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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

15
Mai21

6ª Temporada - Os Encavados do Potenkim (3)


Comandante Guélas

Potemkin.jpg

3 

O Janeca acordou ao som do “É Motorista”, abriu um olho, os beiços gordos da amante evidenciaram-se, e empurrou a prima bigodes dos Ratos para o lado. Os poucos neurónios que resistiram aos produtos do Grilo e do Alice reagiram, viu-se envolto por um vento e uma tempestade, não do domínio do ar, mas da pandeireta da musa, e gritou nervoso:

- Epá querida, pareces o Focas!

Mas a música erudita paçoarcoense continuou imparável a bombar dentro do seu coco. O “É Motorista” sobrepunha-se aos outros géneros musicais que o Janeca ainda conservava numa memória carunchosa algures nas profundezas da sua massa gelatinosa forrada de caliça. Reparou então que o som vinha da praceta, não que o Taka Takata estivesse a dançar na rua ao som da música do Bob Marley, mas sim dos “Estúdios Jomarte”, onde o Zé do Fotógrafo estava a redecorar a montra, a tirar a sua foto com hastes de veado, homenagem do Sarapito, depois deste ter visto o Fice a provar a sua noiva, a Mula do Ártico, pondo no lugar um cartaz da nova superprodução daquele espaço comercial: “Os Encavados do Potenkim”. O Edmar, primo do Titó Canocha, era tão comuna que tinha batizado a sua chata com o nome do couraçado russo. No dia D, no desembarque dos libertadores do Norte, ficou encurralado ao largo da Praia Velha, na companhia do primo e dum jovem da UEC, o Bill. Por isso, nos 47 anos da anexação de Paço de Arcos Sul pela República Independente do Alto de Paço de Arcos, o Comandante Guélas ordenou aos “Estúdios Jomarte, a Hollywood da zona, a rodagem de um filme, que mostrasse à juventude como é que pensavam os jovens extremistas da esquerda nos anos setenta. A cultura da vila de Paço de Arcos tinha vários nomes, Animatógrafo, Valentim de Carvalho, Cine Chaplin e Jomarte. Quando o produtor Bigornas, o Spielberg da Costa do Estoril, anunciou o filme, a Califórnia assustou-se. Para a história do cinema ficara a célebre superprodução “O Eletricista”, que fizera tremer “O Mecânico” do Charles Bronson, nome adotado mais tarde pelo Conan Vargas. A fama da Jomarte chegava até ao Jota Pimenta, as suas fotos para os passes da Linha do Estoril eram famosas, o Bigornas era um artista sensível e platónico, um Sísifo paçoarcoense que passava os dias a transportar uma bilha de gás para a casa de uma adolescente alemã, vizinha da Lena Lentes, a sua musa inspiradora, tal como fora Gala para o pintor catalão Dalí. O maior motociclista de todos os tempos, Mac Macléu Ferreira, tinha o quarto forrado de fotos de passe da sua amada, uma espécie de Taj Mahal. Após ter comprado a fotocopiadora mais moderna da vila-Estado, o Bigornas tornou-se no cineasta paçoarcoense do novo regime. Na Cultura, Paço de Arcos somava e seguia, em 1851 na Grande Exposição de Londres fora exibido o maior diamante, o Ko-i-Noor, a Montanha de Luz, pertença das Joias da Coroa, em 1975 na Grande Exposição do Chalé da Merda foi exibida a pedra preciosa da vila-Estado de Paço de Arcos, o Ku-du-Focas, o maior cagalhão fossilizado do mundo, encontrado num dos vidros do restaurante do senhor Xantola. O possante regime do Comandante Guélas substituíra o decrépito Império Britânico, o olfato subjugara a visão. E foi neste ambiente de festa que os “Estúdios Jomarte” apresentaram no Cine Chaplin os “Os Encavados do Potenkim”, uma estória que contava a libertação de três adolescentes, um preso nas garras do regime social-fascista derrotado, os outros dois escravos do amor. Uma das sequências mais paradigmáticas leva-nos ao início do filme, onde vemos uma fila a perder de vista de clientes à porta de um fotógrafo, enquanto o dono degusta nos bastidores, não a sua namorada “Bratwurst”, mas sim um “Tio patinhas”, e esta personagem xamânica só irá para o balcão, em estado letárgico, quando acabar o livro, ou seja, no fim do filme. Até lá um loirinho caixa-de-óculos entra num quarto forrado de fotografias de passe de uma adolescente também com óculos e grita:

- Abaixo a Lentes, fascismo romântico nunca mais!

Segue-se outro adolescente em crise, um caixa-de-óculos gordo, com um brilho possessivo nos seus olhos porcinos, atira uma bilha de gás pelas escadas de uma vivenda e berra:

- Kica nunca mais, - levantando a mão gorda de dedos curtos e rebolando os seus quadris apertados, acabando com vários anos de tirania, desde que uma alemã o conquistara com o bafo da “Bratwwurst” do vizinho.

01
Mai21

6ª Temporada - Operação "Dr. Bayard" (2)


Comandante Guélas

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 2

O dia era feriado, o país parara, todos os paçoarcoenses tinham um rádio colado ao ouvido, a Seleção Nacional de Futebol ia defrontar a equipa comunista de Porto Salvo. Ouviu-se um “clic”, o Choné encaixara o joelho com a ajuda do Bill, um jogador que por mais talento que tivesse, satisfazia-se com a sombras dos camaradas.

