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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

05
Mai18

2ª Temporada - Nascimento de um Mito (24)


Comandante Guélas

Cociollo.JPG

24

As Fontainhas eram o equivalente paçoarcoense da Gronelândia, havia bacalhau para todos os paus. O pescador mais habilitado era o Todo Boneco, que costumava encurralar o pescado com a sua pressão de ar, aproveitando para saciar a cana. O peixe oficial de Paço de Arcos era o “bobó”, que tinha nevroses e uma espécie de geleia, de gordura, muito apreciada pelo Capitão Porão e amigas, que tinham uma produtividade fantástica. O “peixe bobó” era fácil de agradar, muito abundante, ficaram famosas as pescarias na casa do Tio Kiki. Por isso o Comandante Guélas olhou orgulhoso para o “Electrogumitário” (https://pacoarcosverdadeirahistoria.blogs.sapo.pt/2a-temporada-o-electrogumitario-5508), e leu em voz alta:

- “Charlot, Jó Jó Obélix, Nógá, Zézinho Circunferência, Xarotas, 7 Solas, Bagacinho, 7 Camadas, Varetas, 7 Escadas, Pívias, Serapitola, Cuzinho, Zé Boga, Esgravulha, Graise, Broa, Tareco, Peidão, Tubarão, Febras, Focas, Gigante, Vítor Calmeirão, Espirro de Punheta, Sapo, Baleia Azul, Taka Takata, Grilo, Rofe, Velhinho, Pilas, Zé Cagalhão, Bacalhau, Cavalo Malandro, Pé de Cabra, Pipi, Pernas de Alicate, Silva Americano, Ligóia, Chato Louco, Titi Man, Jorge Tremelias, Baí, 33,  Balatuca, Bizóito, Baiona, Búzio, Bolinhas, Ánhuca, Barlatotas, Alvarinho, Labumba, Marques Capitão, General Bidon, James Bomba, Octanas, Pinga Azeite, Menino Artur, Alfredo Carinhas, Ferramenta, Pitinha, Manel Ceguinho, Chora na Penca, Calhéu, Fritz Moca, Vítor Enfraquecido, Piquinhas, Boca Negra, Balacó, Chico Mata Cães (Raita Ganho ou Breque Te Afasta), Fufa, Henrique da Rebelva (ou Carau Carau), Pápa Borrachas, Casal Garcia, Pontas, Carinha da Avó, Caretas, Vaca Prenhe, Pirolito,  Anilhas Carro Elétrico, Catatau, Xarotas, Dic, Choné, Álhi, Bil, Biblot, Jaquim Jaquim, Espalha, Pica, Ginja, Girino, Volkswagen, Zé Maria Pincél, Caferial, Coquicha, Varetas Siririco, Jim Boy 1, Jim Boy 2, Mocho, Bacáus, Anita Carapita Sardinha Frita, Vaginas, Júlio Caguiné, Caguetas, Ben-Hur, Olívia Palito, Sóni, Manelito do Estrume, Lucinda Careca, Sagui, Proveta, Pilas. Pinguim, Pingalim, Carlos da Leiteira, Cara de Apito, Menino Élinho, Menino Ni (ou Niganan), Crespa, Marimaroca, Criolina, Branca de Neve, Terra à Vista, Berinjela, 21, Montanelas, 110, Metropolitano, Caguiné, Moedinha, João Pé Leve, Espia Feia, Bezelina, Kid Aromas, Kit, Bexigas, Alpedrinha, Cociolo”. Há-de haver mais, o mural de Paço de Arcos há-de um dia ultrapassar o dos combatentes portugueses mortos pelos turras amigos dos comunas! Mas ele tinha ido às Fontainhas para decidir de uma vez por todas quais os dois paçoarcoenses que tinham tido mais dificuldade em ultrapassar a adolescência.

- Foram o Alpedrinha e o Cocciolo, - informou a Espirro de Punheta, agora Psicóloga encartada pela Universidade da Terrugem de Cima, Dr. Ánhuca!

- Portugal tem o “Processo de Bolonha”, Paço de Arcos o “Processo do Isaltino”! – Declarou aquele que tinha derrotado o Bill, agora reconvertido em chefe da Falange Paçoarcoense.

O Comandante Guélas ficou então a saber pela Dra. Marimaroca, assessora da Dra. Espirro de Punheta, que a adolescência em Paço de Arcos era o dobro da do resto do Mundo, por isso um período difícil, que se complicara, tal como num parto, para dois paçoarcoenses do “Electrogumitário”: o Alpedrinha e o Cocciolo! Comecemos pelo primeiro. Entrava sempre apressado no Pica, o equivalente paçoarcoense do coelho da Alice no País das Maravilhas, e sentava-se com ruído. Em Paço de Arcos este tipo de comportamentos não eram muito aconselháveis. Todos ficaram a olhar para ele, e repararam que vinha munido com um caderno e uma caneta. Ter-se-ia tornado um poeta? Não, porque versos nem vê-los, apesar de ser parecido com aquele maluco que dava pelo nome de Fernando, e que estava a dar cabo das notas a todos os estudantes presentes.

- Deve ter queimado os fusíveis, – disse o Graise, rindo-se para trás.

