcoense com cauda foi tornado público, ninguém teve dúvidas, todos entregaram o Rato às autoridades. Foi detido na sua nova loja, a “Ratatouille Clé”, denunciado pelo sócio Pierre Pomme-de-Terre, que lhe prometeu solidariedade:

- Vai descansado para a prisão que eu tomo conta do negócio!

Tudo foi esclarecido no Manuel da Leitaria, a cadeia principal do regime. O senhor Rato fizera publicidade à sua loja, e como andava a estudar latim, uma forma de esconder informação sigilosa do seu sócio, ao investigar “Ve-Re-Dic-To” descobriu o “Quas Cunque Findit”, que queria dizer “seja o que for abrimos”!  E quis dar um toque de modernidade à vila na publicidade do estabelecimento.

Mas os acontecimentos não paravam de pôr à prova o governo do Comandante Guélas: suspeitava-se agora que o Cuciolo tinha sido infetado com "Gnorreia" numa obra! E ainda por cima o médico da vila-Estado, o Dr. Cinzento, estava em parte incerta, como já era tradição. 

 

29
Out20

5ª Temporada - O Chefe da Praia (6)


Comandante Guélas

Bill.jpg

 

6

Quando a notícia chegou aos ouvidos do Comandante Guélas, o Querido Líder deixou escapar uma lágrima, e mandou pôr a bandeira da praia de Paço de Arcos, incluindo a azul, a de aviso de cagalhão, a meia haste.

- A morte dum Chefe de Praia é sempre um acontecimento doloroso na vila-Estado!

O Sarapito ajoelhou-se no passeio virado, sem saber, para Meca, e esmagou com a patela direita um croquete do Sinai, o cão do Milhas, o único animal da vila com um tufo no olho esquerdo, e chorou:

- Um bom homem, treinador das escolas de hóquei do Estado, casado com a praia de Paço de Arcos, da qual tinha as chaves do cinto de castidade.

Lembrou-se que durante a tropa o Chefe da Praia tinha sido feito prisioneiro pelos turras, e tornou a chorar:

- Foi onde perdeu os três!

Quem sabia toda esta desgraça da prisão era o Luís de Espanha, o 007 da vila-Estado, cargo que lhe fora atribuído pelo primeiro-Ministro e tio, o Isaltino, agora marquês do pombal do João da Quinta, onde o Todo Boneco costumava cagar, e o Bugio comer os feijões pretos descartados.

- Foi durante uma ronda, - e fungou de emoção. – Tinha um protocolo com os guardas fronteiriços do Congo, que o deixavam ir beber uns copos com os amigos ao estrangeiro, acordo este que era biunívoco.

Mas um dia um futuro militar de abril, o que costumava usar um fundo de garrafa a fazer de monóculo, o equivalente ao general Ánhuca do TSOR, Tribunal do Santo ofício da RIAPA, República Independente do Alto de Paço de Arcos, que anexou o Sul comunista, dominado pelo Bill e escumalha da foice e do martelo, resolveu dar um "Peido à Focas" nas matas da Guiné, que ecoou pelos coqueiros, assustando a macacada, levando ao fecho imediato de todas as fronteiras das sanzalas. O Chefe da Praia de Paço de Arcos estava no local errado e na hora errada, a comer amendoins e a beber umas imperiais, com as chaves no bolso. Foram arrecadados, e o herói da vila teve como carcereiro um Capitão Porão lá da zona, o King Konas, o bilas abafador da mata. Para que a praia continuasse a bombar, o Pirolito foi nomeado porteiro interino, e o comunista Bill proibido de cagar nela, por apoiar o Dembão e seus macacos:

- Nem mais um soldado para África! – Gritou em represália no cais da estação de paço de Arcos, quando sentiu a trepidação do rápido Lisboa-Cascais, aquele que dividiu em dois o primo surdo-mudo do João da Quinta que, usando a mesma lógica de utilizar a moeda de 5 escudos diretamente na ranhura do carrinho de choque, em vez de comprar duas fichas com ela, porque “só os estúpidos é que faziam isso”, justificava-se, foi a correr ao guiché fazer dois passes para o primo.

