7
A morte do médico José Lourenço da Luz Gomes em Paço de Arcos no ano de 1882, iria ter influência, 93 anos depois, na criação do TSOR, Tribunal do Santo Ofício da República Independente do Alto de Paço de Arcos. Por isso na vila-Estado o carteiro tocava sempre duas vezes na casa dos 10 irmãos, “o paraíso na Terra”, e mais tarde para o Capitão Porão:
-Curtis!
O Alpedrinha era um paçoarcoense que, quando ouvia os amigos, o fazia com um lápis na mão porque, dizia, “podia dizer melhor enquanto o Todo Língua tinha um nome que se confundia com a voz”. O Comandante Guélas aproveitou-se destes talentos naturais e criou uma agência de segurança, o TSOR, Tribunal do Santo Ofício da República Independente do Alto de Paço de Arcos (RIAPA), de quem os barbeiros da vila passaram a fazer parte, como informadores. E a técnica usada era a Frenologia, que detetava o estado político do cliente através da palpação da mona. O senhor Bandeira foi o primeiro a percorrer lentamente a topografia dum cliente, o Tolas Monas, com os seus dedos e a palma das mãos, e no final do dia entregou um relatório ao TSOR, onde dizia que “a união dos ossos do crânio na parte superior da cabeça era ligeiramente proeminente, sinal de confabulador persistente”. O paçoarcoense dizia-se possuidor de várias licenciaturas, que o possibilitavam trabalhar em todas as profissões da vila-Estado e arredores. Mais tarde o Zézito, que namorou em adolescente com um rapaz de Paço de Arcos, imitou-o quando chegou ao governo de Portugal, o país ao lado. Mas o barbeiro queixou-se de que perdera muita clientela nesse dia por causa da dimensão descomunal da cabeça, por isso debitou na conta o equivalente a cinco clientes. Outro agente, o João Balão, olhou o Pierre-Pomme-de-Terre nos olhos antes de avançar com a tesoura em direção à franja, e notou uma depressão no lobo parietal esquerdo, sinal de estar em presença de um “cleptoparasita por afinidade”, tendo notado o desaparecimento do seu cachucho de oiro ao final do dia. Meia Paço de Arcos, e o peditório da Cruz Vermelha, iriam sentir o efeito da cabeça deste Vale e Azevedo paçoarcoense. E um dia trouxe um amigo francês, “um conde” apresentou-o levantando-lhe a mão e mostrando o seu anel de sinete, que seria entregue ao fim da tarde na ourivesaria do Carvalho, o recetador dos famosos e fanhosos. Mas o sinete ficou lá pouco tempo, o conde foi busca-lo no dia seguinte, deixando uma carrada de chumbos na perna do empresário. O franciú chamava-se Xavier Dupont de Ligonnés, e mal o barbeiro colocou as mãos na sua cabecinha queimou-as, e gritou, “este vai aviar, mais dia menos dia, a família, incluindo os cães”. Quem analisou a nuca do Ánhuca foi o Palitó, a segunda vítima do “cleptoparasita por afinidade”, que lhe vendeu uma caçadeira com os canos tortos, alegando ser para abater coelhos nas curvas. Detetou um alto no cocuruto do cliente, sinal de ser um “violador compulsivo de ovelhas”. Por isso na Terrugem de Cima os vizinhos foram avisados para pastarem presencialmente os seus animais. A vítima acabou por ser a Farrusca, a cadela do Milhas, que estava em fuga do Janeca que queria fumar-lhe os pelos da cauda, cujos filhos nasceram com tufos nos olhos e orelhas de burro, como o cão do Zé Maria Pincél. Na vila-Estado o único verdadeiro lúbrico da Costa do Estoril era o Ginja, tinha uma parceria com uma garoupa, a Sapo, que o avisava quando um cardume de patarecas entrava na vila. Adorava pastoreá-las com o seu cacete, mas antes disso ia sempre arranjar a popa ao barbeiro mais perto. E um dia quando o agente Bandeira pôs as mãos na sua cabecinha notou logo estar na presença de um paçoarcoense lascivo, um cobridor, que encheu de orgulho o Querido Líder:
- Precisamos de gente com estes genes!
A Ordem da Jarreteira, cujo símbolo é uma liga azul sobre um fundo dourado, e tudo graças ao Eduardo III de Inglaterra, um rebarbado, que um dia foi gozado num baile ao apanhar a liga da amante e que disse:
- “Aqueles que se riem agora com malícia ficarão um dia profundamente orgulhosos de poderem usar um símbolo como este”.
Há uma equivalente no reino do Comandante Guélas, a Ordem do Grande Bajoulo, cujo símbolo são umas cuecas de buda amareladas sobre um fundo também ele dourado, simbolizando a peça de roupa íntima que o meio alemão meio paçoarcoense se esqueceu no jardim da casa do pai do Sarapito. Quando o Bandeira passeou as mãos pela cabeleira do irmão do Bakau, que ia sempre no verão na sua Honda 50 para o Algarve “foder à cagão”, ficou com os dedos cheios de borgalhotas. A nuca do Bill era ardente, indicação de ser um “perigoso comuna”, o seu processo foi para a gaveta dos social-fascistas da UEC, e condenado a jogar no Futebol PA, um campo de reeducação famoso!