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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

03
Mar18

2ª Temporada - As Grandes Esponjas Paçoarcoenses (15)


Comandante Guélas

 

 

Bêbado.jpg

15

Um paçoarcoense não era homem antes de se ter embebedado. Por isso o Velhinho e muitos amigos atingiram precocemente a maioridade. Entre eles e o álcool havia uma intimidade de amantes, capazes de dizer um ao outro o que lhes ia na alma inquieta pela secura. O zénite foi atingido pelo Bajoulo, que fugiu com uma grade de loiras, abandonando a Tita dos Pés Sujos. O Caveirinha chegou a ser recusado ser salvo pelos bombeiros, tendo sido arrastado numa porta pelo Velhinho e pelo Pilas, até à casa do primeiro, onde a Tia Zita o trouxe de novo à vida com um chazinho.

Mas era numa classificativa do Rali de Portugal, a Peninha à Noite, onde os paçoarcoenses soltavam todos os demónios. Após o bólide ser engolido pela noite cerrada, depois de se ter tornado dia por breves segundos, e o seu ruído ensurdecedor obrigado os demónios a fugirem assustados, tudo voltava a cair na escuridão da Peninha. Era nestas alturas que a festa retornava à estrada. O Chinoca, o acólito mais alcoólico da vila, sobrevoou o povo na sua liana, mas o grito tornou-se aflitivo quando ela se partiu logo a seguir a ter atingido a vertical do alcatrão, obrigando o selvagem a uma aterragem forçada, e de costas.

- Se não o tirarmos dali vamos levá-lo para casa em forma de tapete oriental, - disse o Olho Vivo, com uma vista no chinês e a outra no decote duma desconhecida, iluminado pela lanterna do Cociolo.

Bastou passar o gargalo da garrafa de cachaça pelas suas narinas para que ele recuperasse o bom senso, e corresse apressado para o seu garrafão, que o aguardava em cima do barranco. O chinês tinha ficado desidratado com a queda. Quando já se ouvia ao longe o roncar de mais um bólide, eis que outro artista aparece no palco, fazendo questão de presentear o público com uma pega de caras. Tinha feito mal os cálculos e acabou por ser atirado à valeta, não com o impacto, mas sim com a deslocação do ar. O Peidão aproveitou mais esta pausa para tentar entrar em contacto com o Zé Pincel via Walkie–Talky, que tinha ficado na base a guardar os “peidociclos”.

- Pincel, aqui Peidão, escuto!- Rrrrrr…rrrrr.- Pincel…estás a ouvir-me?

- Rrrr…dão..ou…tomar uns copos.

- …copos???...Guarda o aparelho no bolso..

- Rrrrrr.

Finda a comunicação, mais duas horas de prova. Depois foi a terrível descida. O Mac Macléu Ferreira estava mais para lá do que para cá e o seu peso era incomportável para os corpos franzinos dos amigos. A opção foi deixá-lo a dormir na vala e ir buscar uma mota. Quando chegaram à base foram recebidos por um Zé Pincel com o capacete integral na cabeça e em estado etilizado que nem lhe permitia conhecer os amigos, muito menos o paradeiro do aparelho. Desapareceu na escuridão e só ouviram algum tempo depois o motor da sua Zundapp, em alta rotação, a desaparecer na noite fria e escura. A estrada foi aberta ao público e os únicos a subirem foram os de Paço de Arcos. O Mac Macléu Ferreira só foi descoberto meia-hora depois, após difíceis buscas ao longo da valeta.

- Ficou sem cara, - gritou o Zé do Fotógrafo, ex- cozinheiro-comando, irmão do Bigornas, gerente da mais importante loja de fotografias da vila de Paço de Arcos, a Jomarte, “onde a sua cara de cu fica uma obra de arte”.

O mistério esclareceu-se quando olharam melhor para o adolescente caixa-de-óculos loirinho. A cara estava tapada pelo jantar, que tinha saído sem pedir licença. Veio à boleia do condutor mais sóbrio do grupo, o Velhinho, que o levou de imediato para o Hospital de Cascais, porque necessitava urgentemente de assistência. O Mac Macléu Ferreira teve direito a uma unidade, enquanto que o seu motorista Velhinho, o sóbrio, gramou com duas doses de glicose. Entretanto na serra procedia-se a outra busca, o Walkie–Talky do Peidão. A sorte estava do lado dos bons. Um elemento do grupo que pernoitava alinhadinho debaixo de uma árvore contou-lhes que umas horas antes tinham sido atacados por um desconhecido, que lhes dissera ser lutador de Karaté e quisera praticar com eles a arte milenar.

- Tivemos de nos defender daquele louco, que para o Karaté não parecia ser dotado, acabando por tentar acertar-nos com este rádio.

O Zé Pincel apareceu no dia seguinte com a cara toda inchada e o capacete sem um risco e, segundo explicou, tivera um acidente de mota. Quanto ao Mac, o Velhinho contou que o tinha levado a casa, aberto a porta e perguntado se estava bem:

- Estou rijo, - e avançou, batendo com a cabeça na parede, com tanta força, que a mãe acordou.

O motorista pirou-se, pois não queria que o vissem sóbrio, dava mau aspeto. Naquela noite o Pegador, um forcado que costumava fazer pegas aos carros, optara pela CP, contou o proprietário do barco de nome “Carau Carau”. O Raigta Aganhe, também conhecido por Manolo e Chouriço, que era o homem das finanças, e que após a revolução do Comandante Guélas se intelectualizou, começando a falar inglês e a pintar quadros, e que era visto diariamente a falar com o Testas, durante o percurso entre a Couraça e o centro da vila Estado, e que os comunas diziam ser da PIDE, também confirmou o incidente do paçoarcoense alcoolizado com o rápido para Cascais.

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