Com o Bill estava o camarada Titó a vender o “Avante” aos mais distraídos. Ainda a vila não recuperara desta perda, eis que apareceu no Coreto da Vila um cartaz ameaçador com palavras em latim: “quaes cunque findit”. Sentindo o seu poder ameaçado, o Comandante Guélas entregou a investigação ao Superintendente Narciso Sarapitola Figueiredo Baeta, um polícia com o faro aguçado que, quando chegou ao local do crime gritou:

- Mas que cheiro a kona!

07
Out20

5ª Temporada - As Miópias do Ar Quente (5)


Comandante Guélas

 

Paço de Arcos Charlot 1.jpg

 

5

Sempre que morria um “Grande Paçoarcoense” caia uma das pedras ebúrneas da Acrópole da Vila, o Chalé da Merda, e era declarado “cuecas a meia-haste”. Foi por tantos terem tombado de uma assentada que restaram poucos, obrigando o Querido Líder a declarar “Inverno de Malucos”, autorizando a construção da Tapada do Mocho, que se revelou um viveiro de figuras públicas. Adotou o Zoio do Pimenta, que se punha nu em frente ao café Picadilly e dizia ser irmão gémeo do Pingamisú, viu chegar das Províncias Ultramarinas o Ponto de Interrogação, mocado militante que andava sempre com uma viola e só tocava uma música, “wish you were here”, e tantos outros que a História da aviação não esquecerá. Mas quando os céus chamaram Daniel José Martins de Almeida estremeceram os colhões de toda a vila, das mulheres e dos homens, e na esperança coletiva ficou um vazio. Nesse dia o Comandante Guélas mandou um ex-comunista falar em Seu nome à vila. O Bill, que viveu com a Catarina Eufémia, e foi vítima de violência doméstica, ela arreava-lhe com o martelo, por isso “foi-ce”, e o cabo da GNR é que apanhou com as culpas, era agora um fervoroso anti maoísta, mudança concretizada no Campo de Reeducação “O Trabalho Anima”, na Terrugem de Cima, onde os casos difíceis eram sempre isolados numa cave com as cuecas do Bajoulo e as meias do Ánhuca, de onde só saiam depois de terem renegado a escumalha da UEC. Iria fazer mais um discurso ininteligível, característica principal deste paçoarcoense ambíguo, que marcava golos só na própria baliza.

- Perdemos hoje um grande herói, - principiou do cimo do depósito de água no Alto de Paço de Arcos. – Este nosso amigo recusou repoltrear-se no onanismo patriótico da vila comunista, tendo-se tornado mestre de si mesmo, errabundo, nunca sujou as mãos ao cagar, alçando-se no Olimpo da Vila com o seu nobre recacho poético, o “Eh Motorista”. A sua solidariedade era cálida, instintiva, adagial, por isso mordia no adversário sempre que defendia um amigo.

Para não perder o discurso, o Focas, que estava na primeira fila, tal como fizera uns anos antes numa praia em Sagres, junto a um casal de turistas que jogava raquetes à beira mar, abriu um buraco, baixou as calças e começou a defecar. Defecar? Não, o Focas não defecava, cagava, à grande e à francesa! Mais uma vez o Bill ficou a discursar sozinho, enquanto os amigos do Daniel relembravam os seus 40 anos, altura em que resolvera ir ao oftalmologista e saíra de lá com 14 dioptrias em cada olho, ganhando de imediato a alcunha de Clark Kent quando entrou no Bar “Cú à Vela”.

- Ar Quente? Será por causa das minhas miópias?

O Comandante Guélas, Querido Líder de Paço de Arcos, proclamou de imediato uma unidade de refracção exclusiva da vila, a Miópia.

- E não ficará apenas cingida aos olhos, a Miópia abrangerá todos os males da cabeça.

- Então o Milhas tem desde já 100 Miópias, - exclamou o Pontas, apontando para o vizinho, que ficou com as sobrancelhas oblíquas, sinal de indignação.

- Porque é que eu vim para este bar, - gritou o visado, correndo para a porta.

O Milhas era um filósofo da vila, autor da monumental obra paçoarcoense “Porque é que eu Vim para este Mundo?”, cujo equivalente espanhol se intitulava “Dom Quixote de la Mancha”, e contava a estória do Cavaleiro Constante e do seu fiel companheiro o Sinai, o único canídeo do mundo com um tufo num olho.

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