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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

31
Ago21

6ª Temporada - Easy Riders (6)


Comandante Guélas

Motas.jpg

6

O maior motociclista de todos os tempos na vila-Estado tinha um nome, Mac Macléu Ferreira, por isso a toponímia recordava-o para memória futura: Avenida Mac Lula, Praceta do Ferreira, Rua Macléu, Largo do Caixa de Óculos Loirinho. Mas na Terrugem de Cima, junto ao Beco das Pias, havia a Praceta do BigMac, cuja legenda dizia “só eu sei conduzir em duas rodas”. E o que conta a Verdadeira História de Paço de Arcos sobre esta personagem que dizia viver no Poço do Inferno? Classificava-o como o Arsène Lupin da Costa do Estoril e arredores. E foi por causa de um encontro do terceiro grau em 1975, trauma que nunca conseguiu superar, numa noite muito escura junto ao Luz Bay Club, que o pescador Tóni Monga se apresentou em 2007 na esquadra de Lagos a dizer que tinha visto a Maddie:

- A miúda ia enrolada num dos colchões azuis que o futuro pai do Maninho Ensina levava debaixo dos braços. Mas mesmo encadeado por um projetor, ainda lhe vi os pés tipicamente ingleses! Passaram por mim à velocidade do som, ouvi o barulho ensurdecedor dum peido, numa Hércules 50, que só podia estar a ser conduzida por um profissional. E deixaram cair uma garrafa da UCAL, de chocolate, nada mais!

O Todo Boneco também tinha fama, não nas duas rodas, mas no uso das duas bolas. Era o predador de sopeiras com calipígia mais elegante e digno da vila-Estado de Paço de Arcos, comia exatamente o necessário, nem mais nem menos.

- Uma pandeireta por dia dá tesão e fá-los encher!

A Hércules do Necas, tripulada pelo Focas, que levava o Caveirinha à pendura, tinha acabado a viagem num cruzamento em Santo Amaro de Oeiras, contra um Peugeot 504.

- Vi dois imberbes a voar à frente do meu para-brisas, - declarou o velho às autoridades, que o prenderam por “alucinação alcoólica”, uma nova lei do Chefe Bigodes.

O problema do momento era a praga de Mobylettes e afins na vila-Estado, que comprometia o trânsito:

- Demoro uma eternidade a ir do Manuel da Leitaria à Avenida, - queixou-se o Professor Coelho às autoridades, olhando para o Olho Vivo montado na sua Maxi-Puch azul pipi, seguido pela do Chinês, sem pedais e com escape de rendimento, da futurista Sachs 2 do Monhé e da Honda do Pilas.

Foi na tarde de um sábado solarengo que o Choné arrancou do café Piccadilly na sua Cabalero Amarela de 50 cm3 com 6 velocidades, mais não foi longe, junto ao café Yolanda, na outra ponta da praceta, marrou na frente esquerda de um Datsun 1200, voando por cima do capot, em cuja queda deixou um tufo de cabelos no alcatrão. A assistir à cena estava o Filho do Presidente, o BigMac e o Manuel Elétrico, que comentou:

- A andares assim de mota vais chegar aos quarenta careca!

Foi de imediato sancionado com um estalo pelo BigMac:

- Não te admito que desejes que o meu amigo Choné chegue à meia-idade coxo e careca, ó Rabinho dos Bosques!

Meia-hora antes, ainda com o Choné na esplanada, o Manel Elétrico dera show ao tentar arrumar o carro junto à drogaria:

- Pôr a marcha-atrás com a manivela das mudanças enfiada no cu não deve dar muito jeito, - exclamara o Filho do Presidente.

Mas a notícia principal da Voz de Paço de Arcos foi dada em julho de 1975, quatro easy riders de 50 cm3 e de nacionalidade paçoarcoense, a caminho do Algarve, com tendas e mochilas. A entrada no cacilheiro do Cais do Sodré não passou despercebida, o Primo João Choné numa Casal 5, o Jorge LC montado numa Sachs 5, o BigMac na sua Casal 5 e o Choné na famosa Cabalero. O itinerário levou-os até Santa Margarida do Sado, onde desviaram para Alvalade em direção ao Cercal. A ponte de Vila Nova de Milfontes foi depois construída à pressa, porque o Comandante Guélas ameaçou conquistar a zona caso os seus easy riders não tivessem a vida facilitada no ano seguinte. Ainda foram obrigados a dormir num saco-cama no meio de um pinhal cheio de mosquitos, papel higiénico, camisas de vénus e cagalhões, e comerem salsichas com pão. Acordaram com o sol a queimar-lhes os corpos, tenrinhos para o Rabinho dos Bosques, que seria depois reforçado pelo Capitão Porão, tomaram café no Cercal e arrancaram para Odemira. Na hora de almoço pararam na bomba de gasolina do Rogil, a 30 quilómetros de Lagos. E eis que 3 GNR entraram no café armados em autoridade e perguntaram:

- De quem são aquelas motas que estão ali fora?

