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República Independente do Alto de Paço de Arcos

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

Toda a zona ocidental da Península Ibérica está ocupada pelos portugueses…toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis paçoarcoenses conseguiu a sua independência 19 meses depois do 25 de abril de 1974!

República Independente do Alto de Paço de Arcos

07
Out20

5ª Temporada - As Miópias do Ar Quente (5)


Comandante Guélas

 

Paço de Arcos Charlot 1.jpg

 

5

Sempre que morria um “Grande Paçoarcoense” caia uma das pedras ebúrneas da Acrópole da Vila, o Chalé da Merda, e era declarado “cuecas a meia-haste”. Foi por tantos terem tombado de uma assentada que restaram poucos, obrigando o Querido Líder a declarar “Inverno de Malucos”, autorizando a construção da Tapada do Mocho, que se revelou um viveiro de figuras públicas. Adotou o Zoio do Pimenta, que se punha nu em frente ao café Picadilly e dizia ser irmão gémeo do Pingamisú, viu chegar das Províncias Ultramarinas o Ponto de Interrogação, mocado militante que andava sempre com uma viola e só tocava uma música, “wish you were here”, e tantos outros que a História da aviação não esquecerá. Mas quando os céus chamaram Daniel José Martins de Almeida estremeceram os colhões de toda a vila, das mulheres e dos homens, e na esperança coletiva ficou um vazio. Nesse dia o Comandante Guélas mandou um ex-comunista falar em Seu nome à vila. O Bill, que viveu com a Catarina Eufémia, e foi vítima de violência doméstica, ela arreava-lhe com o martelo, por isso “foi-ce”, e o cabo da GNR é que apanhou com as culpas, era agora um fervoroso anti maoísta, mudança concretizada no Campo de Reeducação “O Trabalho Anima”, na Terrugem de Cima, onde os casos difíceis eram sempre isolados numa cave com as cuecas do Bajoulo e as meias do Ánhuca, de onde só saiam depois de terem renegado a escumalha da UEC. Iria fazer mais um discurso ininteligível, característica principal deste paçoarcoense ambíguo, que marcava golos só na própria baliza.

- Perdemos hoje um grande herói, - principiou do cimo do depósito de água no Alto de Paço de Arcos. – Este nosso amigo recusou repoltrear-se no onanismo patriótico da vila comunista, tendo-se tornado mestre de si mesmo, errabundo, nunca sujou as mãos ao cagar, alçando-se no Olimpo da Vila com o seu nobre recacho poético, o “Eh Motorista”. A sua solidariedade era cálida, instintiva, adagial, por isso mordia no adversário sempre que defendia um amigo.

Para não perder o discurso, o Focas, que estava na primeira fila, tal como fizera uns anos antes numa praia em Sagres, junto a um casal de turistas que jogava raquetes à beira mar, abriu um buraco, baixou as calças e começou a defecar. Defecar? Não, o Focas não defecava, cagava, à grande e à francesa! Mais uma vez o Bill ficou a discursar sozinho, enquanto os amigos do Daniel relembravam os seus 40 anos, altura em que resolvera ir ao oftalmologista e saíra de lá com 14 dioptrias em cada olho, ganhando de imediato a alcunha de Clark Kent quando entrou no Bar “Cú à Vela”.

- Ar Quente? Será por causa das minhas miópias?

O Comandante Guélas, Querido Líder de Paço de Arcos, proclamou de imediato uma unidade de refracção exclusiva da vila, a Miópia.

- E não ficará apenas cingida aos olhos, a Miópia abrangerá todos os males da cabeça.

- Então o Milhas tem desde já 100 Miópias, - exclamou o Pontas, apontando para o vizinho, que ficou com as sobrancelhas oblíquas, sinal de indignação.

- Porque é que eu vim para este bar, - gritou o visado, correndo para a porta.

O Milhas era um filósofo da vila, autor da monumental obra paçoarcoense “Porque é que eu Vim para este Mundo?”, cujo equivalente espanhol se intitulava “Dom Quixote de la Mancha”, e contava a estória do Cavaleiro Constante e do seu fiel companheiro o Sinai, o único canídeo do mundo com um tufo num olho.

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