A conceituada leiloeira Pierre Pomme-de-Terre iria leiloar um óleo sobre papel com poema, atribuído ao Zé Maria Pincél Souza Cardoso, intitulado “Ventos Divinos”:

“Será o vento / que sai do cu do Focas / aquele que sopra nos ramos floridos? / O mesmo vento, dois cus divinos diferentes!

O Pirilampo do CineTeatro encostou o rádio com força na orelha, e viu todo a jogada. O Bill apanhou a bola, enxotou o Zé de Porto Salvo, escorraçou o Curtis, bailou com o esférico girando o corpo 90º, mantendo um equilíbrio difícil sobre o pé esquerdo, embrulhou o braço direito sobre o pescoço, abriu a boca, os olhos saíram das órbitas e o golo foi gritado, ou melhor, o autogolo, o Bill acabara de monopolizar o placar, e destruir minuciosa e sadicamente a defesa da sua equipa. Toda a cena foi sentida na parte Norte pelo Ánhuca, na altura em que desencaixara da Franginhas, a ovelha por quem estava perdidamente apaixonado, e ouvira alguém gritar “golo”. Fora o Grilo na copa de uma oliveira, levado por uma moca causada pela erva do Alice, o irmão retornado, e adotado, do Jorginho. De cada vez que saía ranho da cobra o Ánhuca alucinava, por isso quando olhou para cima viu um punk com uma túnica branca e cabelos compridos:

- A tua cara não me é estranha, - disse.

O Comandante Guélas tinha razão quando dissera que o mundo era finito, exceto Paço de Arcos. Havia sempre um Bill e um Ánhuca imortais em cada esquina. Após a unificação de Paço de Arcos o Ratinho Blanco, “mulherengo de blazer e camisa aberta com tufo de pelo que guiava um cabriolet usado emprestado pelo Pierre Pomme de Terre que nunca pagou enquanto tocava Direstraits”, por cagar calhaus, foi nomeado pelo Querido Líder o Geógrafo Oficial do Reino, tendo sido encarregue de expandir a vila, porque todo o povo com dotes civilizacionais superiores precisa de um vasto espaço físico para o seu pleno desenvolvimento. A conquista desse espaço vital dependia de quão longe os paçoarcoenses pudessem arrear os calhaus. E foi nesta área que se destacou o Focas, o equivalente ao Afonso Henriques do país ao lado. Cagou longe, à grande e à francesa! Os seus cagalhões passaram a ter uma influência emocional, intelectual e ideológica sobre o povo, cujo líder passou a ter no gabinete um mapa com as localizações dos cagalhões do Focas. O Pontas, também conhecido por “Il Puttino” (o Menininho) pelo Capitão Porão, era o mestre de xadrez da vila a seguir ao Cenoura histérico, por isso o militar de abril abriu um dia os cordões à bolsa e tirou de lá um tabuleiro de bolso, em vez do bilhar, que era exclusivo do Chinês que morava lá para os lados do matadouro. O Pontas foi o rei dos 64 quadrados, os seus cavalos não davam descanso às éguas da vila, o Tino dizia que era “um dos primeiros problemistas de xadrez da Costa do Estoril”, criador de situações complicadas sobre o tabuleiro, como a célebre “Abertura dos Quatro Cavalos Pontudos”. Até que um dia surpreendeu com o “Gambito do Comandante Guélas”!

- Inspirei-me no Chinês do Matadouro, que dava sempre xeque-mate à rainha à canzana, tendo vomitado para as suas costas várias vezes!

O Bajoulo assistia sempre a tudo isto, por isso sonhava ser um erudito, entrar na Academia Paçoarcoense Professor Coelho, mas o seu vício na cevada e na sua musa, por esta ordem, Sagres e Tita dos Pés Sujos, empurrou-o para a espionagem, onde se apresentava sempre como um “voivoda” da Porcalhota. A filha do Xantola trocou-o mais tarde pelo Mijão Magoo! Foi com a “Operação Spectrum”, fantasma, sob o comando do detetive Narciso Sarapitola Figueiredo Baeta, mais conhecido como o Caça Ratas, que nasceu a investigação criminal em Paço de Arcos. E tudo começou quando ele cheirou um rebuçado Dr. Bayard:

- Mas que cheiro a Kona!

No Manuel da Leitaria vendiam o produto ilícito, e este tinha sido trazido por uma mula de Porto Salvo. Mas qual? Abriu o dossier, cheirou a coleção de higiénicos personalizados e deu o veredito:

- Espirro de Punheta!

A primeira escuta foi efetuada pelo agente Caveirinha no café “Piccadilly”, um diálogo entre um jovem chinês e um homem de pera e bigode:

- Bichão, dá-me as chaves do ninho, hoje vou papar uma cabrita. Só regressas a casa quando eu puser um lençol branco à janela. Percebeste? Senão não há Bayard para ninguém!

A investigação apontava o Olho Vivo, proprietário da maior empresa da vila-Estado de Paço de Arcos, a Couraça, que tinha uma logística gigantesca, por isso deu trabalho a muita gente, tendo-se destacado a Dr. Quitéria Barbuda na descasca do eucalipto. No meio fabril destacaram-se muitas mulas que distribuíam o produto pelos quatro cantos do país. Mas um dia associaram-se a um empresário de sucesso, só comparável ao Vale Azevedo de Portugal: Pierre Pomme-de-Terre!

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