- São nossas, - respondeu o Choné levantando o braço.

- Documentos!

Vivia-se num tempo em que os chuis podiam roubar à fartazana, por isso um deles meteu os livretes no bolso e ordenou:

- Venham até à esquadra de Aljezur, atrás do jipe!

Pararam na rampa que subia para a igreja e foram convidados a entrar para duas celas gradeadas, com vista para o casario. O da Cabalero e o da Sachs 5 numa, os das Casais noutra. E quando o interrogatório começou ouviram o barulho de uma Honda 50 e viram a silhueta de papagaio do condutor, mas mal sabiam que era o Bacaus, um paçoarcoense que todos  os verões rumava a Lagos com a promessa de ir “foder à cagão”. Iriam ficar com os restos!

O dia acabou na vila-Estado de Paço de Arcos, o Graise dera boleia ao Peidão na sua Maxi-Puch, ambos com as cabecinhas ao léu, e na rua Lino de Assunção, em direção ao Matadouro, foram detetados por dois cabeças de giz que lhes deram ordem para parar. O condutor simulou não ter os travões adequados para parquear onde os chuis tinham indicado, simulou que estava a travar também com os pés, mas quando passou pela autoridade acelerou. No seu encalço foi um agente a espumar da boca, de braço esticado a aproximar-se do Peidão, que lhe fazia manguitos encorajadores, mas felizmente o peidociclo atingiu a velocidade máxima e deixou o perseguidor para trás!

25
Ago21

6ª Temporada - A Cessação (5)


Comandante Guélas

Comandante Guélas.jpg

5

Por vezes certas decisões levam a consequências desastrosas, diz a Lei do Caos. O Luís de Espanha não queria acreditar nas notícias. Por causa de ter ignorado as queixas do Milhas relacionadas com o muro do vizinho, o irmão Janeca acabara de declarar a independência da varanda da casa da mãe, e proclamara o “Califado dos Constantes”, com o Emir Al-Beduíno como líder:

- O meu mano Zé tem direito a um muro novo, o Luís de Espanha é um infiel!

E hasteou umas cuecas brancas com rabiscos ilegíveis.

- Viva o Al-Beduíno, - gritou um velho assinando como Bill Laden.

E o Janeca agradeceu-lhe dando-lhe uma província, o vigésimo esquerdo extremo da varanda.

- É maior do que o meu apartamento aqui em Macau. Obrigado camarada Ai-a-Tola Janeca!

A reunião do Conselho de Estado Paçoarcoense foi de imediato marcada, porque alguém ousara desafiar a integridade territorial do paraíso do Comandante Guélas, Paço de Arcos.

- O Emir Al-Beduíno ameaça soltar o Mário Pitrolino na Avenida, se o arquiteto não resolver o problema do muro do Milhas!

- Mário Pitrolino?

Ninguém sabia quem era Mário Pitrolino, nem mesmo o TSOR, Tribunal do Santo Ofício da República Independente do Alto de Paço de Arcos, serviços secretos da vila-Estado.

- Será um bombista suicida? – Perguntou o sempre atento Dr. Ánhuca, o sábio do Querido Líder.

- A resposta está no apelido Pitrolino, - exclamou o agente Sarapito, com nome de código Caça-Ratas! – “Pitrolino” é um nome de código para juntar num mesmo sítio todos aqueles que pensam diferente uns dos outros: Grilo, Taka Takata, Janeca, Milhas, 7 Solas, Chato Louco e Febras.

- Mas isso é uma bomba atómica, - interrompeu o Craveiro Lopes, dando um murro na mesa.

- Temos de atuar antes que ele encha a varanda, é assim que se dá cabo das pragas, - retorquiu o tenente Proveta.

- Só não compreendo a atitude do Bill, - disse o senhor Laranjão, deixando cair uma lágrima de desilusão. – Não aprendeu nada no Futebol PA. Até já declarou um novo Acordo Ortográfico, vendido pelo Pierre Pomme-de-Terre, ao Janeca.

