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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

29
Dez20

5ª Temporada - O Eclipse (12)


Comandante Guélas

 

Tolas Monas 1.jpg

12

No dia da homenagem aos homens da bola deu-se um novo milagre, um eclipse na praia velha, fenómeno que foi de novo oficialmente atribuído aos poderes sobrenaturais do Comandante Guélas, mas que teve uma mãozinha de um jovem promissor gordo de óculos, Tino para os amigos, Isaltino para o Querido Líder, que se revia no petiz e lhe prometia um futuro radioso como Comandante Guélas II, o Papoila Saltitante. Para isso o Tino contratara o Tolas Monas para passar junto da Praia Velha no seu Austin Healey na altura do Ocaso do Sol. Quando a fabulosa cabeça, digna de subir ao palco no espetáculo anual da Feira de Nosso Senhor dos Navegantes de Miss Eunízia, Misionisia para os mais íntimos que, segundo o seu agente Pierre Pomme-de-Terre, se alimentava de coelhos vivos de quinze em quinze dias, e que nas noites de Lua Cheia se transformava na “Mulher Cabeça”, e nas de Quarto Minguante em “Mulher Serpente, tapou o Astro-Rei, uma assustadora sombra projetou-se sobre o areal, ouvindo-se um grito assustador:

- Vêm aí os comunistas!

- Calma, calma, é só fumaça, - gritou o jovem Tino, estrategicamente colocado no telhado da barraca dos gelados.

E foi sombra de pouca duração. Meio minuto depois o Tolas Monas arrancou no seu IF-82-28 e o Sol radioso aqueceu de novo os corações dos paçoarcoenses.

- Que se inicie a festa da bola, - ordenou o Luís de Espanha, futuro sobrinho do Papoila Saltitante.

Portugal tinha o Eusébio, Paço de Arcos o Pingamissú. Ambos tinham vindo de África, o preto viera comer marisco, tremoços, o branco levara cartão vermelho, e era agora recebido na Portela pelo Preto, sinal de que o Comandante Guélas escrevia sempre direito por linhas tortas. O Pingamissú depressa se revelou um mestre artístico e espiritual na arte de dominar as bolas, era um orgulhoso e inspirado futebolista autodidata, que estagiava sempre nas Termas dos Cucos, perto de Torres Vedras. A dona Maria dos Prazeres, senhora de um conhecimento profundo da estância, ainda se lembrava da jovem promessa do Futebol P.A.:

- Vinha para aqui gente de todo o lado e não havia ninguém que não saísse melhor do que quando entrava, exceto esse jogador mítico da Costa do Estoril, - disse um dia, com uma voz embargada pela emoção.

Era a tristeza de uma septuagenária a quem lhe fora retirado um bem imaterial para a sua vida. Dizia a biografia oficial que o Pingamissú nascera algures no século XX, em Maquela do Zombo, e emigrou aos 10 anos para a ilha do Cabo, em Luanda, onde deu nas vistas um dia no mundo futebolístico da zona, dominando os cocos como ninguém. Para quem nunca acreditou nas qualidades deste jogador mestiço da Tapada do mocho, nenhuma palavra bastava; e para quem acreditava, como o Milhas, nenhuma palavra era necessária. Quando todos pensavam que o francês Jacome Ratton era um antepassado do jogador de chuteiras verde alface, com genética aborígene, eis que a verdade foi revelada, o parente afinal era o Pingamissú. O segredo dos autogolos do Bill, um jogador com sangue Numídio, estava no treino, porque só o fazia em ambiente pinus canariensis, por isso o Milhas, com genética berbere, nunca aceitava essa libertinagem futebolística do colega de partido da mulher:

- Vê lá se marcas na baliza certa, - gritava o dono do Sinai, um canis tufu constanti, lançando brados estridentes, numa orgia de infelicidade. – Porque é que eu vim para o Lagoas Parque?

19
Dez20

5ª Temporada - O Porco Chileno (11)


Comandante Guélas

Porco 1.jpg

11

 - Ouçam com atenção! Preparem-se! Alinhem-se! Sejam rápidos! – Gritou o Milhas para a equipa “Restaurante os Arcos”, patrocinada pelo pai da sua musa Huga Huga Lagosta.

- Sim! – Responderam os amigos em coro.

- E tu és o míster, tens prática em lidar com adolescentes, - disse, apontando para o Capitão Porão.

Foi num campo impróprio até para a plantação de tubérculos que o Porco Chileno deu nas vistas neste embrião do Futebol PA. Eram 11H30 quando o treinador deu início ao trabalhos marcados para as 8H30, de uma equipa que iria ficar para sempre na memória coletiva do Torneio de Futebol de Salão do Jota Pimenta, cujas redes foram defendidas pelo lendário Daniel Martins de Almeida que, no primeiro jogo, fez greve após o décimo golo sofrido, pois 2 dos 5 jogadores ainda continuavam a beber bejecas no balcão do café, virando-se de costas, altura em que executou três das mais fabulosas defesas de todos os tempos, fazendo inveja ao Yashin comuna, tendo sido advertido pelo árbitro de que as regras não permitiam estar nessa posição. O “Restaurante os Arcos” não tinha culpa de ter um guarda redes com menos dioptrias no olho do cu. E foi também neste torneio que o Chinoca, o Son paçoarcoense, fintou as regras que proibiam a bola de subir para além da altura do joelho, ao fazer bater o esférico no teto do pavilhão Desportivo de Paço de Arcos. O campo de treinos, além de lavrado, tinha uma inclinação de 80º, precipitava-se em direção às Pias da Terrugem de Cima, onde a Quitéria lavava a roupa e a patareca, por isso o míster Porão trazia um treino adaptado às circunstâncias, desenhado com linhas coloridas numa folha A4, presa a uma capa em pele de jacaré preto, um fetiche que este capitão da 5ª divisão trouxera de Cabinda.

- Eu quero empenho, dei a cara por vocês, - pediu o Milhas já com as sobrancelhas oblíquas devido ao início tardio do treino. – Temos de fazer boa figura no torneio.

No treino ainda faltava um elemento, o Caveirinha, e o magnata tornou a lamentar-se:

- Porque é que eu vim para este mundo?

Mas os céus estavam com o Constante, e puseram no caminho dos atletas um sobrinho da Ofélia, um jovem gordinho e atarracado, que foi interceptado pelo Focas:

- Jovem, queres ter futuro na bola?

- Eu tenho de ir almoçar, a minha tia espera-me!

- Treinas primeiro, e ficas com um apetite de leão.

- Mas eu não posso.

Não teve tempo para dizer mais nada, o míster Capitão Porão deu ordens para iniciarem o treino, um jogo formal num campo lavrado e com uma inclinação de 80º. O Focas deu um biqueiro na bola, e ela desapareceu pela colina abaixo, dando de imediato ordens ao estrangeiro:

- Corre Porco Chileno!

O sobrinho da professora de português do Liceu Nacional de Oeiras  sprintou lá para os lados das Pias da Terrugem de Cima, atrás de um esférico e nunca mais apareceu. O Futebol PA acabara de perder o seu Maradona e nem se apercebera. Foi o treino mais rápido de toda a história futebolística da Costa do Estoril, e o único da equipa sensação do Torneio de Futebol de Salão do Jota Pimenta.

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