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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

06
Jan18

2ª Temporada - O Pulsar da Vila (7)


Comandante Guélas

 

PA fotos.jpg

Episódio 7

Paço de Arcos era a Meca dos Malucos, por isso o conceito de “normalidade” diferia do resto de Portugal. Na agência do BES em Paço de Arcos, que transformara muitos pescadores em doutores, o empresário do salão de jogos do Centro Comercial Áries, o senhor Pio, entregava ao caixa Zézito Circunferência, Almôndega de Bigode para os amigos e Laranjina C para os íntimos, um saco de moedas de cinco tostões marteladas.

- A rapaziada consegue assim equipará-las às moedas de cinco escudos, e as máquinas aceitam-nas.

Era a prova de que os genes do Alves dos Reis faziam parte do código genético dos paçoarcoenses. Na noite anterior algo de grave acontecera na casa do Bakaus durante uma das inúmeras festas: durante uma quebra de luz a lâmpada ultravioleta que ele gamara a uma das máquinas do Pio, fora roubada!

- Ninguém sai daqui, - gritou o DJ com cara de papagaio, bloqueando a saída. – Vai haver revista, um de nós é um larápio!

Novo apagão, mas desta vez da responsabilidade da mãe, que lá de casa avisava que já estava na altura de terminar o evento. O Caveirinha gritou indignado:

- Abre essa merda, Getrudes!

Quando a iluminação voltou, o dono porteiro apercebeu-se que os dançarinos tinham aproveitado a ocasião para se servirem de borla no bar, montado no anexo em baixo. O desaparecimento da ultravioleta tornou-se um mistério, e nasceu o mito, que apontava o dedo ao Zé do Fotógrafo porque a melhoria na qualidade das fotos da Jomarte para os passes mensais na Linha do Estoril melhorou substancialmente, deixando os dentes dos clientes mais brancos.

Como o Comandante Guélas era um admirador confesso da rainha Isabel II (“faz-me lembrar a Quitéria Barbuda do Craveiro Lopes” – dizia frequentemente), fez da Avenida o seu Hyde Park, e do Coreto o Speakers’ Corner. O espaço estava neste dia ocupado pelo Jó Jó Obélix, que fazia uma demonstração da arte de jogar à bola com limões, ao mesmo tempo que discursava para a multidão:

- E se viessem os índios? Vocês não estão bem a ver, se vierem os índios? Como é? Estamos preparados para eles? Desafio 3 para 3 no Largo da Sede Social do CDPA. Ganha quem meter o limão dentro da sala!

No Pombalino o Rebelo matava a sede, há já várias horas, embalado pelo ralenti da sua mota que o esperava na rua:

- Esta máquina veio do México!

Só se distraiu quando a Piranha, a rapariga de pescoço torto que morava no prédio do Bolinhas, passou airosa na rua, junto à Maria das Bicicletas, que estava a mudar o óleo ao Cabrita atrás da bancada, acompanhada pelas suas amigas, a Tita dos Pés Sujos, a Odete Estica, a Branca de Neve, a Terra à Vista e a Berinjela.

- Levava-as todas na minha mota ao Baile da Couve, - desabafou ao 7 Solas, o amigo da perna curta.

O Bagacinho riu-se, não por gostar de meio-gordo branco, mas por ter sempre a ponta do nariz vermelha e levemente abatatada. O 7 Camadas um portosalvense com seis camadas de estupidez e uma de merda, ajavardou:

- Espera aí que já cospes!

Nessa noite o sapateiro com perna de pau, responsável pela boys band mais famosa da vila, o “Carlos Ribeiro mais 4”, iria esgalhar na festa do Mercado de Oeiras, e uma semana depois na Festa do Cachucho no mercado de Paço de Arcos. O Siririco, o dono retornado do Cine Teatro, arrasava a concorrência com um filme do Bruce Lee.

- Este não vou perder, - disse ao Menino Élinho o Zé Boga, irmão do Menino Ni (ou Niganan), que sonhava ser comandante de um barco em Porto Santo, mesmo tendo uns glóbulos oculares estilo camaleão.

 

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