Do estado letárgico o Alpedrinha passou para um estado alucinado, passando a olhar fixamente, com os olhos esbugalhados, para o autor da graçola. Quando tudo parecia estar perdido, abriu o caderno, tirou a caneta da orelha e gritou:

- Vou registar o teu comentário!

Já havia tema para o serão!

- O Alpedrinha passou-se, – rematou o Proveta.

Novo registo: “o Alpedrinha passou-se”.

- Estás pior que o Milhas, – exclamou o Velhinho.

Mais do mesmo: “está pior que o Milhas”.

Quando a semana chegou ao fim, o caderno do Alpedrinha já estava quase a acabar e ele ameaçava com outro. Passemos agora ao segundo adolescente, o Cocciolo, que teve imensas dificuldades em ultrapassar esta fase, tendo ficado com sequelas graves para toda a vida. A novidade foi dada pelo Monhé numa noite de verão: o Cocciolo fora visto pelo Júlio Caguiné no ferro velho a comprar dois “chaços”! E o negócio tinha sido tão bom para o sucateiro, que ele tinha dado por encerrado o dia de trabalho e levara a família a jantar no “Tino”. Contra todas as expetativas, conseguira vender aquelas bicicletas com os motores pendurados, que davam mau aspecto à sucata. Ganhara o dinheiro da venda e das apostas que fizera com os amigos.

- E ameaçou que vai pô-las a funcionar, – explicou o Monhé.

A procissão dessa noite só teve um sentido, a garagem da casa onde vivia o Cocciolo. Todos queriam ver ao vivo as relíquias, agora tornadas as mais famosas de Paço de Arcos.

- E eu que pensava que nada conseguiria suplantar a mota do primo mudo do João da Quinta, que ficou debaixo do rápido na semana passada, – exclamou o Proveta.

O Cocciolo deixou de ser visto na parte debaixo da vila durante as semanas seguintes, e mesmo a sua querida, a Madame Campos, acabou por ficar com ciúmes. Estava tão obcecado pelas duas beldades, que mal comia e dormia. Até que um dia anunciou ao Querido Líder que os “chaços” com motor auxiliar estavam aptos a funcionar. Foi mais uma vez o Monhé que se cruzou com ele a comprar gasolina ao James Bomba. Foi informado que o acontecimento, o equivalente ao da Passarola do século dezoito, estava marcado para uma tarde do século vinte.

- É o nosso Cocciolo de Gusmão, - disse orgulhoso o Comandante Guélas, apalpando os entrefolhos da Dra. Bezelina.

Estes comportamentos do Querido Líder foram uma bíblia para o adolescente Isaltino, que prometeu a si próprio que iria ser líder duma câmara municipal de Portugal, e encher o seu gabinete de assessoras e vereadoras disponíveis.

- Madalena, tu irás ser a minha Lucinda Careca, - prometeu à amiga, já nesta altura para todo o serviço.

Ainda o Cocciolo não tinha acabado o almoço quando o seu irmão, o Olho Vivo, espreitou através da janela e viu uma multidão junto à porta do jardim. Ninguém queria perder pitada da cena do “pegamento”! O Cocciolo arriscava-se a ser um fenómeno, não do Entroncamento, mas da Parte de Cima de Paço de Arcos. A madame Campos estava tão orgulhosa do seu namorado, que resolveu trazer um vestido com rosas vermelhas, sinal de um grande amor.

Às três horas da tarde de um dia de Verão do Ano da Graça de 1975, as portas da garagem abriram-se com estrondo perante a multidão estupefacta, e de lá saíram dois potentes “chaços” recauchutados, que foram colocados na via pública. Atrás dos “peidociclos”, e devidamente equipado com um capacete estilo penico, comprado na Maria das Bicicletas, vinha o herói do momento, o “Grande Cocciolo”, preparado para bater a barreira do som ao volante de uma das Bicicletas com Motor Auxiliar que descobrira dentro da capoeira de um ferro-velho junto à passagem de nível. Quando deu uma pedalada e acionou a maneta do compressor, a mota deu um “raté” que se ouviu por toda a vila, e fez com que todos olhassem para o Graise, para confirmarem que aquele barulho tinha vindo da máquina infernal do Cocciolo. À vigésima tentativa deu-se o milagre. Uma das relíquias do Cocciolo começou a roncar, de tal maneira que o povo fugiu em debandada, não fosse o “peidociclo” rebentar e Paço de Arcos ficasse reduzida a metade. Até a madame Campos trepou para o cimo da colina não deixando, no entanto, de gritar pelo seu herói. Como a rua era a descer, bastou o motorista largar o travão para a “Cocciolo” começar a movimentar-se, sendo acompanhada por uma multidão em êxtase. Mas algo estava para acontecer. Foi quando o Cocciolo resolveu regressar à garagem, e isso significou obrigar a máquina a esforçar-se na subida. Ouviu-se um estrondo e o herói desapareceu no meio de uma nuvem de fumo. Foi a partir desta data que se iniciaram os problemas do Cociolo com o Tendão de Aquiles.

 

Fim da Segunda Temporada

 

 

 

 

 

 

 

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