- É uma vingança contra o Comandante Guélas, ele nunca lhe perdoou a destruição do Farol do Socialismo, a parte de baixo da vila, - exclamou o Zé Maria Pincél, diretor das Tintas Macaca.

- Já substituiu o nome Peidão por Albufeiro! – Avisou o Pontas, a Edite Estrela da vila-Estado. – Todas as revoluções começam pela língua!

- Para a varanda, e em força! – Ordenou o Querido Líder.

11
Ago21

6ª Temporada - Notícias de Paço de Arcos (4)


Comandante Guélas

Tareco.jpg

 

4

“Inúmeros são do mundo as maravilhas, mas nenhuma que aos paçoarcoenses se compare” –Poeta Fernindó 1975 d.C.

A notícia do dia era a vitória da seleção de Andebol da República Independente do Alto de Paço de Arcos no Campeonato do Mundo em Portalegre no ano de 1981. Por isso na primeira página de todos os jornais aparecia a fotografia dos heróis, Pontas, Woodstock, Tareco e Branco, que iria forrar os quartos de todas as fêmeas da região, e o do Capitão Porão. Na última página era divulgado um segredo de estado, cada flato do Focas deixava vestígios do elemento 115 nas paredes próximas.

- Ooooolha ooo rááápido – gritou o Frederico para o primo surdo mudo do João da Quinta.

Mas ele não ouviu e por isso o Zé dos Porquinhos, irmão do João da Quinta, passou a ter dois primos surdos mudos.

- Ó Baptista …. Dá aí um cigarrinho!

O Bill também queria ser como o Frederico, jornaleiro, mas enganou-se a preencher os papéis e ficou jornalista. Quando o Luís de Espanha puxou pela bandeira a estátua ao “Frederico dos Jornais”, ficou à vista de todos, no Parque dos Artistas na Terrugem de Cima, a zona nobre da República Independente do Alto de Paço de Arcos, que se estendia a toda a vila-Estado, uma obra do Querido Líder, o Comandante Guélas. Dois dos presentes soltaram lágrimas, o Rato e o Tóni Ramos, descendentes diretos do ardina mais famoso da vila. Mas havia outra verdade que ninguém sabia, o Frederico tinha vindo com o EBE, mais tarde capturado nos EUA, segundo contara o Frank Moka, dum planeta no Sistema Solar Zeta Reticuli. Nas paredes da vila vários cartazes anunciavam o Congresso no Centro Cultural de Paço de Arcos, o Chalé da Merda, “Os 60 anos do Milhas”, cuja organização era da responsabilidade da Edite Estrela da República Independente de Paço de Arcos, o senhor Pontas.

- O verdadeiro nome do Constante é Kangi Shunka Manitu, que significa Milhas Beduíno Azias, - principiou o Corretor Oficial do Querido Líder.

O Milhas descendia de uma família tradicional de curandeiros e dançarinos-fantasmas. Aos 19 anos foi iniciado pela galega Huga Huga Lagosta, tendo tido a sua “busca de visão”, um rito de passagem, através da perseguição de uma Lua Cheia na praia das Maçãs com um mar de inverno que o tentava catar, gritando para a noite o nome do seu crustáceo.

- Lembro-me, como se fosse hoje, da grande epifania do kangi, - disse o orador, limpando uma lágrima ao canto do olho. – Vi-o a orar, ao mesmo tempo que apanhava com a maresia na cara. Tinha deixado a minha Orca e o meu mano Caveirinha dentro do VW, e o Peidão fora na sua Suzuki T-250 que ia ser rebocada até Paço de Arcos.

Mas os espíritos nunca iluminaram o pobre Sunka, fugiam dele como o Diabo da Cruz, e o infeliz queixava-se:

- Porque é que eu vim para este mundo?

Tentou então unir os clãs da “Reserva de Genes”, os Ratinhos Blancos, os Cambeiros, os Monhés, para todos defenderem os seus direitos de “Clãs Eleitos pela Genética”, por isso organizou a marcha “Trilha dos Paçoarcoenses de Sangue Azul”, uma marcha que percorreu o país de costa a costa, e que terminou com o seu acidente de mota no Jota pimenta:

- Nunca mais foi o mesmo, - continuou o Pontas com a voz embargada de sumo de cevada. – Teve um azar do caraças, ganhou a lotaria e nunca mais recuperou da tragédia. Cada toque que lhe davam ficava meia-hora a olhar para a cicatriz da perna. Mas lembro-me que, no dia da Lua Cheia escreveu na areia o mais extraordinário poema de amor, “Tenho-te comparado / Ó minha amada / À pura égua da carroça do Manelinho!”.

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